O suicídio é considerado ainda um tabu na sociedade, porém a
discussão é importante para conscientizar e buscar tratamento adequado
Um tema bastante sensível, mas muito necessário, e que ano após ano está ganhando espaço dentro da mídia. A campanha Setembro Amarelo surgiu com a intenção de criar a conscientização sobre a prevenção do suicídio. No Brasil, foi criado em 2015 pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), com a proposta de associar a cor ao mês que marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10 de setembro), conforme explica o site da campanha.
Neste ano, somente no mês de agosto, a Folha de Campo Largo tomou conhecimento de três situações de suicídio na cidade, que por questões éticas jornalísticas não são publicados. Segundo a Organização Mundial da Saúde, no mundo cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos, sendo considerado a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos, mais comuns em países de baixa e média renda, com 79% dos casos em 2016 – dados divulgados em 2018.
Trata-se de um grave problema de saúde pública; no entanto, os suicídios podem ser evitados em tempo oportuno, com base em evidências e com intervenções de baixo custo. Para uma efetiva prevenção, as respostas nacionais necessitam de uma ampla estratégia multisetorial.
Entretanto, a campanha deste mês vem com propósito de chamar a atenção da sociedade para o tema do suicídio, o qual por muito tempo ficou à margem da sociedade, conforme explica a psicóloga Laís Mendes Bucco. “É importante que façamos um trabalho em todos os níveis da sociedade para que possamos derrubar o tabu e falarmos abertamente sobre as doenças mentais. Hoje temos várias campanhas estimulando as pessoas que estão passando por estes conflitos procurarem ajuda com colegas, professores e pais, porém é importante frisar que somente um profissional da área da Psicologia pode fazer as intervenções terapêuticas necessárias.”
Ela explica que não é somente a depressão que pode levar o paciente a cometer o suicídio, mas também doenças mentais como o transtorno bipolar e alguns casos de esquizofrenia, que caso não forem tratados, podem levar o paciente a cometer o ato, dependendo do quadro clínico dos sintomas. “Importante ressaltarmos que qualquer tratamento envolvendo doenças mentais devem ser associado à psicoterapia, pois o tratamento medicamentoso irá atuar nos sintomas e a terapia irá auxiliar o paciente a entender melhor suas emoções. A preocupação com a saúde mental deve ser constante e não somente no mês de setembro. Os problemas emocionais não escolhem idade, sexo e nem classe social”, enfatiza.
Embora a psicóloga esclareça que não é possível limitar a sociedade em traçar um perfil suicida, já que cada um expressa seu sintoma de forma individual, ela explica que é possível conseguir “se livrar” do pensamento, com o acompanhamento profissional da evolução do paciente, no qual, os profissionais da área, conseguem com que o próprio paciente encontre um novo caminho para trilhar e olhe para a sua vida de outra perspectiva.
Sinais e tentativas
Há um velho paradigma de que “quem quer tirar a própria vida não avisa”, mas isso não é de fato uma verdade. Deve-se prestar atenção em alguns comportamentos e oferecer ajuda, conforme explica o Manual de Prevenção ao Suicídio do Ministério da Saúde. “Não há uma ‘receita’ para detectar seguramente quando uma pessoa está vivenciando uma crise suicida, nem se tem algum tipo de tendência suicida. (...). Entre eles: o aparecimento ou agravamento de problemas de conduta ou de manifestações verbais durante pelo menos duas semanas, preocupação com sua própria morte ou falta de esperança, expressão de ideias ou de intenções suicidas, como ‘vou desaparecer’, ‘vou deixar vocês em paz’; o isolamento.”
Para oferecer ajuda, o Manual recomenda: “Encontre um momento apropriado e um lugar calmo para falar sobre suicídio com essa pessoa. Deixe-a saber que você está lá para ouvir, ouça-a com a mente aberta e ofereça seu apoio. Incentive a pessoa a procurar ajuda de profissionais de serviços de saúde, de saúde mental, de emergência ou apoio em algum serviço público. Ofereça-se para acompanhá-la a um atendimento. Se você acha que essa pessoa está em perigo imediato, não a deixe sozinha. Procure ajuda de profissionais de serviços de saúde, de emergência e entre em contato com alguém de confiança, indicado pela própria pessoa. Se a pessoa com quem você está preocupado(a) vive com você, assegure-se de que ele (a) não tenha acesso a meios para provocar a própria morte (por exemplo, pesticidas, armas de fogo ou medicamentos) em casa. Fique em contato para acompanhar como a pessoa está passando e o que está fazendo”.
Quem quiser obter mais informações sobre como ajudar alguém ou pedir ajuda o material está disponível em: http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/suicidio.
“Infelizmente, ainda na sociedade que vivemos, as pessoas não consideram relevante o acesso à saúde mental achando que fazer terapia é algo sem necessidade ou então acabam somente tomando medicação, a qual irá atuar nos sintomas e não na causa real do problema. Devemos sempre levar em consideração os sinais que o paciente traz na terapia, cada pessoa irá expressar-se de forma diferente e cabe ao profissional estar atento a estes sinais. Caso a pessoa não tenha feito o tratamento correto e já tenha tentado tirar a própria vida, terá mais chances de ter outra ‘crise’ depressiva e a ideação suicida pode retornar e em alguns casos com mais intensidade”, diz.
A psicóloga recomenda que em casos de morte por suicídio dentro da família é importante que todo núcleo familiar busque auxílio terapêutico, pois muitas vezes há um sentimento de culpa entre os familiares, gerando assim um desgaste emocional maior do que o luto em perder alguém próximo.
Telefones úteis da rede pública
Busque ajuda para prevenir o suicídio nos CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde) e no Centro de Valorização da Vida – 188 (ligação gratuita). “O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, email, chat e voip 24 horas todos os dias. A ligação para o CVV em parceria com o SUS, por meio do número 188, são gratuitas a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular. Também é possível acessar www.cvv.org.br para chat, Skype, e-mail”, conforme consta no Manual do MS.
Em situações de socorro à pessoa que tentou cometer suicídio, a ajuda pode ser conseguida no Centro Médico Hospitalar, Samu 192 e demais hospitais.