Segunda-feira às 25 de Novembro de 2024 às 02:25:55
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Conscientização das famílias é essencial no processo de doação de órgãos

Médica nefrologista alerta para a necessidade de conversar e deixar claro o desejo de ser doador de órgãos. Ela explica o que é a morte cerebral e como funciona a doação de órgãos.

Conscientização das famílias é essencial no processo de doação de órgãos

Para cada mês uma cor, e para cada cor um as­sunto ligado à saúde e de vital importância na dis­cussão da sociedade. O mês de setembro, além da cor amarela – que representa o suicídio, também recebe a cor verde, que é usada para a conscientização da impor­tância da doação de órgãos. O diálogo familiar é uma fer­ramenta muito importante para deixar claro os desejos de cada um, mesmo diante de um assunto tão delicado quanto a morte cerebral. Hoje somente o núcleo familiar mais pró­ximo do paciente pode autorizar a doação, não existindo a possibilidade de deixar documentos escritos ou registrados em cartório com essa opção.

“Mais importante do que explicações técnicas é a cons­cientização da doação e essa deve ser a primeira conversa. O maior problema hoje é a recusa familiar. A gente preci­sa sinalizar as famílias da importância em se conversar so­bre esse assunto. Muitas vezes a pessoa quer ser doadora, mas não deixou isso claro, e naquele momento de dor e de perda alguém não aceita que seja feita a doação”, a expli­cação é da médica nefrologista e responsável técnica pelo Transplante de Rim do Hospital do Rocio, Dra. Fabiola Pe­dron Perez da Costa.

A médica explica que a doação do paciente falecido é feita somente a partir do momento em que é constatada e comprovada a morte cerebral. “Algumas pessoas não com­preendem qual a diferença entre o coma e a morte cerebral. O paciente em coma não será doador, pois o coma significa que o paciente não responde a estímulos, mas há fluxo san­guíneo no cérebro, portanto o cérebro está funcionando. O coma é reversível e pode levar dias ou até mesmo anos para uma resposta positiva ou não. Já a morte cerebral acontece quando não há fluxo de sangue no cérebro, então vai che­gar uma hora que os órgãos daquele paciente irão parar de funcionar. Então, precisamos fazer esse diagnóstico, faze­mos testes clínicos – para ver se há resposta. Não obtendo resposta são feitos exames de imagem, uma arteriografia ou um Dopler”, diz.

Nesses exames é possível ver com exatidão se há fluxo de sangue chegando no cérebro, portanto, não há dúvidas para a constatação desse quadro. Segundo a médica, a fal­ta de conhecimento sobre esse quadro clínico faz com que as pessoas tenham medo de tirar um órgão de uma pessoa ainda viva ainda, porém não acontece pois existem proto­colos do Conselho Regional de Medicina, seguido rigorosa­mente pelas equipes médicas.

Pode ser doador falecido qualquer pessoa que esteja em morte cerebral e que a família autorize. A partir daí, fica ao encargo da equipe de médicos da Central de Transplan­tes, médicos captadores e que realizam o transplante ava­liarem a viabilidade dos órgãos a determinado paciente e também quais órgãos podem ser aproveitados. “Tudo de­pende da situação clínica do doador. Essa análise é feita pela equipe médica da Central de Transplantes e também pelas equipes que vão transplantar. Existem mesmo pacien­tes com tumores benignos que podem ser doadores de ou­tros órgãos não atingidos, mas não podemos generalizar, pois tudo precisa ser analisado minuciosamente à viabilida­de do órgão”, ressalta.

A médica tranquiliza também as famílias sobre o cuida­do que os médicos têm em não deformar o doador. “Tudo é feito com muito cuidado e respeito. Nós retiramos o órgão, mas é feito todo o procedimento para que o corpo daquela pessoa esteja em condições para o velório. Em Curitiba, por exemplo, os doadores de órgãos têm os custos do funeral arcados pela Prefeitura, até mesmo como uma forma de ho­menagear essas pessoas pelo belo ato feito, mesmo após a morte. O ideal seria que essa lei se expandisse para outros municípios também, pois isso poderia até mesmo fazer su­bir os números de doadores, já que não deixa de ser um in­centivo”, diz.

O outro lado

Embora pareça algo triste, a médica diz que muitas pessoas encaram a doação de órgãos como uma oportunidade de semear a existência de um ente querido e ao mesmo tempo prolongar, com qualidade, a vida de outra pessoa. “Também temos que considerar o outro lado, das pessoas que precisam receber um órgão para sobreviver. Há casos de pacientes – na minha área por exemplo – que já não podem mais fazer hemodiálise. Em cada doação nós analisamos os detalhes téc­nicos, pois na grande maioria dos casos é levado em conta o grau de urgência de um novo órgão ao receptor, que precisa de um órgão de boa qualidade. Mesmo analisando todos os exames que foram feitos, muitas vezes na hora da captação o órgão não está em condições”, explica.

O transplante é uma corrida contra o tempo, pois cada órgão tem um prazo para que seja retirado e transplantado. Quanto mais tempo demorar, maiores são as chances do transplante não dar certo. Os pacientes do Paraná concorrem entre si pelos órgãos do Estado. A Dra. Fabiola explica que é preciso uma equipe grande de profissionais envolvidos, pois muitas vezes há vários chamados durante o dia para órgãos que precisam ser captados em outras cidades e serem trazi­dos em tempo hábil para a realização do transplante.

O Hospital do Rocio realiza hoje transplantes de rim, pâncreas-rim e fígado, tanto com órgãos de pacientes falecidos, como entre pacientes vivos – que podem ser doados somente entre familiares de até quatro gerações, mediante exames clí­nicos, laboratoriais e de compatibilidade genética. Há estudos para ampliar o serviço e a realização de transplantes cardíacos.

A Medicina Brasileira realiza transplante de coração, dos dois pulmões, fígado, dos dois rins, o pâncreas e o intestino, tecidos tais quais córneas, ossos, pele e válvulas cardíacas. Na morte por parada cardíaca somente os tecidos podem ser doados. Não são permitidos no país transplante de nenhum outro órgão, como pênis, útero, mão e outras partes do corpo humano – com informações do site Programa Estadual de Transplantes do Rio de Janeiro.

“Falar sobre doação de órgãos faz aumentar o número de doadores, pois é tomado conhecimento sobre o assun­to. Hoje temos muitos pacientes na fila, que precisam dessa segunda chance para sobreviverem. Vamos falar mais sobre isso”, finaliza.