18-02-2011
Choveu, esta semana em Campo Largo, duas vezes mais do que estava previsto para o mês inteiro. Foi água pra mais de metro, que causou prejuízos aos moradores de áreas de risco, principalmente àqueles que têm casa construída nas encostas de morros e fundos de vale. Parece que a "torneira" de "São Pedro" foi aberta mais intensamente em alguns pontos da cidade que em outros. Gente humilde em casas simples, adquiridas com sacrifício, de uma hora para outra se viu em perigo iminente de ter a casa soterrada.
Quem nunca esteve numa situação assim, ou nunca presenciou a aflição nos olhos de uma família desalojada por causa de um risco de desabamento, não pode imaginar a angústia que eles, os desabrigados, sentem. É como se de uma hora para outra, o chão se abrisse sob seus pés. A pessoa não sabe o que fazer, para onde ir, para onde correr com sua família. Porque tudo, móveis, roupas, eletrodomésticos, alimentos, são perdidos num piscar de olhos.
A Reportagem da Folha acompanhou, esta semana, vários casos de famílias nessa situação. A maioria das vítimas relatou um sentimento difícil de ser entendido, uma espécie de "vergonha", como se fossem culpados pela situação na qual se encontram. Não conseguem entender, estas pessoas, que a culpa da situação não é delas, mas de anos e anos de desgoverno, de incompetência, de abandono. No Brasil, o trabalhador, que deveria ter salário digno e condições econômicas para comprar sua casa própria, em local seguro, é, cada vez mais, empurrado para as periferias das cidades e obriga-se a aceitar morar em qualquer lugar, apesar do perigo que representa uma casa erguida numa encosta ou num fundo de vale.
E a questão da habitação, que deveria ser solucinada, primeiro com salários dignos para o trabalhador, e depois pela ação do Governo Federal, acaba sendo jogada no colo dos prefeitos, que recebem o "prato feito", e não têm recursos e nem condições para enfrentar o problema. Uma das vítimas das chuvas em Campo Largo resumiu a questão com uma frase. Disse a um veículo de comunicação de Curitiba, que tinha vergonha de estar naquela situação, que se tivesse um bom salário, estaria morando em outro lugar.
A visão desse trabalhador mostra até que ponto a incompetência dos governos, por muitas gerações, transformou a população em refém, em vítima de todos os tipos de tragédia, a tragédia da falta de emprego com salários dignos, as tragédias da Saúde, da Educação, da Segurança Pública e, a tragédia da moradia em áreas de risco. Até quando?