Segunda-feira às 25 de Novembro de 2024 às 02:39:57
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No Dia da Independência do Brasil deve-se refletir sobre os rumos do país

Professora de História comenta sobre o feriado da Independência e a necessidade do pensamento crítico e conhecimento dos fatos para entender o período atual

No Dia da Independência do Brasil deve-se refletir sobre os rumos do país

A professora de História, Patrícia Novack, explica que é possível refletir sobre a Independência do Brasil de dois modos: o primeiro focando no fato, que aconteceu em 1822 e em todas as suas proporções e relevância histórica e também sobre os principais aconteci­mentos históricos no país desde então, que o moldaram. “O ponto de vista histórico e político, foi um marco muito impor­tante porque o Brasil deixou de ser domínio de Portugal, no entanto, a Independência não trouxe mudança de vida para os brasileiros de forma nenhuma, apenas trocou as elites portuguesas para as elites brasileiras. Ainda que o contex­to da Independência tenha acontecido dentro das ideias ilu­ministas, para chegar até as famílias e vilas brasileiras não foi imediato. A maior participação na vida pública veio com a Proclamação da República, mas ainda é considerada de­ficiente.”

      

Outro ponto de vista é quanto ao rumo que a nação acabou tomando após esse fato. Para muitos, o Brasil é ain­da considerado uma pseudo democracia, um pensamen­to compartilhado pela professora. “O Brasil ainda tem uma caminhada longa pela frente, para conseguir de fato ser uma nação independente, pois ainda conserva traços que vem desde a época da colonização, como a corrupção, por exemplo. São problemas estruturais que atingem, principal­mente o cidadão que está inserido nos bairros, na periferia, assim como foi na época aqui retratada”, explica.

Nas redes sociais, independente da visão política daque­la pessoa, surgem comentários como “você precisa estudar História”, mas muitas vezes, ambos os lados têm visões equi­vocadas sobre um fato. A professora explica que o estudo da História, reconhecimento de datas importantes e a criação de um pensamento crítico fazem com que a população compre­enda os rumos que o seu país está tomando, bem como se deu a construção da sociedade em que está inserido.

“Quando não há pensamento crítico, a História começa a se repetir, como por exemplo, conservando famílias no po­der – no Paraná isso é muito visto. Por meio dele (do pensa­mento crítico) isso consegue ser quebrado, passando a dar garantias de vida digna a todos. Essa mudança é estrutu­ral e leva décadas, se não séculos para que aconteça, pois agora parece que as pessoas estão mais politizadas e par­ticipativas da vida pública, resultado da introdução de maté­rias de caráter reflexivo de volta ao currículo escolar. A data da Independência deve ser comemorada sim, mas não deve ser supervalorizada, dando a entender que o Brasil é um país excepcional. É uma data mais reflexiva, especialmente em um ano eleitoral”, diz.

Alunos e a História

Nosso maior contato com a História é durante o perí­odo escolar, mas como disse a professora, esses conheci­mentos serão a base para a construção de um pensamento crítico e opinião sobre política, por exemplo. Há 18 anos à frente das salas de aula, a professora conta que um com­portamento constante é a surpresa ao se deparar com os fatos históricos. “Acabei de dar aula ao 7º ano, e estamos estudando o Brasil Colonial. Fiz uma linha do tempo e colo­quei o 7 de setembro de 1822 e questionei eles sobre o fe­riado desta sexta-feira e muitos não sabiam. Não que eles não tenham estudado esse fato, mas porque já não existe uma memória histórica. De geração em geração isso vai se perdendo, desvalorizando, principalmente com a chegada do digital”, revela.

Mas, a professora não ve isso como algo extremamen­te negativa. Para ela esse é um momento diferente, em que não “precisa inventar a roda todos os dias”, pois o acesso à informação está ao alcance de todos. “Com essa facilida­de é preciso ser mais crítico, fazer pensar sobre determina­do assunto. Você precisa conhecer, entender e construir um pensamento sobre esse assunto. Talvez os alunos lá do iní­cio da minha carreira, até mesmo a escola como instituição, valorizasse mais o conteúdo, hoje valorizamos mais a racio­nalização”, descreve.

Incêndio no Museu Nacional

Um fato marcante nessa semana foi o incêndio que atingiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro. A falta de con­servação no local é apontada como uma das principais cau­sas, pois ainda em 2004 já existiam relatórios constatando o risco de um incêndio atingir o local. O acervo de mais de 20 milhões de itens, que envolvem a História e Ciência bra­sileira acabaram tornando-se cinzas.

“Muito embora localizado no Rio de Janeiro, algumas centenas de quilômetros daqui, é algo lamentável, que aconteceu justamente na Semana da Independência. Não se importar com patrimônios históricos é um símbolo da desvalorização da história do próprio país. É preciso valo­rizar suas coisas, sua história, seus documentos – não de forma exacerbada”, diz