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Saúde

Artrite reumatóide é um sofrimento diário

23-08-2010

A impossibilidade de realizar tarefas tão básicas como levantar-se pela manhã, escovar os dentes, abrir um vidro de conserva, acompanham boa parte dos portadores de artrite reumatóide.

Artrite reumatóide é um sofrimento diário

23-08-2010

A impossibilidade de realizar tarefas tão básicas como levantar-se pela manhã, escovar os dentes, abrir um vidro de conserva, acompanham boa parte dos portadores de artrite reumatóide.

A inflamação e a deterioração provocada nas articulações por essa doença auto-imune trazem graves consequências à qualidade de vida dos pacientes.

Aqueles que padecem - na sua maioria as mulheres -estão expostas a uma perda progressiva da capacidade funcional, que implica em um aumento considerável nos casos de mortalidade.

Além disso, a progressão da doença dificulta os movimentos e afeta diretamente a qualidade de vida das pessoas acometidas.

A psicóloga e terapeuta Lenice Pimentel compara as vítimas da artrite reumatóide aos pássaros domésticos: são tímidos e quietos. "A dor de não poder ser livre está presente no discurso desses pacientes. No retorcido das juntas, na infinidade de medicamentos, na dor que se alonga e causa sofrimento, e no sentimento de inutilidade", enumera a especialista.

Apesar de não ser percebida como uma doença exclusivamente feminina, ela ataca devastadoramente três vezes mais mulheres do que homens. "No começo, sentia muitas dores nas juntas. Passei por momentos terríveis. Fiquei revoltada e não aceitava a situação", desabava a dona de casa S. R. C. de 36 anos, que há três anos "descobriu" a doença.

Familiares sofrem

O diagnóstico das doenças reumáticas pode ter um impacto muito negativo na vida familiar, dentre os relatos mais comuns estão casos de desesperança e de descrédito no futuro.

Geralmente, após o diagnóstico da doença, os familiares mais próximos não só têm de aprender novas habilidades para prestar cuidados físicos ao paciente, mas também se veem obrigados a ajustar atitudes, emoções, estilo de vida e rotina.

Quase três quartos das mulheres diagnosticadas com artrite reumatóide sofrem com dores diárias, apesar do fato de 75% delas receberem medicamentos para alívio da dor.

Os números são de um estudo inglês apresentado durante o Congresso Anual da Liga Européia Contra o Reumatismo. Os dados coletados pelos pesquisadores abrangem mulheres de sete países: Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha, Estados Unidos e Canadá.

Os resultados dessas pesquisas servem de alerta para os profissionais de saúde. "Apenas uma equipe multidisciplinar de atendimento é capaz de suprir todas as necessidades do paciente com artrite reumatóide e sua família", defende reumatologista Sergio Bontempi Lanzotti.

Manejo clínico

Perto de 30 mil mulheres com idades entre 25 e 65 anos (média de 46 anos) foram recrutadas para o estudo por meio de um painel de pesquisas on-line, dos quais 1.958 foram elegíveis para análise do preenchimento do questionário.

Destas, 75% tinham sido diagnosticadas com artrite reumatóide por mais de um ano. A pesquisa destacou também o impacto emocional, social e físico da artrite reumatóide na vida dessas pacientes.

As participantes do estudo relataram que sofrem muito com a doença, além das dores físicas, foram relatados sentimentos de distanciamento e isolamento. Conforme o reumatologista, os dados confirmam que a dor física é a questão primordial para as mulheres com artrite reumatóide, mas a doença as atinge mais profundamente, afetando o seu bem-estar físico, social e emocional.

O trabalho destaca a complexidade do tratamento destas pacientes. "É um processo que vai além do controle dos sintomas ou do alívio da dor", admite Sergio Lanzotti.

A adoção de estratégias de tratamento para reduzir a dor, restabelecer a produtividade no trabalho e de gestão do impacto social da artrite reumatóide é de grande importância no manejo clínico desses pacientes.

"O estudo aprofundado do impacto negativo da doença e da dor sobre a produtividade laboral das entrevistadas revelou que 71% das entrevistadas se consideravam menos produtivas por causa da artrite reumatóide", destaca Sérgio Lanzotti.

Outros impactos revelados pelo estudo, em longo prazo, ocorrem na vida profissional das pacientes. Entre aquelas que participaram da pesquisa, 23% pararam de trabalhar e 17% informaram uma redução na jornada de trabalho.

Transtornos em diversas frentes

* Emocionais: de uma maneira geral, os familiares expressaram uma tristeza imensa e uma perda de significado "no conceito de futuro", tanto em relação a si mesmos, quanto em relação ao familiar doente.

* De adaptação: vários entrevistados disseram esperar uma cura para a doença. No entanto, após um tempo maior de diagnóstico, os familiares reconhecem que a pessoa afetada e eles mesmos continuarão a conviver com a artrite, durante toda a vida do paciente.

* De enfrentamento: os familiares relataram sentimentos de rejeição, desamparo e ocultação, tanto da condição de saúde do familiar doente, quanto dos impactos que a doença provocou ao relacionamento familiar.

* De falta de apoio e informação: a maioria dos entrevistados revelou-se relutante em participar de um grupo de apoio específico sobre a doença, apesar de reconhecerem sua importância.

Relações íntimas prejudicadas

* 40% das mulheres solteiras afirmaram que é mais difícil encontrar um parceiro

* 22% das entrevistadas divorciadas ou separadas afirmaram que de alguma forma, a artrite reumatóide teve um papel na sua decisão de se separar de seu parceiro

* 68% das mulheres com artrite reumatóide relatam esconder sua dor dos mais próximos

* 67% disseram que estão constantemente a procurar de novas "idéias" ou "alternativas" para amenizar ou acabar com a dor que sentem.