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Saúde

Digestão em crise

24-01-2010

Reduzir o estresse e equilibrar a rotina são as melhores formas de tratar a síndrome do intestino irritável.

Digestão em crise

24-01-2010

Pessoas jovens, de 15 a 45 anos, e sem nenhum problema orgânico no aparelho digestivo são as mais afetadas pela síndrome do intestino irritável (SII), um mal crônico que provoca dores abdominais severas, diarreia e (ou) constipação constantes, entre seus sintomas.
Apesar de a ciência ainda desconhecer todos os processos que desencadeiam a SII, sabe-se que ela está diretamente ligada a distúrbios emocionais, que alteram a movimentação digestiva e provocam hipersensibilidade visceral. “É impressionante o número de vestibulandos e universitários que têm apresentado a síndrome, por não conseguirem suportar a pressão dessa fase da vida”, conta o cirurgião do aparelho digestivo Fábio Porto, do Hospital Santa Casa.

Na opinião de Porto, o estilo de vida moderno é responsável por um número crescente de casos da SII, que chega a afetar até 20% da população. “As pessoas estão submetidas a níveis cada vez mais altos de estresse, vivendo em uma correria e se alimentando mal. Isso piora a condição do aparelho digestivo e deixa o indivíduo mais vulnerável à síndrome”, afirma.

Por ser um distúrbio crônico, não existe uma cura para a síndrome do intestino irritável. Mas os sintomas podem desaparecer com o uso de medicamentos que regulam a digestão e também com a mudança de hábitos. “Buscar uma rotina mais equilibrada é um fator crucial para tratar a síndrome”, afirma o gastroenterologista do Hospi­tal de Clínicas Ricardo Schmitt de Bem. “Ter uma dieta saudável e praticar esportes ajuda muito, e pode valer a pena até a pessoa trocar de emprego para ter uma vida mais tranquila”, recomenda.

O gastroenterologista Flávio Steinwurz, um dos autores do livro recém-lançado Tenho síndrome do intestino irritável... E agora? (Editora Atheneu, R$ 30), lembra, porém, que o tratamento da SII é mais complexo em alguns casos, devido à dificuldade de tratar certos distúrbios emocionais que a provocam. “Às vezes o paciente precisa tomar antidepressivos e buscar psicoterapia”, explica.

Diagnósticos

A SII não é um mal exclusivo dos dias de hoje, diz o presidente da Sociedade Paranaense de Gastroenterologia e Nutrição Nicolau Gregori Czeczko. A questão é que no passado esse problema não era conhecido. Segundo ele, o fato de os médicos terem uma maior compreensão da patologia fez crescer o número de casos, a ponto de a síndrome ser a enfermidade mais diagnosticada nos consultórios.

Mas apesar da evolução médica, muitos pacientes ainda reclamam de uma demora na identificação da doença. A designer Roberta, de 22 anos, precisou passar por quatro médicos até que o último desse o diagnóstico de SII. “Todos os outros diziam que eu tinha gastrite, e os remédios que eu tomava não adiantavam. Eu sentia muitas cólicas, tinha prisão de ventre, inchaço abdominal e refluxo”, conta a designer.

O médico Fábio Porto reconhece que o fato de alguns sintomas se confundirem com os de outras doenças, como parasitoses e até câncer de intestino, é algo que dificulta o diagnóstico. Além disso, ele lembra que a realização de exames não traz respostas em curto prazo. “Como a síndrome não provoca uma alteração orgânica que possa ser detectada, o diagnóstico é feito pela exclusão de outras doenças.”

Saiba mais sobre a síndrome

A comunidade médica constata que o sexo feminino é mais afetado pela síndrome do intestino irritável do que o masculino, apesar de não existirem explicações conclusivas sobre isso. "Cerca de 70% dos pacientes com a síndrome, que procuram um gastroenterologista, são mulheres", estima o presidente da Sociedade Paranaense de Gastroenterologia e Nutrição do Paraná, Nicolau Gregori Czeczko.

"Como elas são mais sensíveis e ansiosas do que os homens, estariam mais vulneráveis à síndrome, que tem um fundo emocional”, diz o gastroenterologista do Hospital de Cínicas da UFPR Ricardo Schmitt de Bem. “Elas têm todas as inquietações que os homens têm, e mais as preocupações domésticas e familiares."

O cirurgião do aparelho digestivo Fábio Porto, do hospital Santa Casa, concorda com a hipótese, mas observa que as mulheres naturalmente procuram mais os médicos do que os homens, o que aumenta esse índice. “Muitos homens têm a síndrome, mas não procuram ajuda. O número de casos deles fica subestimado”, diz.

Para Nicolau Czeczko, as frequentes alterações hormonais sofridas pelas mulheres, principalmente na fase pré-menstrual, também as deixam mais sujeitas à SII. “A síndrome está ligada a uma alteração na concentração de hormônios que atuam no intestino, os quais desencadeiam os problemas na mobilidade digestiva. As oscilações hormonais femininas podem interferir nisso”, explica.

Fonte:Gazetadopovo