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Política

Depoimento

30/05/2012

Demóstenes nega lobby, mas admite ter agido em nome de empresas de Goiás

Depoimento

30/05/2012  Fonte: R7 Notícias

O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) confirmou nesta terça-feira (29), em depoimento que durou mais de cinco horas no Conselho de Ética do Senado Federal, que andou em aviões de empresários, atuou em favor de empresas goianas, arrumou emprego para pessoas que lhe pediram isso e se encontrou com diversas autoridades.

No entanto, o senador negou qualquer lobby para empresas e relação com as atividades ilegais do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Demóstenes chegou a entregar seu mandato nas mãos dos colegas de Senado, caso o Conselho de Ética decida pela sua por falta de decoro parlamentar.

— Não tem estratégia. Vocês vão acreditar no que eu disse ou não vão acreditar. Vocês são homens tarimbados. Quem cassa senador é senador, primeiro vou esperar o julgamento dos senhores senadores.

Logo na primeira hora de depoimento, Demóstenes fez questão de assumir que fez uso de jatinhos de empresários, entre outras ações que colocam em dúvida a sua postura ética como senador.

— Andei em aviões de empresários de Goiás, arrumei emprego e, em relação a autoridades, fui [conversar]. Todas as empresas que me procuraram eu ajudei. Os pedidos republicanos tentei atender todos.


O senador disse se sentir "decepcionado e traído" por Cachoeira e que se sentiu na pior situação do mundo com as revelações.

— Vivo o pior momento da minha vida. Depressão, remédio para dormir que não faz efeito, fuga dos amigos e a campanha sistemática mais orquestrada da história do Brasil. Pensei em coisas terríveis. Pensei em renunciar ao meu mandato.

Aviões e empresas

O senador negou que tenha andado em avião pago pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira.
 
— Utilizei aviões de diversas pessoas no Estado de Goiás. Aviões de empresários e amigos, utilizei vários. Não utilizei isso em troca do meu mandato parlamentar. Eu utilizei aviões de empresários e amigos de Goiás, que não do senhor Carlos Cachoeira.

Demóstenes também confirmou que atuava profissionalmente por empresas goianas e que foi na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a pedido de Cachoeira para facilitar os negócios na Vitapan, empresa do bicheiro.

No entanto, ele disse que isso não era lobby, pois era uma atividade "republicana" que fazia também por outras empresas.

— Atuei em favor de todas as empresas do estado de Goiás que me procuraram. Vitapan me procurou, sim, e fui lá. Todas as empresas do ramo farmacêutico e de Goiás que me procuraram eu ajudei.

Demóstenes também comentou o fato de ter arrumado um emprego para uma senhora a pedido do senador Aécio Neves. Para ela e para"várias outras pessoas".

— Sobre emprego, arrumei mesmo. E arrumei emprego para muitas pessoas. Onde eu tinha condição, eu arrumei emprego. No meu gabinete era assim.

Cachoeira

Demóstenes reiterou o que disse no discurso feito em 6 de março no plenário do Senado. Na ocasião, ele disse que não conhecia Cachoeira como contraventor, mas como amigo, e não sabia das suas atividades ilegais.

— Fui vítima da maldade. Não podia adivinhar o que eu sei hoje. O que sabia naquele momento é que me relacionava com um empresário que também se relacionava com cinco governadores, dezenas de outros parlamentares e de empresários.

O senador negou que tenha atuado em favor da legalização de bingos ou de projetos semelhantes e disse que "não pode ser culpado por conversar com as pessoas".

— Peço para ser julgado pelo que eu fiz, não pelo que eu falei que iria fazer. Nem tudo que se diz, se faz. Disse que faria muitas vezes para me livrar de um interlocutor ou uma conversa. Não fui atrás (dos bingos). Fazia isso por gentileza, como fazia com muitos outros.

Demóstenes disse ainda que os negócios que tinha não se misturavam com os de Cachoeira, mesmo tendo sócios em comum, e confirmou que seu rádio Nextel era pago pelo bicheiro. Segundo ele, custava "R$ 50 ou R$ 30 por mês" e era uma comodidade, porque falava em qualquer lugar do mundo.


— Eu recebi, por comodidade, um Nextel. E fiquei com ele. Pegava em todo o mundo e no Brasil. Falei com muitas pessoas e não sabia que tinham sido distribuídos rádios para a organização toda. Não sabia de organização nenhuma.

Delta

O senador disse que não é sócio da Delta, nunca foi, e nem mesmo conhece o ex-diretor afastado, Fernando Cavendish.

— O senhor Cavendish já disse que não me conhecia. Como posso ser sócio de alguém que não conheço? Eu não sou sócio oculto da Delta. Se tem algum sócio oculto, não sou eu.

A próxima reunião do Conselho de Ética será na terça-feira (5), com carater administrativo. Nesta reunião, haverá votação de requerimentos e decisões sobre os próximos passos do Conselho.

O relator, senador Humberto Costa (PT-PE) disse que até o fim de junho vai apresentar o relatório e espera que quando o Senado entrar no recesso, em julho, os senadores já tenham decidido o futuro parlamentar de Demóstenes Torres.