Domingo às 24 de Novembro de 2024 às 10:42:59
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Mitomania quando a mentira passa a ser uma doença

Há quem diga que é pecado, outros classificam como aproveitar da situação ou falta de caráter

Mitomania quando a mentira passa a ser uma doença

Há quem diga que é pecado, outros classificam como aproveitar da situação ou falta de caráter, mas mentir compulsivamente pode ser uma do­ença, chamada de Mitomania. Embora não exista uma clas­sificação específica para ela, combinada a outros sintomas podem ajudar a diagnosticar uma série de distúrbios psiqui­átricos.

Quem explica é a psicóloga e pós-graduanda em Tera­pia Cognitivo Comportamental Leila Lilian Zotto. “São mais comuns esses casos desse distúrbio combinado a outros sintomas em pacientes factícios, borderlines, antissociais, histriônicos, narcisistas. Mentiras, até certo ponto, são re­cursos usados para ajustar situações e evitar desgastes emocionais imediatos. Elas ocorrem pela própria incapaci­dade do mentiroso em lidar com suas emoções.”

Entretanto, ela explica que a mentira compulsiva, por sua vez, “interfere no julgamento racional, no relaciona­mento familiar e, especialmente, social. São pessoas que contam histórias falsas de forma sistematizada, criando fan­tasias e acreditando que elas sejam reais”.

Segundo a psicóloga, o mentiroso compulsivo apresen­ta alguns sintomas. “Ele tem uma tendência em se mostrar extremamente feliz, corajoso, esperto, bem sucedido; as histórias se apresentam sempre de maneira muito favorá­vel, positiva a ele; tem a necessidade de atenção e apro­vação; mente como um hábito, pode esconder a verdade sobre tudo, algumas vezes são pequenas mentiras, outras são muito elaboradas, cheias de detalhes; não sente arre­pendimento em não dizer a verdade e não expressa ne­nhum valor moral quanto a isso; o mitômano tem dificuldade em aceitar a própria realidade e também sofre com baixa autoestima”, diz.

A mitomania pode trazer muitos prejuízo para aque­la pessoa e também para todo o círculo social, principal­mente porque a pessoa na condição de mentirosa começa a transmitir falta de confiança e a passar por situações embaraçosas nos relacionamentos e amizades, acaban­do por ser excluída dos grupos que frequenta. Leila diz que a mentira começa a se tornar tão grave, que eventu­almente pode causar problemas de ordem social, psicoló­gica e até legal.

“Porém, vale ressaltar que não se pode confundir um mentiroso compulsivo com um sociopata, o qual mente in­cessantemente orientado para obter uma vantagem, um ganho, com pouca ou nenhuma preocupação com a con­sideração ou respeito pelos direitos e sentimentos dos de­mais. Geralmente são encantadores e carismáticos, mas usam suas habilidades e talentos sociais de forma mani­puladora e egocêntrica. Enquanto que a maior parte dos mentirosos compulsivos não são necessariamente ma­nipuladores, eles sofrem com seu hábito de mentir, preo­cupando-se com as relações sociais, sob risco de serem quebradas”, explica.

Entretanto, ao identificar uma pessoa que sofre deste mal, é importante que elas compreendam essa fase da vida e, principalmente, não alimentem a mentira, buscando tra­zê-lo, de forma positiva, de volta à realidade, buscando a reinserção social. A psicóloga explica que o tratamento ge­ralmente envolve acompanhamento psicológico e, no caso de pessoas que também apresentem outros quadros psi­quiátricos (como depressão e ansiedade), tratamento me­dicamentoso pode ser recomendado. “A doença da mentira não se resolve sozinha, é preciso acompanhamento psico­terapêutico para ajudar o indivíduo a desenvolver novos re­pertórios, reforçando relatos verdadeiros e ignorando falsos relatos. Nesse contexto, trabalha-se a extinção desse hábito disfuncional através do foco na visão distorcida de si mes­mo. Se você reconhece alguém nesta situação ou, até mes­mo, se vê desta forma mencionada, busque auxílio”, orienta.

Mentira e o círculo social                                            

“Já na infância começa-se a perceber quando a crian­ça tem dificuldade de enfrentar algumas frustrações e crí­ticas e acabam mentindo para familiares e amiguinhos, na tentativa de preservar a sua autoimagem. Mas, como ain­da não possui maturidade mental, essa característica só as­sume um caráter patológico quando se constata que sua mentira pode ser entendida como verdade, sem nenhuma consequência negativa associada”, explica. Assim, Leila ex­plica que se em algum momento de sua vida ela se bene­ficiou com esse comportamento, tornando-o um hábito e o alimentou de maneira que ficasse incontrolável. A profissio­nal diz ainda que um conjunto de fatores associados podem provocar o início do problema, como histórico de vida, rela­cionamentos, padrão de relação familiar, genética e experi­ências vividas.

Pais ou pessoas próximas da criança, que mentem com muita frequência, podem influenciá-la a fazer o mes­mo, já que, segundo Leila, essa mentira passa a ser enten­dida como verdade e não prevê nenhuma consequência negativa associada. O mesmo acontece quando há uma pessoa em um círculo social que mente compulsivamen­te, e força as outras pessoas a mentirem também para não desmerecê-lo ou envergonhá-lo. Por isso, buscar ajuda é tão importante.