Um ano atípico não pode ser desculpa para atrasar os exames de rotina, que são tão importantes para avaliar a saúde da mulher.
Um ano atípico não pode ser desculpa para atrasar os exames de rotina, que são tão importantes para avaliar a saúde da mulher. Anualmente, a campanha Outubro Rosa chega para alertar sobre a necessidade de manter em dia exames de rastreamento e prevenção do câncer de mama e, mais recentemente, câncer no colo de útero.
O médico cirurgião-oncologista Dr. Gustavo Canevari explica que durante esse período de pandemia as pessoas ficaram mais reclusas e com mais medo de ir aos consultórios médicos por conta do risco de exposição à Covid-19, mas que o câncer é uma doença muito mais grave e deve ser diagnosticada no início. “É preciso ter consciência que as clínicas médicas e clínicas de exames estão tendo todos os cuidados para evitar as disseminações de vírus e o paciente também deve adotar as medidas para diminuir o contágio. O câncer, em seu estágio inicial, quando há grandes chances de cura, pode ser uma doença silenciosa, por isso os exames de rastreamento e de rotina são essenciais. Não deixe de procurar seu médico, de fazer seus exames, pois eles são essenciais.”
O médico relata que sentiu esse receio dos pacientes mesmo dentro do consultório, pois as consultas diminuíram mais de 80% em um dia, especialmente dentro do grupo de risco. “Abandonar o tratamento por medo da Covid-19 também não é uma decisão acertada. A grande parte dos pacientes é da terceira idade e percebemos que eles têm medo de sair de casa, então se era para ter consultas mensais, já começam a faltar e isso é extremamente prejudicial ao tratamento, à luta contra o câncer, então precisamos ficar ligando para a pessoa, insistindo para que ela venha”, comenta.
O câncer de mama é hoje a principal causa de morte entre as mulheres brasileiras pela doença. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), em 2020 a estimativa de novos casos é de 66.280. Em 2018, a doença vitimou 17.763 pessoas, sendo 17.572 mulheres e 189 homens de acordo com o Atlas de Mortalidade por Câncer - SIM. Dr. Gustavo comenta ainda que, diante dos investimentos focados mais no tratamento de pessoas com a Covid-19 e na demora de busca por diagnóstico e tratamento adequado, nos próximos anos o Brasil tenha mais pacientes diagnosticados com o câncer já em estágio avançado, o que dificulta os resultados positivos e a sobrevida.
O que influencia o aparecimento do câncer?
“O câncer de mama tem influências multifatoriais, ou seja, ele pode aparecer por vários motivos. Geralmente as pacientes têm mais de 50 anos, com uma exposição hormonal maior (menstruaram muito cedo ou entraram para a menopausa mais tarde), têm a primeira gestação após os 30 anos, fizeram algum tipo de terapia hormonal, além dos fatores ambientais, como o uso do álcool e a obesidade. Mulheres que têm a influência do fator genético são casos bem mais específicos, ficando em torno de 10 a 15% dos casos apenas”, descreve o médico.
Para casos onde há histórico familiar de mãe, avós, tias ou irmãs com a doença é importante que o mapeamento seja feito antes mesmo dos 50 anos, conforme orientação do médico de confiança.
“Entre as recomendações de proteção estão levar uma vida em equilíbrio, com alimentação saudável, prática regular de exercícios físicos, controle de peso e estar em dia com as consultas médicas. Mulheres que desejam ser mães e têm seus filhos antes dos 30 anos, que amamentam por mais tempo têm uma proteção maior, visto que ficam menos tempo expostas aos hormônios”, explica.
A descoberta
O câncer é sempre um desafio e o Dr. Gustavo comenta que, ainda que as mulheres estejam mais acostumadas a rotinas de consultórios do que homens, elas acabam ficando mais abaladas ao receberem a notícia que estão com câncer. “Por isso o tratamento do câncer não é feito somente com o médico oncologista, mas com toda uma equipe multidisciplinar, que compõe a equipe de Enfermagem, Psicologia e Psiquiatria, Assistência Social – quando necessário – e Fisioterapia, para que a pessoa que está passando por esse momento delicado em sua vida tenha o melhor suporte possível”, diz.
“O tratamento do câncer de mama não é um tratamento fácil, pois há casos que a mulher precisa passar por uma mastectomia, e fica sem uma ou as duas mamas, além de perder o cabelo e todos os pelos do corpo durante oito a nove meses de tratamento, para casos de quimioterapia, tendo que administrar todos os efeitos colaterais que acabam vindo com os medicamentos. Não é um tratamento fácil, mas junto com a luta existem muitos casos de sucesso também”, comenta.
O tratamento pode ser composto de cirurgia, quimioterapia e radioterapia, que será estudado pela equipe médica e recomendado de acordo com o tipo do tumor e o estágio da doença – estágio 01 com 95% de chances de cura e estágio 04 com cuidados paliativos. O tratamento costuma durar entre oito e nove meses, mas requer um acompanhamento de pelo menos cinco anos do paciente. Quando diagnosticado no início, as chances de recidiva são próximas a 0%.