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Introdução de alimentos alergênicos na dieta dos bebês precisa ser feita com atenção

Nutricionista especialista em Nutrição Materno Infantil relata caso de alergia severa que aconteceu com o filho dela ao consumir amendoim

Introdução de alimentos alergênicos na dieta dos bebês precisa ser feita com atenção

No início do ano, a nutricionista Marcia Moscatelli, especialista em Nutrição Materno Infantil, adicionou um pouco de pasta de amendoim junto à banana, lanche do seu bebê, Calebe, de apenas 09 meses. Após ingerir três colheres, Calebe começou a chorar e coçar a orelha, rejeitando o alimento.

“Eu tirei ele da cadeirinha de alimentação, amamentei ele e fiz ele dormir. Percebi que ele permaneceu chorando e agitado mesmo no peito, que o deixa tranquilo. Ele dormiu no meu colo, quando percebi que apareceram algumas bolinhas vermelhas ao redor da boca e que foram se espalhando para o pescoço. Como eu sei que o amendoim tem potencial alérgico, já fiquei atenta”, relembra.

Em torno de uma hora após o bebê ter consumido o amendoim, a família já percebeu que ele estava inchando e decidiu leva-lo à Unidade de Pronto Atendimento (UPA). “No caminho foi bem assustador, ele foi ficando vermelho, em uma velocidade muito grande ele começou a inchar e formar bolhas próximo dos olhos, com o rosto bastante inchado e coçando muito a orelha. Eu sabia que ele tinha risco de várias consequências sérias, então cheguei à UPA e falei que ele estava tendo uma reação alérgica grave e precisava de atendimento imediato. A moça da recepção pediu para eu deixar o documento com ela e entrar diretamente para o atendimento médico”, conta.

Ela lembra que o atendimento médico foi muito rápido e o pequeno foi classificado com reação alérgica severa. “Não desejo isso para ninguém, mas se acontecer, precisamos saber o que fazer”, enfatiza.

Sobre o sentimento no dia da alergia do bebê Calebe, Márcia conta que se viu dividida. “É engraçado como a percepção de mãe e profissional as vezes é diferente. No dia da reação alérgica, o meu lado profissional era aquele racional, que analisava o que estava acontecendo e me dizia que eu precisava ficar calma para chegar em segurança até a Unidade de Pronto Atendimento.  O lado mãe era o emocional que estava muito preocupada querendo chorar por ver meu filho naquela situação e não poder fazer nada para aliviar o sofrimento dele”, relembra.
Ela ressalta ainda que mesmo sendo profissional da área da saúde, especialista, “ninguém sabe tudo, e quando se trata de alergia alimentar o tratamento deve ser com uma equipe multiprofissional”. Por isso, após o episódio a medicação foi continuada em casa por mais quatro dias, com boa evolução de Calebe, que desinchou e as manchas vermelhas sumiram.

Alimentos alergênicos
Márcia explica que são alimentos potencialmente alergênicos aqueles que têm grande chance de causar alergia alimentar, sendo os mais comuns leite de vaca, trigo, ovo, peixes, frutos do mar, soja, castanhas e amendoim. “As alergias alimentares são mais comuns em bebês e crianças pequenas, estima-se que a prevalência seja aproximadamente de 6% em menores de 3 anos e de 3,5% em adultos. Alguns bebês apresentam alergia alimentar quando ainda mamam exclusivamente no peito, pois entram em contato com traços de alimentos presentes no leite materno, outros só após a introdução da alimentação complementar (papinhas)”, explica.

Ainda, sobre o desenvolvimento das alergias, entre os fatores de risco associados ao seu desenvolvimento, a nutricionista destaca a história familiar de atopia (asma, rinite, alergia alimentar e dermatite atópica em parentes de primeiro grau), gênero masculino, etnia e presença de dermatite atópica.
Questionada se há um momento seguro para a introdução destes alimentos, ela explica que
não existe um momento 100% seguro. “O que sabemos hoje é que existe uma janela imunológica, a partir dos 6 meses de vida e antes de 1 ano, nesse período existe mais chances de o organismo desenvolver tolerância aos alimentos, reduzindo o risco de alergenicidade. Por isso a introdução dos alimentos deve ser a mais ampla possível”, recomenda.

