Não há como controlar os pensamentos, mas eles podem ser sinais de que uma atenção à saúde da mente é necessária
Quem nunca teve pensamentos “estranhos” que vieram “do nada” que atire a primeira pedra. Ou melhor não. Os pensamentos intrusivos são pensamentos indesejáveis que surgem na mente sem qualquer aviso e sem controle. Eles costumam ser desagradáveis, estressantes e acabam preocupando a pessoa, ou seja, geram um sofrimento emocional.
Quem explica é a psicóloga clínica Priscilla Chervinski (CRP 08/27521), que comenta que os pensamentos podem se apresentar em forma de frases ou imagens mentais (devaneios, lembranças e sonhos). “Os pensamentos intrusivos podem ser um problema quando eles têm uma intensidade elevada, duram por muito tempo e é frequente em sua vida. Todos nós, seres humanos, temos pensamentos a todo o momento, provavelmente quem estiver lendo essa matéria deve estar pensando algo nesse momento, em alguma atividade que precisa fazer ou algo relacionado a esse texto, por isso não são todos os pensamentos que são intrusivos, eles fazem parte da nossa vida.”
Ela explica que como todo ser humano pensa, não há uma regra para que o pensamento intrusivo aconteça ou surja. A psicóloga diz que o pensamento intrusivo é um sintoma e pode estar ligado com algum transtorno mental, então ele pode surgir quando criança até idosos.
Pensamento intrusivo e os transtornos mentais
Segundo a psicóloga, existe sim uma ligação entre pensamento intrusivo e pessoas com ansiedade. “Pessoas mais ansiosas têm a tendência a interpretar algumas questões da vida de uma forma catastrófica, ou seja, intensificam a situação, o que leva o indivíduo a sentir sintomas físicos como, por exemplo, coração acelerado, sensação de falta de ar, pressão no peito, tremor. Há ainda o chamado sintoma cognitivo, que pode ser chamado de pensamentos intrusivos, como por exemplo imagens assustadoras, pensamentos de que não conseguirá passar pela situação temida. Existem outros transtornos ligados com esses pensamentos como depressão, bipolaridade, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), transtornos de ansiedade, transtornos de personalidade, como disse anteriormente, os pensamentos intrusivos podem ser sintomas para algum transtorno, por isso precisa ser avaliado”, recomenda.
Segundo ela, durante a terapia cognitivo-comportamental há uma lista chamada de distorções cognitivas, no qual podem ser verificados vários pensamentos distorcidos.
O excesso de informações negativas também precisa ser reconsiderado. “Tudo depende da forma como a pessoa interpreta a situação, mas o excesso de informações trágicas pode sim gerar mais ansiedade, por exemplo. O filtrar informações é importante. Não digo que a pessoa ficará ‘cega’ às informações, mas é importante também para as coisas boas, positivas”, pontua.
Controle de pensamentos?
“Não temos controle sobre nossos pensamentos, primeiro precisamos entender que nem tudo o que se passa pela nossa cabeça é verdade. Existem algumas técnicas dentro da terapia cognitivo-comportamental que chamamos de técnicas cognitivas. Uma dica importante é avaliar esse pensamento, quando tiver um pensamento intrusivo que gere desconforto, é possível fazer as seguintes perguntas: Quais são as evidências que provam que esse meu pensamento é verdadeiro? - Quais são as evidências que provam que esse meu pensamento é falso? Quais são as chances desse pensamento realmente acontecer (0-100)? Existe outra forma de pensamento mais adequado à situação? Com isso, a pessoa vai pensar sobre o que ela está pensando e colocando ele em questão”, orienta.
Assim, a psicóloga explica que a busca por ajuda profissional precisa ser feita quando o indivíduo não consegue resolver aquele problema sozinho, quando atrapalha as suas relações familiares, sociais, amorosas muitas vezes gerando insônia, irritabilidade, comportamentos de fuga. “Não buscar tratamento pode sim agravar esses pensamentos intrusivos, gerando cada vez mais sofrimento emocional. Caso o indivíduo não busque ajuda e não saiba lidar com seus pensamentos o mais provável é que ele tenha cada vez mais sofrimento. A busca por ajuda psicológica e psiquiátrica é necessária”, aconselha. “Caso a pessoa perceba que isso atrapalha o dia a dia, já causou um grande mal para as relações e para ela mesma, não deve ter medo de buscar ajuda. Preocupações excessivas, pensamento negativos e intrusivos que levam a comportamentos e emoções intensas prejudicam sua vida como um todo. Com ajuda de profissionais capacitados, é possível ter uma melhor qualidade de vida”, conclui.