20-03-2011
Falta de remédio contra Aids preocupa pacientes e ONGs
20-03-2011
O medicamento atazanavir, usado por pacientes portadores do vírus HIV, está em falta em diversos pontos do país. O problema foi reconhecido nesta quinta-feira (17) pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e começa a preocupar pacientes com a doença e ONGs que trabalham no combate à Aids.
Para Aguinaldo José Gomes, portador do vírus há 20 anos e secretário de um departamento jurídico, a falta do remédio é um problema "seríssimo".
- A gente tem que fazer a adesão à medicação. Uma vez que fazemos essa adesão, e fazemos uso da medicação, temos o direito de pedir essa medicação porque é isso que faz me manter vivo, estar em pé, trabalhando e ter uma vida normal.
Desde 1996, a Lei 9.313 garante o tratamento da Aids pelo SUS (Sistema Único de Saúde) a qualquer cidadão com a doença. Segundo o presidente do Fórum de ONG/Aids do Estado de São Paulo, Rodrigo Pinheiro, existem cerca de 600 mil portadores de HIV em todo o Brasil e, desse total, 200 mil fazem uso de antirretrovirais. Ele diz que o problema no abastecimento do atazanavir foi notado no mês passado.
- A maior preocupação que temos quando falta um antirretroviral é a questão da adesão. Hoje, as pessoas que começam a fazer uso do medicamento precisam tomar esse medicamento de forma contínua, todos os dias. E quando falta esse medicamento ou quando se fraciona, isso prejudica muito a questão da adesão.De acordo com o Ministério da Saúde, o atazanavir é um inibidor de protease, enzima importante para a maturação do vírus, e indicado no Brasil como uma das alternativas para estruturar o tratamento antirretroviral. O remédio é apresentado tanto em cápsulas de 200 mg quanto em cápsulas de 300 mg. O que está em falta é o de 300 mg. O atazanavir é utilizado por 33 mil pacientes.
Ainda segundo o ministério, o estoque do medicamento já chegou ao país e deve ser encaminhado às unidades estaduais de saúde na próxima semana, entre 22 e 25 de março. A falta de remédios antirretrovirais também ocorreu no ano passado, quando os pacientes sofreram com a carência do Abacavir.
Substituição
Para não interromper o tratamento dos pacientes, o governo sugeriu à unidades de saúde que fracionassem à entrega do remédio ou que o substituíssem por outro medicamento. Segundo o infectologista Jean Gorinchteyn, do Hospital Emílio Ribas de São Paulo, não há problemas na substituição do remédio.
- O mais importante é que essa substituição ocorra de uma forma breve, sem que ocorra a interrupção dessa medicação. Tem que acontecer com substituições de medicações da mesma classe.
De acordo com o médico, normalmente os pacientes toleram bem a substituição da droga, mas há pessoas que têm resistência a determinadas medicações e, para evitar essas situações, todas as farmácias têm estoques mínimos para atender a esses pacientes.
Aguinaldo José Gomes afirmou ainda que o desabastecimento pode provocar também um problema de ordem psicológica nos pacientes.
O infectologista confirma a afirmação do paciente.
- Psicologicamente, isso é extremamente ruim porque esse paciente está muito adaptado. Então, quando isso acontece, a sensação que ele tem é de descontinuidade. Mas, na verdade, isso é uma inverdade, porque ele vai continuar a medicação.
O infectologista do Emilio Ribas recomenda aos pacientes que eles não fiquem sem medicamento e que procurem seus médicos ou unidades de saúde num prazo de 15 dias antes de os remédios acabarem.
- À medida que o paciente fica sem a medicação, ele vai precisar de um hiato de dois a três dias, o que, para ele, poderia acarretar prejuízo.
A fabricante do medicamento, a Bristol-Myers Squibb, informou por meio de nota que está "trabalhando com o Programa Nacional de DST/Aids para garantir que o Reyataz [atazanavir] seja distribuído aos pacientes o mais rápido possível".
- Ressaltamos que não existem problemas na fabricação do produto e que não há intenções em descontinuar o medicamento.
Já o Ministério da Saúde, também por meio de nota, afirmou que não houve risco ao tratamento de nenhum paciente que utiliza antirretroviral e que se antecipou à dificuldade no abastecimento para recomendar a substituição do medicamento por outro.
Sobre o saquinavir, o ministério informou que não houve desabastecimento, mas, sim, um remanejamento local dos estoques, e que a cobertura desse medicamento está garantida até a primeira quinzena de abril. O laboratório produtor do saquinavir deve fazer a entrega antecipada de parte do primeiro lote na próxima semana.
Fonte: R7 Notícias