Campo Largo conta com cartório de crimes contra vulneráveis, com equipe responsável pela investigação de violência doméstica, crimes sexuais e crimes contra idosos
Nos três primeiros meses de 2024, a Folha divulgou pelo menos 12 matérias com conteúdo relacionado a denúncias e prisões de indivíduos suspeitos, acusados ou condenados por crimes de natureza sexual, entre abusos e estupros, pornografia e importunação. Estes foram apenas os casos que chegaram ao jornal em forma de notícia e alerta. O número chama a atenção para uma situação grave e que deve ser combatida pela sociedade, mas que, infelizmente, Campo Largo não sofre sozinha.
Somente no início de 2023 – dados mais atualizados sobre denúncias desta natureza -, em todo o Brasil foram registradas 69,3 mil denúncias e 397 mil violações de direitos humanos de crianças e adolescentes, das quais 9,5 mil denúncias e 17,5 mil violações envolvem violências sexuais físicas – abuso, estupro e exploração sexual – e psíquicas.
Outro dado que chama atenção são as denúncias da presença de imagens de abuso e exploração sexual infantil na internet, que bateram recorde em 2023 – resultado é o maior da série histórica, iniciada em 2006. Conforme divulgado pela Agência Brasil – ligada ao Governo Federal, por meio de dados da Ong Safernet, foram 71.867 queixas em 2023, número 28% superior ao recorde anterior, registrado em 2008 (56.115 denúncias). Em relação a 2022, houve alta de 77,1%.
A Folha de Campo Largo conversou com a delegada Dra. Mariana Cantu, que confirmou, infelizmente, que os crimes sexuais são recorrentes e têm índices elevados. “Não importa o tamanho da cidade, eles sempre são elevados, porque são crimes que acontecem nas famílias, na escola, por pessoas que tenham proximidade com a vítima, ainda mais quando elas são menores – crianças ou adolescentes.”
Dra. Mariana conta que assim que chegou, foi implementado um cartório específico para atendimento de vulneráveis. “Esse cartório conta com os escrivães, investigadores e comigo, que somos responsáveis por investigar violência doméstica contra a mulher, violência sexual, crimes contra idosos, o que está movimentando mais o assunto na cidade, porém é algo que sempre existiu. Estamos investigando e responsabilizando essas pessoas”, enfatiza.
A delegada conta que dentro do cartório essas são as denúncias mais recorrentes, com crimes que acontecem dentro de casa, envolvendo familiares próximos, como avôs, tios e padrasto. “Costumamos alertar as famílias para não deixarem menores sozinhos, não deixarem menores irem dormir na casa de um amigo ou até mesmo de familiares que achamos que confiamos. Criança não sabe se defender, e se acontecer algo pode ser que ela não conte, ou porque tem vergonha, porque não sabe o que aconteceu e quão grave é, mas vai sofrendo. Os pais têm que ter esse cuidado e informar seus filhos sobre o que pode e não pode acontecer”, orienta.
Diz ainda que sempre que acontece dos pais ou responsáveis irem até a delegacia para registrar uma denúncia, são incentivados a conversarem com os filhos e ficarem a par do que está acontecendo também em outros ambientes – como escola, casa de familiares e outros locais –, pois precisa ser trabalhado e verificado cada situação.
Recebimento de denúncia
Dra. Mariana conta que a maioria das vítimas menores chegam com as mães e que ela tem contato com elas, pois tem curso de Escuta Especializada. Orienta que devem ser denunciados tanto casos de estupro e abuso sexual, como também atos libidinosos e que são provas mensagens, prints de conversas, testemunhas que presenciaram alguma mudança de comportamento ou que tenham visto/percebido algo diferente, fotos, vídeos, áudios etc.
Professores, profissionais da saúde, atendentes de projetos sociais, igrejas e/ou qualquer outro profissional que tenha contato com crianças e perceba alguma mudança ou que ela relate algo relacionado a um crime sexual, deve procurar diretamente a delegacia e realizar a denúncia. “Nós temos mecanismos necessários para chamar essa família na delegacia e contar o que aconteceu. Muitas vezes a pessoa pode se comprometer ou a família não acreditar no que está sendo relatado. Precisamos explicar que temos que ouvir a criança, que temos que investigar e que não é uma ‘besteira’. Se uma criança chegar a contar, o que chamamos de relato espontâneo, deixa ela falar, não fique perguntando, ouça tudo o que ela tem para contar e traz para nós, que daremos encaminhamento rápido, visto que são casos prioritários. Dizer se há crime ou não caberá a nós. Casos como estes devem sim ser investigados”, finaliza.
Mais informações sobre denúncias de casos relacionados podem ser conseguidas pelos telefones (41) 3291-6100 – 3ª Delegacia Regional de Polícia Civil, Conselho Tutelar de Campo Largo (41) 3393-4854/(41) 3392-3395, Plantão (41) 99793-1005 e no Ministério Público (41) 3392-3321/(41) 3292-3302.