03/06/2013
Escolas voltam à ativa! Crianças dividem o sentimento de tristeza de fim de férias e, ao mesmo tempo, ansiedade para a volta às aulas. Como é bom rever os amigos, contar tudo e mostrar as fotos do que fez de divertido nas férias, acabar com a curiosidade e conhecer os novos professores, usar aquela mochila especial comprada há duas semanas que pareciam não passar para que ela fosse estreada, folhear os livros encapados com o papel de seu personagem favorito, usar materiais escolares novinhos... voltar às aulas é sempre assim, cheio dos mesmos rituais, mas tem sempre um gostinho de novidade!
Sentar-se à mesa e retirar da mochila seu estojo recheado de canetas, canetinhas e lápis de cor de todo tipo dá até vontade de começar a escrever logo. Passa pela cabeça, inclusive, o desejo de fazer o caderno mais caprichado dos últimos anos tamanha a empolgação com os materiais. Pode ser que logo passe, mas desperta algo gostoso.
É mais ou menos aí que quero chegar, nos tão polêmicos materiais escolares! Esse ano não foi diferente, muitos veículos de comunicação investiram na velha discussão da necessidade da pesquisa antes da compra. Os noticiários tratam de incrementar suas pautas com dicas para os pais garantirem preços melhores. E verdade seja dita, as variações, segundo mostram, realmente são exorbitantes entre concorrentes desse segmento de mercado. Enquetes se há necessidade de que os filhos estejam junto na compra de materiais também são velhas conhecidas, e rendem divergências de opiniões que algumas vezes espantam. Tem-se pensado também sobre o outro lado, o da escola e suas longas listas com a solicitação de materiais entendidos como inaceitáveis. E tem lista de todo tipo, inclusive aquelas que sugerem as marcas e locais para a compra, ou pedem materiais considerados de manutenção dos estabelecimentos, como copos descartáveis e cartuchos de tinta para impressoras. Fiquem de olho, há itens que infringem o Código de Defesa do Consumidor!
Pois então...essas questões dão o que falar! E aqui proponho um novo aspecto desse tema a se pensar: a relação entre essas compras de início de ano nas livrarias, papelarias e lojas de variedade e as propagandas de cunho apelativo que movem essa dinâmica.
É inegável que as crianças são influenciadas pela mídia e, por sua vez, influenciam em larga medida os pais na compra daquilo que lhes chama atenção com argumentos diversos. E chama muita atenção mesmo, afinal, agências de publicidade não medem esforços com estratégias de marketing, comunicação e criatividade para atingir esse público-alvo, crianças e adolescentes em formação e tão sensíveis ao apelo visual. E não acabou: há mais um elemento dificultador, muitas vezes filho pede, pais compram!
Há que se ressignifique valores! Há que se revise políticas e condutas! Não consigo pensar em outras soluções...
Provavelmente alguma vez já se tenha visto ou ouvido falar de movimentos sociais contra o abuso da publicidade infantil. E não é só os alimentos, brinquedos, roupas e calçados que devem ser focos de preocupação. Seduzir o público infantil acentuando de forma mágica as novidades que brilham, que têm aroma, que têm formato novo, que abrem e fecham de um jeitinho espetacular de objetos a serem utilizados na escola ou utilizar personagens infantis que fazem os olhos das crianças brilhar tem sido recorrente nas propagandas dos materiais escolares.
Até hoje no Brasil não foi aprovada legislação específica para a publicidade de produtos infantis. Atualmente as normas do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) são balizadoras, cabendo aos pais sim moderar, filtrar e aconselhar seus filhos diante da grande quantidade de informações da mídia que seus filhos recebem diariamente.
Há também escolas, e conheço algumas, que já tentam seguir por um outro caminho, bem mais bonito e responsável: uso coletivo de materiais comprados pela própria escola, reutilização de materiais do ano anterior, organização de feira de trocas de livros usados e materiais, projetos que vislumbram a conscientização para o consumo e influência da mídia. São ideias, boas ideias!
Que seja um despertar, um início para a reflexão e para a mudança de atitudes no que se refere a compra consciente, no tema de hoje, dos materiais escolares. E que escolas e pais estejam cientes da formação de valores morais de suas crianças e adolescentes. Esses sim, diferente dos materiais, são para a vida toda!
Danielle Gross de Freitas
danielle@psicopedagogiacuritiba.com.br