Domingo às 24 de Novembro de 2024 às 07:47:42
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Pesquisa aponta contaminação da água em Campo Largo por 27 tipos de agrotóxicos

Sanepar diz que irá contestar os resultados da pesquisa, já que no teste feito em seus laboratórios os resultados ficaram abaixo dos limites permitidos

Pesquisa aponta contaminação da água em Campo Largo por 27 tipos de agrotóxicos

Uma pesquisa divulgada nesta semana pela Agên­cia Pública, em parceria com Repórter Brasil e também a organização suíça Public Eye, apon­tou para dados preocupantes sobre a qualidade da água que os brasileiros ingerem. O levantamento feito pelo Mi­nistério da Saúde, por meio dos testes feitos pelo Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), que avaliaram amostras en­tre 2014 e 2017, mostrou que uma em cada quatro cidades estão contaminadas por um “coquetel químico”, provenien­te do uso de agrotóxicos nas lavouras. Em Campo Largo fo­ram encontrados 27 tipos de agrotóxicos na água, sendo 11 associados a doenças crônicas como câncer, defeitos con­gênitos e distúrbios endócrinos.

Embora os dados apontem uma informação de impacto, a Sanepar, responsável pelo abastecimento na cidade, en­viou uma nota oficial dizendo que: “A Sanepar informa que não foi detectada presença de agrotóxicos em nenhuma análise realizada pela empresa acima do Valor Máximo Per­mitido (VMP) pela Portaria de Consolidação 5, anexo XX, do Ministério da Saúde, conforme histórico disponibilizado a este Ministério. (...) Quatro laboratórios da Sanepar realizam semestralmente análises de agrotóxicos de todas as locali­dades atendidas pela empresa, conforme determina a legis­lação do Ministério da Saúde. São investigados 27 tipos de agrotóxicos e, em todos os testes, os resultados ficam abai­xo dos limites permitidos, ou seja, não foi detectada a pre­sença de agrotóxicos na água distribuída para a população”.

Entretanto, o uso dos agrotóxicos são uma realidade, inclusive em Campo Largo. Dessa forma, a Redação con­versou com a nutricionista Mayara Olikszechen, que expli­cou como esses agrotóxicos acabam indo parar na água. “Os agrotóxicos encontrados na água são aqueles aplica­dos nas lavouras e que vão parar nos rios e no lençol fre­ático, absorvidos pelo solo, ou levados pela água da chu­va. A exposição a agrotóxicos é considerada um problema de saúde pública e está associada a inúmeras doenças, en­tre elas o câncer, problemas de fertilidade em homens, dis­funções hormonais (entre elas puberdade precoce e altera­ções na tireoide) e má formação fetal. Em casos específicos de intoxicação aguda, podem ocorrer transtornos de visão, alergias, vômitos e efeitos neurológicos diversos, podendo levar até a morte.”

Embora existam hoje uma infinidade de filtros de água, a nutricionista ressalta que, alguns filtros (como o de carvão ativado e areia ou de barro) são capazes de tirar alguns ti­pos de agrotóxicos, mas não há um que dê conta de todos e alerta que uma vez ingerido, o agrotóxico não será elimi­nado pelo corpo, por isso a necessidade de uma atenção maior ao que está sendo consumido, pois uma vez utilizado no sistema agrícola, ele não é retirado do alimento, mesmo depois de lavado ou cozido.

“Como nutricionista, oriento meus pacientes a optarem por orgânicos quando possível e terem uma alimentação equilibrada com menor teor de açúcar, de sódio, gorduras para não haver sobrecarga do organismo. Os agrotóxicos são utilizados em larga escala principalmente para controle de pragas, insetos, fungos bactérias, sendo assim, a dura­bilidade dos produtos acaba sendo maior, mantendo a apa­rência mais bonita por mais tempo. Porém, o sabor é infe­rior quando comparado aos alimentos orgânicos”, orienta.

Para ingerir uma água de maior qualidade, a nutricionis­ta orienta que é possível aderir a água mineral, apesar dela também poder apresentar contaminação. Os filtros também são uma boa ferramenta para conseguir uma água de qua­lidade. “Tomar diretamente da torneira não é recomenda­do”, alerta.

O que está presente nos testes?

O site http://portrasdoalimento.info/agrotoxico-na-agua/ publicou um mapa interativo, onde é possível acessar a ci­dade e realizar a verificação da contaminação. Na explica­ção da metodologia, os desenvolvedores e jornalistas ex­plicam que “além do número de agrotóxicos na água por cidade, os dados permitem também enxergar a concentra­ção dessas substâncias, que é medida em microgramas por litro” e dizem que “os dados foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação em abril de 2018. O banco é atua­lizado de modo constante e novas informações acrescenta­das depois de abril de 2018 não estão no mapa. (...) O Sisa­gua reúne os resultados de testes que medem a presença de 27 agrotóxicos na água que abastece as cidades. As in­formações são enviadas por autarquias estaduais, munici­pais e empresas de abastecimento. A lei brasileira determi­na que os fornecedores de água no Brasil são responsáveis por realizar os testes a cada seis meses e apresentar os re­sultados ao Governo Federal”.

Entre os agrotóxicos encontrados estão: Alacloro, Al­dicarbe, Atrazina, Carbendazim + Benomil, Carbofurano, Clopirifós, Clordano, DDT, Diuron, Endossulfan, Glifosato, Lindano, Mancozebe, Metamidifós, Parationa Metílica, Per­metrina, Pendimentalina, Profenofós, Terbufós, Trifluralina, Molinato, 2,4D, Aldrin + Dieldrin, Endrin, Metolacloro, Sima­zina E Tebuconazol.

Alguns agrotóxicos são permitidos no Brasil e proibidos na União Européia (referência no controle e uso de agrotó­xicos no mundo), já outros são proibidos também no Brasil, mas ainda assim aparecem nos testes. As concentrações no percentual de água para agrotóxicos chega a passar de 80%.

Todos os dados completos estão disponíveis no link: https://portrasdoalimento.info/2019/04/12/conheca-os-27­-agrotoxicos-encontrados-na-agua-que-abastasse-as-cida­des-do-brasil/.

Existe uso seguro?

Desde 2008, o Brasil é o país campeão mundial no uso de agrotóxicos. Os agrotóxicos podem ser usados, desde que respeitem os limites impostos pela Lei, assim como em qualquer lugar do mundo. “Na minha opinião, qualquer subs­tância química não produzida pelo organismo não é segu­ra e sempre haverá riscos. Infelizmente nossas “margens de segurança” chegam a ser cinco mil vezes maiores do que em outros países. Assim fica fácil dizer que o uso se tor­na seguro. A nossa legislação e a falta de políticas públicas eficientes que controlem o uso é muito falha, por isso é tão grave”, finaliza.