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Energia

24/01/2012

Paraná tem pouco gás para atrair novas empresas

Energia

24/01/2012  Fonte: Gazeta do povo

Dificuldades no fornecimento de gás natural ao Paraná podem fazer com que o estado tenha dificuldade em atrair empresas nos próximos anos. Enquanto a demanda pelo combustível cresce, devido ao maior consumo de empresas já instaladas e também a novos negócios, a oferta se aproxima do limite.

O problema decorre da restrita distribuição de gás à Região Sul do país, situação que foi tema de uma reunião, ontem, entre as cúpulas das federações das indústrias dos três estados da região – Fiep (Paraná), Fiesc (Santa Catarina) e Fiergs (Rio Grande do Sul).

Hoje os três estados consomem 4,8 milhões de metros cúbicos por dia, 80% da capacidade de distribuição do gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) para a região, que é de 6 milhões de metros cúbicos por dia. As indústrias respondem por 72% do consumo.

O Paraná usa diariamente 1,04 milhão de metros cúbicos e, mantidas as condições atuais, poderia consumir no máximo 2 milhões de metros cúbicos. Con­siderando-se contratos já assinados e expectativas médias de crescimento, este número deve ser atingido em 2014. Esse é o prazo limite para que sejam feitas ampliações na atual rede de abastecimento no estado, de acordo com Luciano Pizzatto, presidente da Companhia Paranaense de Gás (Compagas), responsável pela distribuição do combustível no estado.

“O estado tem condições de distribuir entre 1,8 milhão e 2 milhões de metros cúbicos de gás por dia. Isso é suficiente para o nosso abastecimento hoje e ainda para os contratos já assinados. Em 2014, esse limite deve ser atingido e, a partir de então, teremos de contar com alguma alternativa”, diz Pizzatto.

Segundo ele, qualquer saída envolverá grandes investimentos – que, provavelmente, deverão ser feitos pela iniciativa privada, com participação dos go­­vernos estaduais. Participação federal é praticamente descartada. “Quando procuramos a Petro­bras, a posição que nos passam é de que eles não farão novos investimentos em dutos”, diz Pizzatto.

Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Petrobras afirmou que a empresa não iria se pronunciar sobre o assunto. A atual diretora de Gás e Energia da estatal, Maria das Graças Foster, deve assumir em breve a presidência da companhia, no lugar de José Sérgio Gabrielli (leia mais nesta página).

Alternativas

Na reunião, foram apresentadas alternativas que beneficiariam o Paraná e opções que envolveriam toda a região. Uma delas é a construção de um terminal de gás natural liquefeito (GNL), em um dos portos do Sul. O combustível seria importado e distribuído a toda a região por dutos. Embora bem visto pelos participantes da reunião, o plano não é de fácil execução – o custo seria muito elevado e a provável disputa para hospedar o terminal, demorada.

Uma saída mais simples envolve uma mudança no funcionamento do Gasbol. Com uma maior compressão do gás que abastece seus dutos, o volume distribuído poderia passar dos atuais 6 milhões de metros cúbicos para até 9 milhões por dia. A alternativa, porém, resolveria o problema apenas no médio prazo e tenderia a beneficiar em maior escala o Paraná, devido ao formato do gasoduto. “A possibilidade maior é que quase 2 milhões de metros cúbicos [da capacidade adicional] ficariam apenas com a gente”, diz Pizzatto.

 

Situação é mais crítica em SC e no RS

A situação do abastecimento de gás natural no Paraná é complicada, mas ainda é mais branda que a enfrentada em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Com uma alta demanda da indústria local, esses estados enfrentam problemas na entrada do gás, uma vez que os dutos têm seu diâmetro reduzido à medida que avançam ao sul.

Heitor José Müller, presidente da Fiergs, lembra que uma usina termoelétrica que ficava em Uruguaiana, no oeste do estado, teve de fechar por falta de combustível. O gás vindo dos dutos do gasoduto Bolívia-Brasil não daria conta de suprir o local e a Argentina, que forneceu gás para a usina por algum tempo, também suspendeu a distribuição. “Estamos simplesmente travados”, disse Müller.

Em Santa Catarina, a situação é semelhante. O estado é o maior consumidor de gás do Sul do país: usa quase 40% dos 4,8 milhões de metros cúbicos diários consumidos na região. Com a dificuldade de aumentar a oferta para os próximos anos, o estado vê parte de suas empresas adiarem investimentos ou ainda tendo gastos acima do esperado, como afirma Otmar Muller, presidente da câmara de energia da Fiesc.

Segundo ele, que também é diretor industrial da fabricante de revestimentos Eliane, o maior prejuízo é dos planos de expansão das empresas, que são limitados pela pouca oferta do produto.

No fim da reunião realizada ontem na Fiep, as federações das indústrias dos três estados decidiram elaborar um documento conjunto para apresentar a situação ao governo federal. O manifesto cobra mais investimentos do executivo nacional para a distribuição de gás na Região Sul. Além disso, foi criado um grupo de trabalho com representantes das entidades, que deverão envolver os governos de cada estado na questão.