Até 2050 serão 152 milhões de casos diagnosticados no mundo de uma doença ainda sem cura; prevenir é garantir uma velhice saudável
O último dia 21 de setembro é dedicado ao Dia Mundial da Doença de Alzheimer e Dia Nacional de Conscientização da Doença de Alzheimer. Setembro recebe a cor lilás justamente para chamar a atenção para os sinais de alerta da demência, incentivando as pessoas a buscar informações, aconselhamento e apoio, bem como a entrar em contato com associações de Alzheimer ou demência em sua região.
Jucelia Maria de Castro Vicentin, neuropsicopedagoga Clínica e Institucional, Especialista em Estimulação Cognitiva 60 +, explica à Folha que a doença de Alzheimer é hoje a forma mais comum de demência neurodegenerativa. “Uma doença progressiva que afeta não só a memória, mas outras funções mentais importantes para a nossa funcionalidade diária. Não existe cura. Segundo dados da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), a cada três segundos há um novo caso de demência no mundo. Os dados apresentam uma progressão preocupante, onde em 2020 foram 50 milhões de casos, em 2030 a previsão é de 82 milhões e em 2050 serão 150 milhões. Do total de casos de Alzheimer previstos no mundo, estima-se que seis milhões de brasileiros serão afetados pela doença.”
A especialista segue explicando que a causa exata ainda não é totalmente compreendida, mas envolve fatores genéticos e ambientais e que 28,2% advém de fatores de risco modificáveis, atribuídos à hipertensão na meia idade, diabetes, alterações no sono, isolamento social e depressão, sedentarismo, obesidade na meia idade, tabagismo (13,9% dos casos estão ligados ao tabagismo), polifarmácia, traumatismo craniano, problemas cardíacos, baixa escolaridade e falta de atividade física e mental.
Entre os fatores não modificáveis estão a idade, genética e o sexo feminino, visto que mulheres têm maior probabilidade de ter a doença.
Manifestações e fases
Jucelia explica que geralmente, os primeiros sinais do Alzheimer ocorrem após os 60 anos. “No entanto, casos raros de Alzheimer precoce podem se manifestar em pessoas na faixa dos 30 ou 40 anos de idade devido a mutações genéticas hereditárias”, pontua.
Ao todo, a doença apresenta sete estágios, que incluem o início das primeiras alterações no cérebro e começam em torno de 20 anos antes da doença chegar, primeiros lapsos de memória e muitas vezes confundido com esquecimentos normais. No estágio três, por exemplo, a memória fica cada vez mais afetada, com dificuldades em lembrar algo que leu ou ouviu recentemente, nomes ou palavras, falhas em planejamento e problemas no convívio social.
No estágio quatro acontece o aumento da perda de memória, perda da área de linguagem, organização, cálculos e, ainda, alterações no sono, dificuldade em escolher roupas adequadas, grande confusão mental até para saber em que dia estão, alterações no humor, desconfiança e depressão. O quinto estágio é o mais popular, onde o indivíduo começa a se esquecer de seus familiares e amigos, muitas vezes já não conseguem mais se vestir sozinhos, paranoias, alucinações e delírios.
Já o estágio seis acontece o aumento significativo dos sintomas, diminuição da autonomia (o ideal é que não morem sozinhos) e muitas vezes não irão conseguir expressar, por exemplo, onde dói ou o que está sentindo. O último estágio é o sétimo, onde devido à destruição das células cerebrais o paciente começa a ter deficiência mental e física grave e precisam de monitoramento constante, pois não conseguem mais coordenar ações simples como saber que quer ir ao banheiro, sentar, andar, engolir e ficam mais suscetíveis a terem infecções.
“Por isso, os sinais de alerta incluem perda de memória significativa, desorientação em lugares familiares, dificuldade em realizar tarefas simples, mudanças de personalidade e dificuldade em planejar ou resolver problemas. Se houver preocupações, é importante procurar um médico”, orienta.
Prevenção e estilo de vida
“A prevenção do Alzheimer envolve um estilo de vida saudável, incluindo exercícios físicos, alimentação balanceada e estímulo cognitivo. Começar hábitos saudáveis desde cedo pode ajudar, mas é importante em qualquer idade. Por isso, recomendamos sempre a atividade física, alimentação saudável, atividades sociais, reserva cognitiva, qualidade de sono e atividades intelectualmente estimulantes como Estimulação Cognitiva”, pontua.
Questionada sobre os prejuízos da dependência excessiva de tecnologia, Jucelia comenta que ela pode sim afetar cognição, principalmente, se levar a um estilo de vida sem estímulos mentais variados, sedentarismo e isolamento social. Por isso, a recomendação da especialista é a busca pelo equilíbrio entre o uso da tecnologia com interações sociais, atividades físicas e desafios mentais, como caça-palavras, palavras cruzadas, sudoku, xadrez e outros jogos de tabuleiro, considerados por ela como ótimos estímulos para manter a saúde cerebral.
Diagnóstico precoce
Conviver com uma pessoa que sofre de Alzheimer pode ser desafiador. “Enfatizo sempre a importância do diagnóstico precoce e do apoio às famílias afetadas pelo Alzheimer. Ficar atento aos primeiros sinais e ter ciência de que nem todo esquecimento é normal é super importante. Muitas pessoas atribuem algumas características ao envelhecimento, mas existe diferença entre senescência (envelhecimento normal) e senilidade (envelhecimento com doenças). Quanto mais ativa a pessoa idosa estiver, menos chances terá de desenvolver doenças. Além disso, a pesquisa científica continua a avançar, oferecendo esperança para futuros tratamentos mais eficazes. É fundamental promover a conscientização e o cuidado com a saúde cerebral em todas as idades. A prevenção da doença é extremamente importante”, pontua.
Em casos já diagnosticados, a orientação é seguir o tratamento conforme recomendação médica, que irá ajudar a estabilizar ou até mesmo melhorar temporariamente os sintomas em estágios leves do Alzheimer. No entanto, Jucelia explica que essa é uma doença progressiva e a velocidade de progressão varia de pessoa para pessoa, por isso, a intervenção precoce é essencial.