Segunda-feira às 25 de Novembro de 2024 às 02:16:02
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Agosto Lilás e a necessidade em falar abertamente sobre a violência doméstica

No mês dedicado à conscientização contra a violência doméstica e a celebração dos 12 anos da Lei Maria da Penha, a imprensa volta os olhos para casos de repercussão inter­nacional, em

Agosto Lilás e a necessidade em falar abertamente sobre a violência doméstica

No mês dedicado à conscientização contra a violência doméstica e a celebração dos 12 anos da Lei Maria da Penha, a imprensa volta os olhos para casos paranaenses e brasileiros de repercussão inter­nacional, em que mulheres são assassinadas com violência. Os índices de violência doméstica e violência de gênero são alarman­tes e estão em constante cresci­mento.

Segundo levantamento re­alizado com base em dados de 2017 pelo G1, portal de notícias da Rede Globo, no ano passa­do, 12 mulheres foram mortas por dia no Brasil. No total foram 4.473 homicídios dolosos, dos quais 946 foram considerados feminicídio, quando as mulheres são mortas por motivação ligada ao gênero. No caso específico de feminicídio, o Paraná está com índices acima da média nacio­nal, que é de 5,82 mortes a cada 100 mil habitantes, contra 6,49 mortes a cada 100 mil habitantes que acontecem no Estado. Na re­gião Sul, o Paraná também lide­ra a lista. Em Campo Largo foram expedidas cerca de 152 pedidos de Medidas Protetivas, que ainda estão em tramitação.

Dados do “Mapa da Violên­cia 2015: Homicídio de Mulheres”, feito a partir da parceria entre a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), com a ONU Mulheres, da Organização Pan-Americana da Saúde/Organi­zação Mundial da Saúde (OPAS/OMS) e da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direi­tos Humanos, mostram que en­tre 2003 e 2013 mais de 50% dos casos de assassinatos de mulhe­res foram cometidos por pesso­as da sua própria família e 33,2% dos assassinatos nesse período foram realizados pelos seus pró­prios parceiros.

Uma das características que levam aos desfechos trágicos são os relacionamentos, ou como a Psicologia chama, comportamen­tos abusivos. A psicóloga Schir­lei Bonatto explica que esse tipo de atitude pode ser identifica­da por meio de palavras ou ges­tos de ofensa, se são realizados com frequência, se há pedidos de desculpas ou arrependimen­to, se o parceiro é aberto ao diá­logo e também se há mudança de comportamento na frente de ou­tras pessoas. “Os sinais de início podem ser esporádicos e emoti­vos, por isso que pode vir inclusi­ve a comover o abusado a ponto dele acreditar ter culpa. Por isso, é muito comum a vítima dar justi­ficativas às desculpas ou levar em frente o relacionamento. Outra si­tuação é o agressor que manipu­la, ora é agressivo nas palavras, ora é sedutor nelas.”

Entre as consequências de estar em um relacionamento com uma pessoa assim, estão os sen­timentos de desvalorização, inse­gurança, ansiedade, problemas que podem levar à dependência química ou transtornos alimenta­res. Pessoas que se libertam des­se tipo de relacionamento acabam precisando passar por um proces­so de construção emocional, no qual o autoconhecimento passa a ser essencial. A psicóloga diz que é preciso de muita autoconfian­ça e autodeterminação para que a pessoa consiga viver uma vida sem se sentir refém de alguém novamente.

Apesar da vítima muitas ve­zes demorar para compreender que está em um relacionamento tóxico, seus familiares devem fi­car atentos às queixas frequen­tes e comportamentos da vítima, tais como, ouvir e mostrar interes­se pelo sofrimento, levar o caso às autoridades e incentivar auxí­lio psicológico.

O agressor

Embora o agressor esteja re­vestido de uma aparência de “du­rão” e autoritário, ele esconde uma insegurança muito grande, conforme explica a psicóloga. “É importante reparar desde o namo­ro algumas atitudes, para prevenir problemas maiores. Perceba se ele faz a linha de detetive, gosta de ficar investigando, se ele res­tringe contato com amigos e fami­liares próximos, se ele exige que você preste contas sobre o que faz com o dinheiro ou exige que somente ele tenha acesso ao di­nheiro da casa, proibições de ter redes sociais, ameaças que vão desde terminar o relacionamento até mais graves, como morte, pro­íbe tomar decisões sozinha. Uma frase muito usual dos agressores é ‘eu te aguento porque eu gosto de você, mas ninguém vai te que­rer’”, alerta.

Enfrentando o problema

“O medo pode ser um senti­mento paralisante. A mistura de raiva e ódio não irão atingir nin­guém, senão você mesmo. Eles devem levar à conscientização de que algo de errado está aconte­cendo e funcionarem como com­bustíveis para a ação de mudar a história e transformar a sua vida. Procure ajuda, registre o boletim e permaneça firme. Peça auxílio da sua família, dos amigos ou até mesmo do Estado, mas não viva a vida presa a ninguém. O maior prejudicado sempre será você mesmo”, finaliza.

Denuncie

São considerados violência contra a mulher a violência física, na qual acontecem as agressões; psicológica, que envolvem hu­milhações, xingamentos, perse­guições e ameaças; moral, onde espalham-se boatos, mentiras ou fazem exposição; sexual, que vai desde a relação sexual sem con­sentimento até a proibição do uso de métodos contraceptivos e a pa­trimonial econômica, que controla o dinheiro da vítima, destrói suas coisas, não deixa trabalhar ou oculta bens e propriedades.

Esses casos podem ser de­nunciados pelo telefone 180, fun­ciona 24 horas por dia, é gratuito e confidencial. Testemunhas tam­bém podem realizar a denúncia, assim como o Ministério Público. Após as mudanças da Lei, mes­mo com a retirada da queixa, as investigações permanecem.