Estas pessoas também devem estar preparadas para reconhecer os sinais e saber como ajudar crianças e adolescentes
A violência sexual, seja ela cometida com conjunção carnal ou ato libidinoso, deixam muitas marcas na vida de uma pessoa, especialmente quando são crianças. Por isso é importante que pais, professores e responsáveis pela criança e/ou adolescente estejam atentos, saibam como abordar esse assunto a fim de prevenir e manter um diálogo aberto caso essa situação seja vivenciada um dia.
Carolina Gadens Marchiori, psicóloga especialista em Psicologia Clínica Cognitivo Comportamental e em Sexualidade Humana, explica que para a prevenção os pais devem abordar o tema de acordo com a faixa etária e o entendimento da criança. “No geral é importante que os pais as orientem com relação a alguns aspectos: a respeitar o limite do seu corpo; que a criança pode se negar a beijar e abraçar qualquer pessoa se ela não se sentir confortável para isso (mesmo que seja uma demonstração de afeto); ajudar a criança a identificar quais partes do corpo podem ser tocadas/fotografadas/filmadas ou não e nomeá-las. Da mesma forma, elas não deverão tocar essas partes do corpo em outras pessoas, mesmo que sejam pessoas “legais” e que ofereçam brincadeiras e doces em troca. Orientar que ela não deve manter segredos com as pessoas de sua confiança, mesmo que falem que acontecerá algo ruim ou que os pais vão ficar bravos se elas contarem. Orientar que elas devem contar mesmo se o adulto/criança que propuserem isso tenham convívio próximo. Os pais devem ensinar seus filhos a como sair de possíveis situações de risco. É importante também que os pais fiscalizem com frequência celulares e sites que seus filhos navegam, já que são formas de aproximação utilizadas por pedófilos.”
Para que essa prevenção seja efetiva, também é importante que os pais, responsáveis e professores saibam os sinais que essas crianças e adolescentes demonstram quando algo não está certo. “Elas podem demonstrar de diferentes formas, depende de como ocorreu o abuso, da personalidade da criança, do ambiente familiar e da rede de apoio da criança. É importante observar se ocorreu mudanças bruscas no seu comportamento. No geral é importante observar os seguintes comportamentos: se a criança está demonstrando um conhecimento sexual inapropriado para a sua idade, se ela procura envolver os colegas em brincadeiras sexuais, dificuldade para dormir, isolamento social, enurese, dificuldade para se concentrar, queda no rendimento escolar, dificuldade para confiar em adultos etc. É importante ficar atento se seu filho demonstra querer ficar longe de alguém do seu convívio”.
Caso ela apresente esses sinais e queira relatar, a psicóloga orienta que é melhor que o adulto mais escute do que fale ou questione, evitando colocar a culpa sobre a criança ou adolescente, que são as grandes vítimas de toda a situação. Esse diálogo deve ser feito de forma com que ela compreenda, ou seja, adequada à sua idade.
“Crianças e adolescentes que sofreram abuso sexual possivelmente poderão desenvolver dificuldades na vivência da sua sexualidade na vida adulta. Outras consequências bem comuns são a baixa autoestima, ansiedade, depressão e outros transtornos psiquiátricos graves. É importante que tanto os familiares quanto a criança/adolescente passem por Psicoterapia. O tratamento dos familiares é voltado tanto para o acolhimento de suas emoções quanto para que eles auxiliem seus filhos a expressarem e enfrentarem as dificuldades advindas do abuso. Com relação à vítima, o tratamento deve ser voltado para a expressão da experiência do abuso para permitir a ressignificação do trauma. Isso implica na criança perceber que foi vítima da situação, que ela consiga expressar gradualmente seus sentimentos com relação à experiência e que ela aprenda estratégias de enfrentamento, de autoproteção e habilidades sociais”, diz.
Existe um perfil de abusador?
A psicóloga explica que existem pessoas que apresentam o Transtorno de Preferência Sexual ou Parafilia, mas que nem todos podem ser encaixados no diagnóstico. “Elas se sentem atraídas por crianças. É um transtorno que se medicado e realizado o acompanhamento psicológico é possível o controle, mas não a cura. Os abusadores (que não têm o diagnóstico de pedofilia) aparentemente são adequados socialmente e por isso é mais difícil detectar. Os pedófilos tendem a ser pessoas solitárias e com aversão à sexualidade adulta. Apesar de serem comuns essas características, não dá para generalizar que todas as pessoas que as possuem podem ser consideradas pedófilos. Cada caso deve ser analisado isoladamente”, finaliza.