05/08/2013
Pesquisadores desenvolvem programa para decifrar choro de bebê
05/08/2013
Fonte:G1.com
Foto:Ilustração/Internet
Bebês não falam, choram! E não é por manha, nem por birra. Cada choro desses, na verdade, é um sinal. Pode indicar que alguma coisa não vai bem com a saúde da criança.
Seria sono, fome, desconforto...?
Muitas mães até conseguem descobrir, mas o choro dos bebês tem mais informação do que se pode imaginar.
Os pesquisadores acabam de desenvolver um programa de computador que procura no choro pistas sobre a saúde das crianças.
O bebê deve ter até um ano de idade. Vinte segundos de gravação são suficientes.
No computador, o choro vira um gráfico. O engenheiro Harvey Silverman explica o programa: "Ele transforma milhões de pedaços de informação em um conjunto de parâmetros que usamos para reconhecer determinadas doenças. Observamos a duração dos choros e os intervalos entre eles."
A mais famosa relação entre o choro e um problema de saúde foi feita nos anos 60. O francês Jérôme Lejeune descobriu que crianças com um distúrbio genético que provoca retardo intelectual tinham um choro muito agudo, como um miado. A síndrome ficou conhecida como "choro do gato".
"Num bebê saudável, as cordas vocais vibram 350 vezes por segundo. Nas crianças com o choro do gato, são quase mil vezes. É fácil perceber. Mas existem variações que não são identificadas pelo ouvido humano, só por computador", disse o pesquisador Barry Lester.
"O choro é um sinal de alerta, diz que pode ter alguma coisa errada com o bebê. Pode ser uma lesão cerebral, por exemplo. Queremos descobrir se os bebês que têm choro fora do padrão vão se desenvolver menos do que os que têm choro normal", destaca o pesquisador.
O desafio agora é criar um banco de dados com choros de milhares de bebês. Eles serão analisados e comparados para estabelecer ligações entre determinados tipos de choro e transtornos que afetam o desenvolvimento. A ferramenta criada pelos pesquisadores de Providence promete ser a mais completa chave de acesso ao cérebro dos bebês.
Os cientistas dizem que o programa pode ser usado até pra saber se a criança está sentindo dor.
Uma gravação é do choro de um bebê normal que teve o pé pressionado pelo médico num exame. Outra, de um bebê que nasceu abaixo do peso tem uma pausa longa.
O pesquisador Stephen Sheinkopf explica que o programa será uma forma não invasiva de avaliar o sistema nervoso.
"A ideia é que possamos dizer: esses são bebês que podem ter problemas de desenvolvimento. Isso não significa que eles terão o problema mas precisam ser observados de perto pra intervir quando for preciso", explica o pesquisador.
Uma fonoaudióloga diz que no futuro a pesquisa pode ajudar a identificar a dislexia, um transtorno que faz com que as crianças tenham dificuldade pra ler e escrever.
“A criança disléxica normalmente tem um atraso na fala, atraso na articulação, vai trocar as letrinhas. O quanto antes essa criança for avaliada já vai ajudar muito na época da alfabetização”, destaca a coord. Científica da associação brasileira de dislexia, Maria Angela Nogueira Nico.
A família de Bernardo só descobriu que ele tinha o problema quando ele estava na terceira série.
“Era mais dificil ler e compreender as coisas. A professora dava um texto numa prova, eu lia e perguntava o que que tinha no texto, eu respondia qualquer outra coisa”, disse Bernardo Papalardo Collet, de 14 anos.
Os cientistas alertam que os resultados da pesquisa ainda vão demorar. E que os pais não devem tentar avaliar o choro por conta própria. Devem procurar um especialista.
"É um sistema que foi feito pra ser usado por pesquisadores e médicos no futuro. O desafio é detectar o quanto antes atrasos no desenvolvimento, na linguagem, no convívio social", destaca Stephen Sheinkopf.