Autossabotagem e procrastinação são os grandes vilões de um trabalho bem feito; ter foco em objetivos nas mais variadas áreas da vida é essencial
A grande maioria das pessoas colocou como metas ser mais produtivo e fazer de 2022 um ano diferente. Porém, quantas delas realmente já fizeram das oportunidades uma realidade? Propor a mudança e realmente desempenhá-la é algo bastante difícil, mas essencial até tornar-se um hábito.
“O foco e a produtividade não são os únicos responsáveis pela execução de um bom trabalho. É preciso existir um conjunto de ações, com planejamento, organização, controle. O PDCA é uma ferramenta que ajuda nesta organização”, explica Andreia Bonato, consultora em treinamentos e empresária na área de treinamento e desenvolvimento de pessoas.
O PDCA citado pela consultora é também conhecido como Ciclo de Deming, que trata de uma metodologia de gerenciamento que tem como objetivo a melhoria de processos de forma constante. Esse ciclo se baseia em quatro etapas: planejar (plan), fazer (do), checar (check) e agir (act), conforme explica o site Sydle. “As características mais importantes para conseguir realizar um bom trabalho são a organização, agenda – que podem ser por aplicativos - e gestão de tempo. Algumas pessoas precisam anotar em papel físico mesmo e, muitas vezes, ao se organizar percebe que sobra tempo, porque aprende a estabelecer prioridades”, comenta.
Um exemplo citado por Andreia acontece muito dentro da área comercial. “Há metas e elas são números altos para serem alcançados no prazo de 20 a 25 dias. É importante pegar este valor e dividir por dia. Se tiver uma meta de R$ 100 mil em 25 dias, isso representa R$ 4 mil por dia. Fica muito mais leve. Passando essa mensagem para o nosso cérebro, isso se torna mais palpável e mais fácil de ser alcançada, porque estamos visualizando o que precisa ser feito para o dia”, reforça.
Ela comenta que essa metodologia é simples e parte do princípio da prioridade. Ela pode ser aplicada dentro de casa ou nos estudos. “Se eu não me organizar, colocar essas prioridades, eu acabo andando em círculos, ficando cansada e não saio do lugar, sem conseguir executar as atividades principais”, completa.
Foco desafiador
Andreia explica que a manutenção do foco é extremamente desafiadora. “O foco vai desde o ambiente em que você está inserido para a execução do trabalho, até mesmo as pessoas próximas de você, objetos e outras distrações que possam vir inconscientemente. Uma opção que ajuda é realizar meditações ou atividades físicas pela manhã, podendo ser de 30 minutos, mas irá gerar resultados para todo o dia. A pessoa libera endorfina e seratonina que auxiliam muito neste processo de manutenção de foco. As pessoas que praticam alguma atividade nas primeiras horas da manhã vão muito mais tranquilas para o trabalho, pois conseguem focar mais”, ressalta. Ela cita ainda que Dr. João Paulo Borin, professor do curso de Educação Física da Unicamp, fez uma pesquisa que mostrou que se quando há execução de exercícios regulares, os mesmos podem ajudar muito na memória, resistência e foco.
Procrastinação: a vilã
A consultora pontua que falta de produtividade e procrastinação são completamente diferentes. “Um dos maiores desafio das pessoas é não procrastinar. Adiar as tarefas, deixar para amanhã, acaba afetando demais o desempenho do colaborador e a empresa consegue perceber aqueles que procrastinam. São as pessoas que sempre estão com tarefas pendentes, mas está naquela ‘eu já vou entregar, só falta finalizar’, mas não entrega. Esse é o funcionário que já está na empresa às vezes há muito tempo, entende a dinâmica, mas não consegue se organizar, precisa se sentir mais preparado para executar a tarefa e demora para cumpri-la”, revela.
Segundo ela, a procrastinação está relacionada às questões de autoestima, estresse, insegurança e muitas vezes precisa de terapia para ser resolvida. “O entrevistador, por exemplo, consegue perceber quando a pessoa tem questão de procrastinação. Ela tem dificuldade de comunicação e apresenta um comportamento inseguro. É uma situação em que precisa procurar ajuda e está relacionada ao estresse e tem cunho autodestrutivo. Quem está procurando trabalho e tem este perfil costuma achar que os outros são melhores do que ela. Nas entrevistas ficam tão mal que não conseguem saber o que precisam melhorar. Este é um problema”, pontua.
Novos empregos, entrevistas e feedback
Se perguntas simples na entrevista parecem extremamente complexas é importante anotar as situações que precisam ser trabalhadas no dia a dia. Após a entrevista, a dica é fazer um check-list do que a pessoa percebeu que não foi bem e, conforme ela comenta, é parar e analisar a si mesmo.
“Em um programa especial com duração de quatro semanas que eu fiz com jovens, voltado para inserção no mercado de trabalho, eu fiz algumas simulações de entrevista e tivemos alguns casos da pessoa entrevistada passar muito mal, transpirar excessivamente, falaram coisas erradas e até o que não deveria falar. Faltou preparação. Eles anotaram o que tinham feito para melhoria e assim a pessoa vai se desenvolvendo. O mesmo vale para quando já está na empresa e recebe um feedback”, comenta.
É hora de um novo emprego?
“O momento de procurar outra oportunidade surge a partir da reflexão sobre há quanto tempo está ali e como você sai do seu trabalho. Não tem como ser feliz 30 dias por mês, pois a vida é de altos e baixos, mas é preciso avaliar se você está satisfeito com o que está fazendo. Se você tem tido muitas dores de cabeça ou manifesta desânimo, ‘detesta seu trabalho’, é hora de repensar. O dinheiro é necessário, porém se você trabalha em algo que não gosta, vem a doença e o seu esforço financeiro é usado para recuperar a sua saúde”, alerta.
Ela reforça dizendo que a própria pessoa consegue saber os sinais de quando há término de um ciclo e comenta que quando há desmotivação ou essa quebra, muitas pessoas tendem a fugir da sua função. “O ser humano precisa estar em constante movimento. Conheço várias situações que a pessoa está há anos na mesma empresa e vive com o pensamento que ‘odeio o chefe, odeio os colegas, odeio o ambiente de trabalho’, mas não saem de lá. A resposta é sempre que precisa do dinheiro, mas esse é um pensamento sabotador, a procrastinação de ‘ir levando’. É preciso parar de encontrar desculpas, se motivar de dentro para fora e estabelecer uma meta, onde quer chegar. A zona de conforto é um problema”, completa.
Por isso, Andreia recomenda que levante mais cedo, estude, adquira conhecimento que é o único bem que ninguém tirará. “É preciso separar as coisas. Ao sair do trabalho não fale sobre o trabalho, faça outras coisas. Largar o celular, ele é um vilão. As pessoas não largam o celular mais e isso faz delas disponíveis 100% do tempo e isso não pode acontecer. São tentativas que precisam ser feitas. As pessoas precisam ter estratégia de gestão de tempo. Dentro de casa mesmo, dividir e delegar as tarefas – pois chega uma hora que você está sufocado, fugir da procrastinação, usar agenda, definir as metas e objetivos do dia. Evitar ocupar muito o dia com coisas que sabe que não irá cumprir. Levante cedo, durma cedo. Isso ajuda muito na disposição. Agarrar o mundo não dá”, finaliza.