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Copa do Brasil

27/11/2013

Fla e Furacão misturam passado vermelho e preto em final inédita

Copa do Brasil

27/11/2013

Fonte:G1.com

Foto:Hedeson Alves/Vipcomm

A mistura do vermelho e do preto na final da Copa do Brasil remete a um passado que oscila entre a coincidência e a inspiração. Se hoje os tons são o que resta de união entre Flamengo e Atlético-PR, o passado mostra clubes quase gêmeos em seus principais símbolos: as cores, a camisa e o escudo. O Furacão nasceu em 1924, quase três décadas depois do Flamengo, que já se consolidava como principal Rubro-Negro do país – até por ser da cidade que na época era a capital brasileira. Seria até natural que os paranaenses tivessem os cariocas como norte. Mas a história do Atlético rejeita essa hipótese.

O campeão brasileiro de 2001 surgiu da fusão de outras duas equipes, o América e o Internacional, ambos cansados de ver o Britânia ser campeão – clube que também nascera de uma junção, entre Leão e Tigre. As cores a serem usadas no uniforme renderam muito debate entre os dirigentes na época. Cada um puxava a sardinha para seu lado. O América era vermelho e preto; o Internacional, preto e branco. Com o negro em comum, a decisão caiu sobre o rubro. Nascia o Rubro-Negro paranaense.

Nessa época, o Flamengo já usava o uniforme com listras horizontais, depois de experimentar os modelos “papagaio de vintém”, com quatro quadrados em vermelho e preto, e “cobra coral”, listrado também em branco - além de seu primeiro traje, azul e ouro, logo abandonado pela dificuldade de se encontrar tecido nesses tons. E já havia excursionado pelo Paraná. Em 1914, por exemplo, enfrentou justamente o Internacional. Venceu por 7 a 1 – também aplicou 15 a 0 no Paranaguá e 9 a 1 na seleção de Curitiba.

Coincidência ou não, o Atlético adotou uniforme no mesmo estilo do usado pelo time carioca. Décadas depois, pairam dúvidas sobre a inspiração ou não no Flamengo. É possível encontrar, circulando pela internet, publicações antigas que chegam a tratar as cores como uma homenagem ao clube carioca. A versão costuma ser rechaçada pelos atleticanos.

- Isso não procede. São as cores do América e do Internacional e também da escola de samba do presidente da época – diz Heriberto Ivan Machado, historiador de Atlético-PR, com livros publicados sobre o clube.

É interessante observar que não eram apenas as cores e o desenho da camisa que uniam os dois clubes. O escudo também era muito parecido. Até os primeiros anos da década de 40, o Atlético-PR usou um distintivo nos mesmos moldes do símbolo flamenguista mais tradicional, com listras em vermelho e preto e três letras entrelaçadas no canto superior direito dele. Aí um jogador campeão com o Furacão em 1945, Lolô Cornelsen, resolveu mudar o escudo

- O clube tinha um escudo igualzinho ao do Flamengo. Era igualzinho. E eu também era flamenguista. Mas aquilo confundia muito. Aí desenhei um CAP com as letras parecidas com as do Flamengo, mas com um escudo redondo, porque não encaixava aquele CAP num escudo igual ao do Flamengo. Fiz redondo, e segue até hoje – contou o ex-jogador, que depois virou um arquiteto e engenheiro de renome mundial.

Assim, aos poucos, as semelhanças começaram a dar lugar a diferenças. No símbolo, só o entrelaçar das letras ficou parecido com o do Flamengo. Mas a camisa seguiu no mesmo molde. Até sofrer sua maior revolução. Em 1988, as listras se tornaram verticais - no estilo do Milan. O clube quis se diferenciar. A exemplo do que Lolô Cornelsen pensou nos anos 40, a diretoria achou que seria de bom tom dar à camisa rubro-negra do Atlético um aspecto único.

- Não foi por causa do Flamengo a mudança. Isso não tem nada a ver com o Flamengo. É por causa de todos os outros rubro-negros. Nenhum outro no Brasil tem as listras verticais – explica Heriberto Ivan Machado.

Realmente, os principais rubro-negros do país têm listras horizontais. Além do Flamengo, é o caso de clubes como Sport, Vitória, Atlético-GO, Moto Club e Campinense. O Brasil de Pelotas já usou as listras nas duas direções.

O Atlético-PR teve variações em sua camisa. Em 1960, testou uma dividida ao meio, com dois blocos verticais, um de cada cor. Em 1973, experimentou uma faixa diagonal. Em 1983, se inspirou no modelo de 1960, mas desta vez com divisão horizontal. Mas a mudança que prosperou foi mesmo a de 1988 – usada a partir do Campeonato Brasileiro, após a conquista do Estadual ainda com o modelo antigo. O Flamengo foi mais fiel ao desenho original, mas permitiu mudanças no tamanho das listras – variáveis ao longo dos anos.

No fim dos anos 80, com a mudança na direção das listras na camisa, o escudo do Furacão também teve a inversão. E segue assim ainda hoje, mas agora com um círculo em volta, o nome do clube, seu ano de fundação e duas estrelas acima dele.

Caminhos cruzados até a final

Atlético-PR e Flamengo jamais estiveram juntos em uma final. Em 1983, se enfrentaram nas semifinais do Campeonato Brasileiro, e os cariocas levaram a melhor. Agora, chegam à decisão da Copa do Brasil em uma história de caminhos cruzados.

De certa forma, Flamengo e Atlético-PR foram à final com Jayme de Almeida e Vagner Mancini como técnicos justamente por causa um do outro. Os cariocas tinham Mano Menezes como treinador até levar 4 a 2 do Furacão no Rio de Janeiro. O treinador pediu demissão depois dessa partida. O interino assumiu, ficou no cargo e levou o time à final, já como substituto efetivado.

No Atlético, aconteceu algo parecido, mas com efeito mais demorado. A queda de Ricardo Drubscky teve relação direta com o empate por 2 a 2 com o Flamengo em Joinville, no início do campeonato. O Furacão abriu 2 a 0, mas permitiu que o adversário buscasse a igualdade. Aquele jogo foi emblemático para azedar a relação entre torcida e treinador. A pressão resultou em sua demissão pouco depois. Ele ainda comandou o time na vitória de 4 a 3 sobre a Ponte Preta, mas não deu continuidade e caiu após a derrota de 3 a 2 para o Vitória e o empate por 1 a 1 com o Grêmio. Mancini assumiu, e hoje o Furacão pode ser campeão da Copa do Brasil e também briga por vaga na Libertadores via Brasileirão.

Flamengo e Atlético-PR se enfrentam nesta quarta-feira, às 21h50m, no Maracanã. O vencedor será o campeão da Copa do Brasil, já que o primeiro jogo, semana passada, na Vila Capanema, terminou empatado por 1 a 1. O 0 a 0 serve aos cariocas. Os paranaenses ganharão o torneio com empates a partir de 2 a 2.