Segunda-feira às 25 de Novembro de 2024 às 01:59:54
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Campo Largo registrou 50 ocorrências de crimes Contra a Dignidade Sexual em seis meses

Os dados são estarrecedores, pois mostram um aumento significati­vo. No ano passado, de janeiro a junho, a Delegacia havia re­gistrado 38 boletins e neste ano foram 50 no mesmo período. Psicóloga explica os danos à

Campo Largo registrou 50 ocorrências de crimes Contra a Dignidade Sexual em seis meses

A Polícia Civil, por meio da sua Assessoria de Co­municação, forneceu à Folha de Campo Largo um comparativo do primeiro semestre dos anos de 2017 e 2018 sobre o registro de ocorrências na cidade no tocante a crimes Contra a Dignidade Sexual. Os dados são estarrecedores, pois mostram um aumento significati­vo. No ano passado, de janeiro a junho, a Delegacia havia re­gistrado 38 boletins e neste ano foram 50 no mesmo período.

Entre os crimes estão o assedio sexual, assedio sexual em vítimas menores de idade, corrupção de menores, estu­pro de vulnerável, estupro de vulnerável com lesão corporal grave, estupro ou atentado violento ao pudor e estupro ou atentado violento ao pudor, que resultou em lesão corporal em menores com mais de 14 anos. O crime dessa nature­za mais cometido na cidade é o estupro de vulnerável – em que as vítimas são crianças de zero a 14 anos, com 30 ca­sos registrados somente neste ano. O mês com maior inci­dência foi março, que registrou oito casos, seguido de maio e junho, com cinco casos cada.

A psicóloga e especialista em Sexualidade Humana, Carolina Gadens Marchiori, explica que vítimas de estupro podem ter problemas para desenvolver sua sexualidade no futuro, além de poderem apresentar bai­xa autoestima, ansiedade, depressão e outros transtornos psiquiátricos, neces­sitando ser identificado e realizado o tra­tamento o mais breve possível.

“Crianças e adolescentes que so­freram abuso podem demonstrar de di­ferentes formas, depende da forma que ocorreu o abuso, da personalidade da criança, do ambiente familiar e da rede de apoio da criança. É importante obser­var se ocorreram mudanças bruscas no seu comportamento, como se a crian­ça está demonstrando um conhecimen­to sexual inapropriado para a sua idade, se ela procura envolver os colegas em brincadeiras sexuais, dificuldade para dormir, enurese (emissão involuntária de urina), isolamento social, dificuldade para se concentrar, queda no rendimento escolar, dificulda­de para confiar em adultos, entre outros”, orienta a psicóloga.

Outro público que também acaba sendo vítima com fre­quência é de mulheres idosas, e nelas, Carolina diz que reações como vergonha de denunciar o abusador, por se sentirem constrangidas, são comuns. Ela aconselha a ob­servar sinais físicos (lesões ou infecções nas genitais, DST’s) e comportamentais, como medo de se despir, de to­mar banho, de tirar a roupa e a desconfiança.

Prevenir e falar sobre o tema

Segundo a psicóloga, o primeiro passo para a preven­ção é construir um relacionamento de confiança com os fi­lhos. Os pais também devem ensinar os nomes das partes do corpo e explicar quais são particulares, que ninguém deve mexer, ver, fotografar, e que ela também não pode to­car em outras pessoas. “Os pais devem ensinar a forma com que as crianças devem estabelecer esses limites. É impor­tante comunicar que independente de qualquer coisa, as crianças devem sempre avisá-los se alguém tentar exceder esses limites e que os pais não vão ‘brigar’ - como muitos abusadores falam como forma de intimidação - se elas con­tarem a eles. Além dessas medidas, os pais devem conhe­cer as pessoas com quem seus filhos convivem e sempre observar o que as crianças têm vi­sualizado nos meios de comunica­ção”, orienta.

Segundo ela, crianças que acabam presenciando cenas de sexo ou têm contato com material pornográfico muito cedo, por não estarem psicologicamente prepa­radas para essas exposições, elas podem gerar reações de impac­to, como reações de ansiedade ou até medo, e, dependendo da gravi­dade da exposição, começar a de­monstrar um conhecimento sexual inapropriado para a sua idade, pro­curar envolver os colegas em brin­cadeiras sexuais, prejudicando o desenvolvimento da sexualidade da criança.

Vergonha e cultura do estupro: algo a ser combatido

A vergonha acaba se tornando um obstáculo bem grande para a identificação desses agressores. Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômi­ca Aplicada (Ipea), o “Estupro no Brasil: uma radiogra­fia segundo os dados da Saúde”, aponta que somente 10% dos crimes cometidos no país são registrados e apenas 1% dos estupradores são punidos.

“As pessoas podem ter medo de denunciar por pensar que ninguém vai acreditar nelas, ou que se­rão responsabilizadas pelo que ocorreu. Infelizmen­te isso ainda ocorre. Mas é importante denunciar, pois o mesmo agressor que agrediu e não foi responsabi­lizado pode fazer novas vítimas ou manter a agressão que já faz. A denúncia vai fazer com que ele seja res­ponsabilizado e punido, não só pensando na punição do agressor, mas a vítima que denuncia, após a denún­cia, pode se sentir mais fortalecida por estar reagindo a alguém que a fez tão mal. Pode inclusive encorajar ou­tras vítimas a fazerem o mesmo”, aconselha.

Outro tema amplamente discutido hoje, espe­cialmente nas redes sociais, é a cultura do estupro. Embora seja visto por muitos como um tema de es­querda, abordado principalmente pelo Movimento Feminista, a pauta deve ser debatida, pois envolve toda a sociedade. A psicóloga explica que faz parte da cultura do estupro os comportamentos sociais ba­seados no machismo e na misoginia, que dão aber­tura direta ou indiretamente para a violência contra a mulher. “Para que uma cultura mude é necessário que os membros dela individualmente adotem com­portamentos diferentes, que sejam mais críticos e conscientes das suas ações. No caso da cultura do estupro é preciso que as pessoas passem a respeitar mais o espaço ou limite do outro, que sejam mais críti­cas com a própria postura na hora de propagar ideias sobre o estupro (mesmo de ‘brincadeira’), não culpar a vítima pelo abuso. Deve-se combater ideias machis­tas em geral. É uma mudança que leva anos, mas é importante que cada um se conscientize e que come­ce a mudança individualmente”, diz.