O diagnóstico precoce pode ajudar as crianças a aproveitarem cada fase da vida
Já pensou em como o amor de uma mãe pode transformar a vida de um filho? A preocupação pode ir muito mais além do cuidado. Quem conta um pouco sobre isso é a Michele Polonha que dividiu a sua história e de seu filho com a equipe da Folha de Campo Largo.
“O Thaíde e seu irmão nasceram com 25 semanas - aproximadamente 06 meses, foi uma gestação tranquila até então. Eu tinha um problema no útero que é raramente diagnosticado, chamado incompetência do útero, foi isso que fez com que eu entrasse em trabalho de parto muito cedo. Por esse motivo, eles ficaram internados muito tempo e o irmão do Taíde chegou a não resistir a uma infecção e faleceu”.
A luta da Michele e do Toniel só estavam apenas começando, Thaíde ficou praticamente 05 meses na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em uma situação grave. Depois disso, os médicos pediram para acompanhar, pois poderia surgir problemas de visão, audição ou algum outro.
Foi a partir disso que a mãe sempre observou e acompanhou de perto, levou em vários médicos e percebeu que seu filho precisava de ajuda, quando então foi diganosticado autismo. “Tinha gente que falava que eu estava procurando problema, mas você que é mãe sabe que algo não está certo. Da forma dele brincar com as outras crianças, não gostava de fazer contato visual, gostava muito de ficar no cantinho dele. Além disso, ele demorou para falar”.
Quem também passou por situação parecida foi a Patricia Caroline Basiliche Pugss, a qual conta que ambos seus filhos são especiais, como ela mesmo chama. O Pedro Herinque, seu filho mais velho de 15 anos, teve o autismo diagnosticado devido ao atraso para começar a falar. O outro filho, Luiz Gustavo, no qual ela chama carinhosamente de Luli (08), teve um fator complicante, pois nasceu com microcefalia e dessa forma trouxe a sequela do autismo. A mãe conta que o tempo é crucial no tratamento do autismo: “Quanto mais cedo descobrir melhor, então ficar atenta a alguns atrasos como fala, motor, estereótipos. A intervenção precoce ajuda muito na evolução”.
Cuidados no dia a dia
A fonoaudióloga Naara Martins Teixeira (CRFa 10368) conta que os pais têm que ficar de olho em algumas coisas, principalmente quando “suspeitam” que tem algo errado com os filhos: linguagem, sintomas sensoriais e esteriotipia e hiperfoco. Além disso, é ir até uma clínica para uma avaliação mais completa:
“Quando os pacientes chegam aqui na clínica eles são encaminhados para realizar avaliação com equipe multidisciplinar - fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e psicólogo. Nessa avaliação aplicamos alguns testes, no qual mostram a escala de desenvolvimento daquela criança comparada com o desenvolvimento típico. Essa avaliação é levada para o neuropediatra como material necessário para fechamento de diagnóstico”.
As mães Michele e Patricia têm uma rotina com os especialistas de seus filhos. “Nossa rotina como pais sempre foi de acompanhamento em terapias como psicóloga, terapia ocupacional, fonoaudióloga, acompanhamento de neurologista, examesSendo que nossas maiores dificuldades foram as escolas. No início, principalmente, pois as vagas de inclusões são muito delicadas e difíceis de conseguir”. - conta Patrícia.
Além de uma rotina pesada, as mães encontram preconceito por parte das pessoas, a Michele conta: “Já passamos por algumas situações em determinados lugares, as pessoas olharem diferente para ele. Aquele olhar preconceituoso, mas não deixo de ir e levar ele em lugar algum por causa disso. Só não vamos onde já sabemos que ele não se sentiria bem e poderia ficar com medo e ter crises”.
Já Patricia falou sua experiência que já passou por preconceito dentro da própria família: “De início até no meio familiar. Mas o maior preconceito acontece por parte dos colegas que não sabem lidar com a diferença”. E complementa dizendo que seu filho mais velho tem 15 anos e que agora está surgindo o desafio da interação social: “Hoje ele está na adolescência com muita dificuldade em interagir com os outros e infelizmente muitos não estão preparados para lidar com estas dificuldades”.
Ser mãe é uma tarefa difícil, mas com muito amor e dedicação é possível. Naara dá uma dica para as mães que acabaram de descobrir o autismo em algum filho: “Se teu filho apresenta algum atraso nem que seja pequeno, comparado com outras crianças que ele convive, leve para avaliação, não espere. Essa história de que cada criança tem seu tempo é mito, é necessário avaliar e intervir o quanto antes para aproveitar a idade em que eles mais aprendem, aproveitar a neuroplasticidade que é a capacidade do cérebro realizar novos caminhos e novas conexões”.
As mães também dão algumas dicas: “ Não ter vergonha ou negação ao quadro, pois eles são maravilhosos, autênticos, verdadeiros e superinteligentes, tem inúmeros dons a serem explorados”, fala Patrícia.
Michele declara: “Ele é uma criança maravilhosa, como toda criança é única, imagina o autista então. Longe de mim romantizar o autismo, seja leve ou severo, afinal cada um tem suas particularidades, assim como toda família. A luta diária é de cada um e não é fácil, é cansativo. Porém, acima de tudo é gratificante cada coisa que eles fazem, cada palavra, cada música que aprendem a cantar, é um aprendizado diário. O Thaide só trouxe luz às nossas vidas e nos fez ver e dar valor às coisas simples do dia a dia. Demoramos quatro anos para ouvir ele nos chamar de papai e mamãe, então hoje ele nos chamar é música para nossos ouvidos”.