Professora de História comenta sobre o feriado da Independência e a necessidade do pensamento crítico e conhecimento dos fatos para entender o período atual
A professora de História, Patrícia Novack, explica que é possível refletir sobre a Independência do Brasil de dois modos: o primeiro focando no fato, que aconteceu em 1822 e em todas as suas proporções e relevância histórica e também sobre os principais acontecimentos históricos no país desde então, que o moldaram. “O ponto de vista histórico e político, foi um marco muito importante porque o Brasil deixou de ser domínio de Portugal, no entanto, a Independência não trouxe mudança de vida para os brasileiros de forma nenhuma, apenas trocou as elites portuguesas para as elites brasileiras. Ainda que o contexto da Independência tenha acontecido dentro das ideias iluministas, para chegar até as famílias e vilas brasileiras não foi imediato. A maior participação na vida pública veio com a Proclamação da República, mas ainda é considerada deficiente.”
Outro ponto de vista é quanto ao rumo que a nação acabou tomando após esse fato. Para muitos, o Brasil é ainda considerado uma pseudo democracia, um pensamento compartilhado pela professora. “O Brasil ainda tem uma caminhada longa pela frente, para conseguir de fato ser uma nação independente, pois ainda conserva traços que vem desde a época da colonização, como a corrupção, por exemplo. São problemas estruturais que atingem, principalmente o cidadão que está inserido nos bairros, na periferia, assim como foi na época aqui retratada”, explica.
Nas redes sociais, independente da visão política daquela pessoa, surgem comentários como “você precisa estudar História”, mas muitas vezes, ambos os lados têm visões equivocadas sobre um fato. A professora explica que o estudo da História, reconhecimento de datas importantes e a criação de um pensamento crítico fazem com que a população compreenda os rumos que o seu país está tomando, bem como se deu a construção da sociedade em que está inserido.
“Quando não há pensamento crítico, a História começa a se repetir, como por exemplo, conservando famílias no poder – no Paraná isso é muito visto. Por meio dele (do pensamento crítico) isso consegue ser quebrado, passando a dar garantias de vida digna a todos. Essa mudança é estrutural e leva décadas, se não séculos para que aconteça, pois agora parece que as pessoas estão mais politizadas e participativas da vida pública, resultado da introdução de matérias de caráter reflexivo de volta ao currículo escolar. A data da Independência deve ser comemorada sim, mas não deve ser supervalorizada, dando a entender que o Brasil é um país excepcional. É uma data mais reflexiva, especialmente em um ano eleitoral”, diz.
Alunos e a História
Nosso maior contato com a História é durante o período escolar, mas como disse a professora, esses conhecimentos serão a base para a construção de um pensamento crítico e opinião sobre política, por exemplo. Há 18 anos à frente das salas de aula, a professora conta que um comportamento constante é a surpresa ao se deparar com os fatos históricos. “Acabei de dar aula ao 7º ano, e estamos estudando o Brasil Colonial. Fiz uma linha do tempo e coloquei o 7 de setembro de 1822 e questionei eles sobre o feriado desta sexta-feira e muitos não sabiam. Não que eles não tenham estudado esse fato, mas porque já não existe uma memória histórica. De geração em geração isso vai se perdendo, desvalorizando, principalmente com a chegada do digital”, revela.
Mas, a professora não ve isso como algo extremamente negativa. Para ela esse é um momento diferente, em que não “precisa inventar a roda todos os dias”, pois o acesso à informação está ao alcance de todos. “Com essa facilidade é preciso ser mais crítico, fazer pensar sobre determinado assunto. Você precisa conhecer, entender e construir um pensamento sobre esse assunto. Talvez os alunos lá do início da minha carreira, até mesmo a escola como instituição, valorizasse mais o conteúdo, hoje valorizamos mais a racionalização”, descreve.
Incêndio no Museu Nacional
Um fato marcante nessa semana foi o incêndio que atingiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro. A falta de conservação no local é apontada como uma das principais causas, pois ainda em 2004 já existiam relatórios constatando o risco de um incêndio atingir o local. O acervo de mais de 20 milhões de itens, que envolvem a História e Ciência brasileira acabaram tornando-se cinzas.
“Muito embora localizado no Rio de Janeiro, algumas centenas de quilômetros daqui, é algo lamentável, que aconteceu justamente na Semana da Independência. Não se importar com patrimônios históricos é um símbolo da desvalorização da história do próprio país. É preciso valorizar suas coisas, sua história, seus documentos – não de forma exacerbada”, diz