Longos períodos de lockdown e muitas incertezas em diversas áreas foi realidade nesta pandemia da Covid-19. Fiocruz afirma que vacinação é prioridade para controle
Pesquisadores da Universidade Johns Hopkins publicaram estudos que revelaram que as medidas de lockdown tiveram nenhum ou baixo impacto sobre a redução de mortes causadas pela Covid-19. Segundo análise e conclusão do artigo científico, a estimativa da redução das mortes em período de lockdown é de apenas 0,2% e a publicação vai contra outras pesquisas já divulgadas.
A Folha buscou a opinião do presidente da Acicla - Associação Comercial e Empresarial de Campo Largo, Bruno Boaron, que disse concordar com a pesquisa ao fazer retrospectiva dos acontecimentos. “No início a Associação foi favorável porque ninguém sabia o que fazer, mas logo depois já vimos que não adiantava fechar. Vindo para a realidade, vimos que primeiro teríamos que conviver com a doença. Sabemos que o comércio, indústrias e empresas em geral tinham protocolos para seguir, as escolas pararam, mas enquanto isso transporte coletivo funcionando normal e sem controle nenhum. Lockdown não serviu para nada”, argumenta.
Segundo o representante da Acicla, os empresários falaram muito sobre a questão social e econômica, além da questão de saúde que é fundamental. “Tem que pensar em saúde, economia e social juntos. Faz todo sentido essa pesquisa, não adianta remexer no passado, mas serve de aprendizado para o futuro e que daqui pra frente a gente consiga saber que vamos conviver por muitos anos e talvez o resto da vida com essa doença. Claro que vai se tornar endêmica, vai acabar baixando número de casos, mas mostra que o lockdown é uma etapa vencida, foi uma fase. Só o presidente da República batia nisso, a gente não tinha força, mas graças a Deus acabou passando”, completa.
A pesquisa da Johns Hopkins também afirma que os lockdowns tiveram grandes impactos no campo econômico e social. “Não encontramos evidências de que lockdowns, fechamento de escolas, fechamento de fronteiras e limitação de encontros tenham um efeito notório na mortalidade da Covid-19. [O lockdown] contribuiu para reduzir a atividade econômica, aumentar o desemprego, diminuir a escolaridade, causar perturbação política, contribuir para a violência doméstica e minar a democracia liberal.” O estudo conclui que os governos devem evitar medidas restritivas como o lockdown em benefício da estabilidade política e econômica dos países.
Vacina
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) afirmou que a vacinação é prioridade para o controle da pandemia, conforme divulgado pela Agência Brasil. Ainda em um cenário preocupante, com rápida transmissão da variante Ômicron, divulgaram que o controle depende prioritariamente da vacinação. A avaliação é de pesquisadores do Observatório Covid-19, da Fiocruz, que divulgaram na quarta-feira (09) um balanço de dois anos da emergência sanitária, que fez 5,71 milhões de vítimas no mundo e mais de 630 mil no Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou em 30 de janeiro de 2020 que a covid-19 representava uma Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional, e passou a caracterizar a disseminação da doença como uma pandemia, presente em todos os continentes, em 11 de março. Na época, a doença já tinha chegado a 114 países e causado 4,2 mil mortes. No Brasil, o Ministério da Saúde reconheceu a covid-19 como Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional em 3 de fevereiro.
A Fiocruz sugere que, nesse sentido, é essencial implementar quatro estratégias de saúde pública: garantir oportunidade de aplicação de vacina, com a disponibilidade em unidades com horário de funcionamento expandido e em postos móveis; realizar busca ativa por pessoas que ainda não iniciaram seus esquemas vacinais; massificar a campanha de incentivo à vacinação de crianças e reforçar os benefícios gerados pela correta higienização, assim como o bom uso de máscaras.
Os cientistas discutem no balanço de dois anos que a grande onda de casos causada pela variante Ômicron, que é 70 vezes mais transmissível que a Delta, tem gerado especulações sobre um possível fim da pandemia. Alguns países e agências de saúde já debatem ou põem em prática mudanças que representam a transição para uma endemia, o que caracterizaria a Covid-19 como uma doença presente no cotidiano.
O boletim ressalta, no entanto, que a mudança não significaria o fim das medidas de proteção individual ou coletivas. “A classificação da doença como endêmica representaria a incorporação de práticas sociais e assistenciais na rotina do cidadão e dos serviços de saúde e só poderia ser pensada após drástica redução da transmissão pelas novas variantes e por meio de campanha mundial de vacinação”, afirma o texto.
Ao fazer um balanço de dois anos, o boletim da Fiocruz descreve cada uma das fases da pandemia no Brasil. A disseminação da doença no país, além de provocar milhares de mortes e sobrecarregar os sistemas de saúde, resultou em uma combinação de efeitos sociais e econômicos que agravam as desigualdades estruturais da sociedade, avalia a fundação.
O momento atual, classificado como terceira onda, teve início em dezembro de 2021, coincidindo com uma epidemia de Influenza A (gripe) em vários municípios, com um período de festas, férias, relaxamento de medidas de restrição à mobilidade e ainda com a introdução no país da variante Ômicron.
“Em que pese o fato de a vacinação ter impedido que as internações e óbitos subam em igual velocidade aos casos, o aumento súbito de doentes faz crescer, inevitavelmente, a demanda por serviços de saúde, com impactos nas taxas de ocupação de leitos de UTI”, apontam os pesquisadores.
Segundo a Fiocruz, o cenário atual indica ocorrência de internações maior entre idosos, quando comparadas aos adultos, e níveis preocupantes de crescimento nas internações de crianças. “Por se tratar do último grupo em que a vacinação foi iniciada, já em 2022, as crianças representam hoje o grupo com maior vulnerabilidade”, afirmam pesquisadores.