Sabado às 23 de Novembro de 2024 às 06:32:37
Saúde

Mal de Alzheimer

27-07-2010

No começo os esquecimentos são pequenos: será que já almocei? Como é mesmo o nome daquele sobrinho? Mas depois de um tempo as confusões aumentam.

Mal de Alzheimer

27-07-2010

No começo os esquecimentos são pequenos: será que já almocei? Como é mesmo o nome daquele sobrinho? Mas depois de um tempo as confusões aumentam e todas as lembranças se apagam, as datas especiais, os filhos, as atividades rotineiras do dia a dia.
    Maria Sueli Vaz da Silva conta que o Mal de Alzheimer foi descoberto em sua mãe Catharina, há três anos, e desde então ela e sua irmã Marilva se revezam nos cuidados. Segundo Maria Sueli, sua mãe começou a esquecer coisas recentes, o dia da semana e também os parentes mais distantes. "Ela se recorda apenas do início do casamento, mas viveu 55 anos com o meu pai".     Mesmo com muitos esquecimentos, a doença não está em um estágio avançado, proporcionando grandes períodos de lucidez e não necessitando de cuidados extremos.
    Chatarina, de 83 anos, é viúva e tem três filhos. Segundo ela, não há como explicar o que sente: "Não é uma dor, é apenas uma sensação estranha, uma confusão na cabeça", afirma ela, que não é a única na família a sofrer com a doença, a mesma que anteriormente atingiu seu pai e dois irmãos.
    Alguns cuidados básicos são tomados para evitar problemas e acidentes, como deixar o remédio fora do seu alcance e o gás da cozinha sempre desligado. "Ela não se recorda se já tomou seu remédio ou se almoçou, e na dúvida acaba repetindo a ação", afirma Sueli, que comenta ainda que há poucas semanas outro cuidado tornou-se necessário: tirar a chave das portas de acesso à rua.
    Recentemente, quando estava na casa de sua filha Marilva, Catharina acordou durante a noite e saiu de camisola, andando sem rumo pela cidade. Felizmente ela foi resgatada por guardas municipais que estranharam o seu comportamento. "Eles a levaram ao Centro Médico e, posteriormente, ela lembrou seu nome e sobrenome, o que possibilitou encontrar o número de telefone da família", relembra Sueli. Até hoje, ela não sabe explicar por qual motivo saiu à noite. Para evitar sofrimento devido aos esquecimentos, a família busca dar carinho e explicar que ela não tem culpa, que estes são sintomas da doença.
    Sueli afirma que mesmo com as dificuldades, recorrer a uma clínica de repouso está fora de cogitação e que cuidará da mãe independente do avanço da doença.     "Procuro não pensar no futuro e me apego aos pensamentos positivos, acreditando que ela não ficará agressiva ou totalmente dependente, mas se isso ocorrer cuidarei dela mesmo assim, afinal ela é minha mãe. Já falei para o meu marido se alguém tiver que sair, sai ele, porque ela fica".
    A geriatra, Valderez Parolin Teixeira, explica que qualquer pessoa está sujeita a desenvolver o Mal de Alzheimer e que os estudos ainda não comprovaram o que desencadeia o problema. "Quando há histórico na família devemos ficar atentos, embora isso não signifique o aparecimento na pessoa", explica ela.
    A doença vai se desenvolvendo com o tempo e atinge, na maioria das vezes, pessoas acima de 65 anos, tornando-se cada vez mais frequente à medida que a idade aumenta. De acordo com Valderez, a atrofia e a diminuição do volume cerebral colaboram para o avanço. Alguns sintomas como a perda do olfato e da memória recente, alteração de personalidade e irritabilidade são comuns e alertam para a necessidade de procurar um especialista, geriatra ou neurologista.
    Assim como afirmou ao padre no dia do seu casamento, João Stocco, de 80 anos, permanece na saúde e na doença com sua esposa, Cecy Olina, de 82 anos, que sofre de Mal de Alzheimer. A família já sabia sobre o problema de saúde, mas foi em uma viagem à Santa Catarina, há três anos, que ele percebeu o agravamento da doença. "Ela entrou no banheiro e ao se ver no espelho ficou confusa, depois na hora do almoço, pegou duas vezes os talheres", lembra ele.
    Durante um período, Dona Lula, como é conhecida, fugiu várias vezes de casa e certa vez foi encontrada no Botiatuva, sem se lembrar de nada. Atualmente, ela não reconhece ninguém, nem mesmo os filhos e o marido e não tem consciência do que faz. Não se alimenta sozinha e necessita de ajuda para realizar sua higiene pessoal. "Muitas vezes ela fica nervosa, não reconhece a nossa casa e somente se acalma depois que mostramos as fotos dela, que estão nas paredes", afirma João.
    Dona Lula sempre foi uma pessoa saudável, que cuidava da casa e de seus três filhos. Com a doença, o marido assumiu algumas tarefas como fazer o almoço e também conta com a ajuda de duas mulheres, contratadas para realizar a limpeza da casa. "Durante muitos anos ela preparou o meu prato no almoço e no jantar, agora os papéis se inverteram", afirma ele.
    Atualmente, devido ao uso de calmante, ela não está agressiva, mas necessita de cuidados 24 horas por dia.     "Um dos cuidados que temos é com a comida, pois ela não se recorda das alimentações e, se deixar, come o tempo todo, mesmo sem fome", afirma João.
    A filha Márcia é quem faz o acompanhamento médico, para verificar os remédios e auxilia também nos banhos. Para ela é triste não ser reconhecida pela mãe, mas é preciso ter força para seguir em frente, pois futuramente serão necessários cuidados ainda maiores.
    O avanço da doença é difícil e exige muita paciência, atenção e carinho dos cuidadores. Já no estágio final a pessoa fica restrita ao leito, sem conseguir se comunicar e muitas vezes necessita de sonda para a alimentação.     Assim como ressaltam os familiares de Catharina e Cecy Olina, acima de tudo é necessário muito amor. Mesmo com a indiferença do doente, é importante que a família jamais esqueça quem essa pessoa foi e o que ela representa, independente de suas limitações.