A Sociedade Chauá existe há mais de 20 anos, em um belo e amplo espaço em Campo Largo
A Sociedade Chauá existe há mais de 20 anos, em um belo e amplo espaço em Campo Largo, mais precisamente entre os bairros Rondinha e Fazendinha, com viveiro, laboratório e possui escritório em Curitiba. A instituição detêm hoje um amplo e belo espaço, no qual são produzidas cerca de 60 mil mudas de diversos tipos de plantas por ano, principalmente as raras e em extinção.
“Iniciou em 1997, com um grupo de amigos e estudantes da Universidade Federal do Paraná, em que todos gostavam muito da área de Botânica e preservação ambiental, então tiveram a ideia de fazer uma expedição de caiaque pelo litoral do Paraná e desde então começou a aliar a parte de aventura e também da pesquisa e documentação da vegetação do litoral”, conta Pablo Hoffmann, engenheiro Florestal e diretor executivo da ONG Sociedade Chauá.
O grupo, formado por aproximadamente oito pessoas, começou a tornar as expedições mais frequentes e contar com o apoio de mais universitários, que nem sempre tinham relação com a área da Botânica e a partir de 2003 o movimento foi formalizado. “Começamos então a trabalhar nesta área de conservação ambiental e pesquisa, mas sempre de maneira mais voluntária mesmo, com trabalhos sendo feitos no final de semana. Foi em 2005 que começamos a montar o viveiro, que começou pequeno e foi sendo ampliado ao longo dos anos”, relembra Pablo.
“Nós vimos que este era um nicho importante, que mesmo dentro do mundo acadêmico eram poucas as pesquisas e instruções sobre como plantar mudas de determinadas espécies. A maioria das pessoas trabalhava em outros lugares, ainda dentro desta área de Botânica, mas não fazendo serviços para a ONG diariamente, e vimos a necessidade de aplicar para editais de projetos, começamos a crescer, fizemos planos de manejo, inventários de área naturais, entre outros serviços, iniciando a atuação exclusiva para a Sociedade Chauá”, completa.
Foi em 2010 que Pablo saiu do seu emprego para dedicar-se somente à Sociedade Chauá e ao mestrado que fazia na época. “Aos poucos conseguimos aumentar os canteiros, fomos construindo laboratórios, compramos equipamentos e foi ficando cada vez mais sério, mais mão de obra voltada unicamente para o projeto. Como começamos com um grupo de amigos, ainda temos essa premissa de trabalhar em um local que promova o bem-estar e a amizade entre os colaboradores, essa filosofia nos move. Hoje temos cinco pessoas que trabalham diretamente aqui, sendo cinco engenheiros florestais, duas biólogas e um viverista e temos os voluntários”, relembra.
Sobre os voluntários e estagiários, Pablo comenta que há pessoas que vêm do exterior para atuar na Ong. Já receberam pessoas da Inglaterra, Suécia, Dinamarca, Itália, Japão, França, Alemanha, Argentina, Estados Unidos e outros países, fortalecendo tanto a troca de informações a respeito do manejo, como fortalecendo a troca cultural entre os participantes.
O que é Chauá?
Pablo explica que Chauá é o papagaio de cara roxa, que está presente no Litoral Norte do Paraná e Litoral Sul de São Paulo e é uma espécie ameaçada de extinção.
“Hoje não tem muita ligação com a nossa área de atuação, pois desenvolvemos mais pesquisas e exploramos as áreas de florestas com araucárias, mas tem a parte da filosofia, em conscientizar sobre a preservação tanto da fauna como da flora”, acrescenta.
Processo de cultivo
O trabalho começa no momento em que se tenta encontrar espécies raras e em extinção na natureza. Atualmente são mais de 2.600 matrizes ou árvores porta-sementes espalhadas na região. É um trabalho que exige bastante conhecimento de quem está procurando, para conseguir identificar o indivíduo.
“É um trabalho bastante cansativo e caro, onde ficamos horas caminhando na floresta, com muita atenção para identificar, pois muitas vezes são pequenas singularidades que determinam se é uma matriz ou não. Normalmente, nós não temos o critério da árvore mais reta ou com mais frutos, mas seguimos algumas características, como indivíduo adulto, saudável e com potencial para produção de sementes. Nós buscamos marcar estas plantas em áreas de preservação federal ou estadual ou áreas particulares que sejam de reserva, e ainda, locais onde garantam que a árvore estará lá ao longo do tempo”, frisa.
Para que a coleta seja feita na época certa, a equipe acompanha o desenvolvimento da planta, evitando perdas. “Nós coletamos, trazemos para a Chauá e classificamos a semente. Algumas duram muitos anos sem germinar, enquanto outras, como o pinhão por exemplo, que dura muito pouco, necessitamos germinar imediatamente. Em geral, a época mais propícia para a coleta é de novembro até março/abril. Algumas produzem no inverno, mas ainda assim é raro”, diz.
Depois da coleta, é realizada a germinação, que se desenvolve de maneira catalogada e acompanhada pela equipe. Essas sementes se tornam em mudas que são encaminhadas aos viveiros, sendo separadas por suas particularidades, como plantas que necessitam de mais exposição ao sol, precisam de mais sombra, aquelas que devem receber mais água ou menos água, sendo um ecossistema próprio. “É desafiador alocar elas nesta logística, por serem de muitas espécies. Nós não utilizamos fertilizantes químicos, somente uma vez no ano fazemos essa fertilização, mas em geral nós fazemos todo o processo de modo orgânico. O mesmo acontece com o uso de defensivos, que são utilizados em casos extremos, o que aconteceu uma vez até hoje. Por termos um grande número de espécies, não há ocorrências de pragas. Acontece, mas é raro”, comenta.
Cada muda recebe a devida atenção, diariamente, em um trabalho extremamente minucioso, feito manualmente, e documentado. “Nós tentamos ter o maior número possível de espécies cultivadas e documentadas aqui, tanto das raras, como das ameaçadas de extinção, que estão em estado crítico de desaparecimento – podendo acontecer entre 10 a 15 anos. Por essa raridade e baixa ocorrência, podem acontecer cruzamentos entre espécies diferentes, dificultando a polinização natural, ficando muito distantes e levando a extinção”, explica.
O tempo de desenvolvimento de cada planta é respeitado e, assim que possível, elas são encaminhadas para projetos próprios de recuperação ou projetos parceiros. Todo este processo resulta em publicações de pesquisas científicas, para guiar outros projetos e profissionais, como também para a sociedade compreender a importância de preservar as áreas de floresta.
Como podemos ajudar?
“É importante que as pessoas estejam conscientes de como consomem e o que consomem, se isso não está ajudando a degradar o meio ambiente, desmatando. Conheça e estude sobre a parte ambiental, pois nós fazemos parte deste meio também, está relacionado diretamente com a vida humana, qualidade do ar, da água, entre outros fatores”, diz.
Outra forma de ajudar é contribuir com as instituições sérias, como a Sociedade Chauá, que desenvolve um trabalho amplo desde a pesquisa de sementes até o plantio de espécies raras e em extinção.
“As pessoas podem ser voluntárias, auxiliando projetos voltados à preservação ambiental e cuidado com a natureza, animais e etc. Além disso, é nosso papel ao viver em uma democracia cobrar as autoridades para que existam leis voltadas à preservação ambiental e um canal eficiente de denúncias de irregularidades”, finaliza.
Para mais informações acesse: https://www.sociedadechaua.org/.