Ela orienta que o ideal é oferecer um único alimento considerado alergênico por vez, com intervalo de pelo menos uma semana, pois, se o bebê apresentar uma reação será mais fácil identificar qual o alimento que a provocou. Além disso, ela ressalta que é melhor oferecer pela primeira vez no período da manhã ou almoço, assim uma possível reação será mais facilmente percebida pela família, do que a noite, quando todos vão dormir e por ser mais fácil conseguir atendimento médico durante o dia.

Sintomas e quando  procurar o médico
A nutricionista comenta que entre os sintomas mais comuns da alergia alimentar, estão irritabilidade, manchas pelo corpo, inchaços na língua e na região da boca, gases e cólicas fortes, presença de sangue nas fezes, refluxo.

“Quando a criança recebeu tratamento para dermatite atópica, doença do refluxo gastroesofágico, cólica e constipação intestinal, mas que não obteve melhora do seu quadro, é recomendado suspeitar e investigar uma possível alergia alimentar. É importante saber que os sintomas podem aparecer imediatamente após o consumo do alimento ou horas e até dias depois. Na presença de qualquer sintoma é importante procurar o médico”, enfatiza.

Após o diagnóstico, Márcia alerta para excluir totalmente o alimento da dieta. É importante ainda, aprender a ler o rótulo dos alimentos e demais produtos usados para identificar ingredientes que possam desencadear a reação alérgica. “Consultar uma nutricionista para fazer substituições seguras e garantir que a alimentação forneça todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento da criança. Quando for comer fora de casa, em restaurantes ou casa de amigos, se certificar de que não seja usado nenhum ingrediente que contenha o alimento a que a criança é alérgica. Orientar familiares e pessoas do convívio da criança sobre a alergia e pedir para que não ofereçam alimentos sem a autorização dos pais”, diz.

“Após o episódio que aconteceu com meu filho, avisei toda a família sobre a alergia e a necessidade de não oferecer para o Calebe nenhum alimento que contenha amendoim, nozes ou castanhas. Marquei consulta com a pediatra que me orientou e passou a medicação necessária para o caso de haver outro episódio grave de alergia. Os próximos passos serão consultar um gastroenterologista pediátrico e um com um alergista - médico especialista em alergias, para discutir o caso e fazer exames para investigar outras possíveis alergias”, conta.
Perguntada se alergias alimentares têm “cura”, a nutricionista explicou que em geral as alergias alimentares da infância são transitórias, menos de 10% dos casos persistem até a vida adulta.

“Aos pais e responsáveis, é importante evitar restrições desnecessárias na alimentação materna durante a gestação e lactação, amamentar o bebê exclusivamente com o leite da mãe até 06 meses, permitir que ele possa conhecer os alimentos potencialmente alergênicos durante a introdução alimentar e saber reconhecer os sintomas de uma alergia alimentar ajudam a prevenir reações alérgicas graves”, recomenda.

Intolerância ou alergia?
Na intolerância alimentar, Márcia explica que o alimento não é digerido corretamente e, dessa forma, os sintomas surgem principalmente no sistema gastrointestinal. Ela cita um exemplo comum, que é a intolerância à lactose, um tipo de açúcar presente no leite, que decorre da deficiência total ou parcial de uma enzima chamada lactase, responsável por quebrar a lactose. Como consequência o paciente pode apresentar gases, dor abdominal, diarreia, entre outros sintomas.

Nesses casos não é necessário excluir totalmente o alimento, sendo permitido que a pessoa coma preparações que contenham pequena quantidade leite ou consumir leite e derivados sem lactose. “A alergia alimentar é definida como uma doença, consequente a uma resposta imunológica anômala, que ocorre após a ingestão e/ou contato com determinado(s) alimento(s). Na alergia, o organismo entende que parte do alimento (geralmente um tipo de proteína) é um agente agressor, como um vírus, então cria anticorpos que causam reações. Quando a criança apresenta alergia alimentar é preciso excluir totalmente o alimento da dieta. Se for bebê menor de 06 meses que mama exclusivamente no peito é preciso excluir o alimento da dieta materna. A criança com APLV, por exemplo, não pode consumir leite e derivados ou alimentos que contenham leite em sua preparação como bolo, sorvete, purê de batatas, molho branco”, ressalta.

O diagnóstico é feito pelo médico, por meio de sinais e sintomas, recordatório alimentar e exames.