Um filho suspeito de matar o próprio pai preocupa a sociedade, que questiona até onde esses jovens podem chegar. Psicóloga orienta que indícios primários devem ser observados
A notícia do último domingo (14) de que o filho é suspeito de ter matado o próprio pai levanta diversos questionamentos do que está acontecendo com muitos jovens, do que leva a tanta violência principalmente quando se fala da relação familiar, em que o sentimento deveria ser totalmente o oposto.
A Folha conversou com a psicóloga e psicopedagoga Milene Christianne Rampim da Rosa, que atende muitas famílias e também já tem experiência de ter trabalhado no Centro de Atenção Psicossocial – CAPS. Segundo ela, são muitos os fatores que podem desencadear um ato abusivo e até fatal de violência doméstica. Estão relacionados tanto à desestruturação de personalidade do indivíduo quanto a problemas familiares e sociais.
O que pode ocasionar situações como essa também é o consumo de drogas. “O uso de drogas é um agente significativo e gerador de comportamentos violentos, pois são substâncias psicoativas, que interferem negativamente nas funções biopsíquicas no organismo, alterando os sentidos nas percepções básicas e potencializando sentimentos e emoções, como a raiva e a frustração, por exemplo. A dependência das drogas e a abstinência podem provocar reações comportamentais violentas e quadros de desvios de conduta severos”, explica a psicóloga.
Muitos pais não sabem lidar com a falta de controle dos jovens e por muitas vezes não seguirem suas orientações. Milene comenta que é essencial ter uma “responsabilidade afetiva”, que é um olhar atento a todas as etapas do desenvolvimento da criança e adolescente. “Eles sinalizam em momentos específicos na infância e adolescência os indícios primários de desequilíbrios e dificuldades. Essa observação cuidadosa previne situações agravantes de sofrimento, tanto do causador de um comportamento violento, como o da vítima que sofre tal agressão”, completa ela, detalhando que intervenções pontuais são de suma relevância durante o crescimento dos filhos, para que estes desenvolvam condições psicológicas adequadas que gerem comportamentos de boa conduta na vida adulta.
O processo educativo pode ser repleto de lacunas e gerar consequências graves. Mas, para ela, existe uma chance de reverter, quando a pessoa reconhece a necessidade e aceita uma chance de tratamento, junto a órgãos que promovam programas sócioeducativos, terapias ocupacionais individuais e em grupo, terapias familiares, acompanhamento medicamentoso e psicológico. Além disso, conclui que manter-se informado e poder contar com a disponibilidade de orientação e acompanhamento profissional especializado são recursos de ajuda preventiva e de tratamento.