No mês dedicado à conscientização contra a violência doméstica e a celebração dos 12 anos da Lei Maria da Penha, a imprensa volta os olhos para casos de repercussão internacional, em
No mês dedicado à conscientização contra a violência doméstica e a celebração dos 12 anos da Lei Maria da Penha, a imprensa volta os olhos para casos paranaenses e brasileiros de repercussão internacional, em que mulheres são assassinadas com violência. Os índices de violência doméstica e violência de gênero são alarmantes e estão em constante crescimento.
Segundo levantamento realizado com base em dados de 2017 pelo G1, portal de notícias da Rede Globo, no ano passado, 12 mulheres foram mortas por dia no Brasil. No total foram 4.473 homicídios dolosos, dos quais 946 foram considerados feminicídio, quando as mulheres são mortas por motivação ligada ao gênero. No caso específico de feminicídio, o Paraná está com índices acima da média nacional, que é de 5,82 mortes a cada 100 mil habitantes, contra 6,49 mortes a cada 100 mil habitantes que acontecem no Estado. Na região Sul, o Paraná também lidera a lista. Em Campo Largo foram expedidas cerca de 152 pedidos de Medidas Protetivas, que ainda estão em tramitação.
Dados do “Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres”, feito a partir da parceria entre a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), com a ONU Mulheres, da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) e da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, mostram que entre 2003 e 2013 mais de 50% dos casos de assassinatos de mulheres foram cometidos por pessoas da sua própria família e 33,2% dos assassinatos nesse período foram realizados pelos seus próprios parceiros.
Uma das características que levam aos desfechos trágicos são os relacionamentos, ou como a Psicologia chama, comportamentos abusivos. A psicóloga Schirlei Bonatto explica que esse tipo de atitude pode ser identificada por meio de palavras ou gestos de ofensa, se são realizados com frequência, se há pedidos de desculpas ou arrependimento, se o parceiro é aberto ao diálogo e também se há mudança de comportamento na frente de outras pessoas. “Os sinais de início podem ser esporádicos e emotivos, por isso que pode vir inclusive a comover o abusado a ponto dele acreditar ter culpa. Por isso, é muito comum a vítima dar justificativas às desculpas ou levar em frente o relacionamento. Outra situação é o agressor que manipula, ora é agressivo nas palavras, ora é sedutor nelas.”
Entre as consequências de estar em um relacionamento com uma pessoa assim, estão os sentimentos de desvalorização, insegurança, ansiedade, problemas que podem levar à dependência química ou transtornos alimentares. Pessoas que se libertam desse tipo de relacionamento acabam precisando passar por um processo de construção emocional, no qual o autoconhecimento passa a ser essencial. A psicóloga diz que é preciso de muita autoconfiança e autodeterminação para que a pessoa consiga viver uma vida sem se sentir refém de alguém novamente.
Apesar da vítima muitas vezes demorar para compreender que está em um relacionamento tóxico, seus familiares devem ficar atentos às queixas frequentes e comportamentos da vítima, tais como, ouvir e mostrar interesse pelo sofrimento, levar o caso às autoridades e incentivar auxílio psicológico.
O agressor
Embora o agressor esteja revestido de uma aparência de “durão” e autoritário, ele esconde uma insegurança muito grande, conforme explica a psicóloga. “É importante reparar desde o namoro algumas atitudes, para prevenir problemas maiores. Perceba se ele faz a linha de detetive, gosta de ficar investigando, se ele restringe contato com amigos e familiares próximos, se ele exige que você preste contas sobre o que faz com o dinheiro ou exige que somente ele tenha acesso ao dinheiro da casa, proibições de ter redes sociais, ameaças que vão desde terminar o relacionamento até mais graves, como morte, proíbe tomar decisões sozinha. Uma frase muito usual dos agressores é ‘eu te aguento porque eu gosto de você, mas ninguém vai te querer’”, alerta.
Enfrentando o problema
“O medo pode ser um sentimento paralisante. A mistura de raiva e ódio não irão atingir ninguém, senão você mesmo. Eles devem levar à conscientização de que algo de errado está acontecendo e funcionarem como combustíveis para a ação de mudar a história e transformar a sua vida. Procure ajuda, registre o boletim e permaneça firme. Peça auxílio da sua família, dos amigos ou até mesmo do Estado, mas não viva a vida presa a ninguém. O maior prejudicado sempre será você mesmo”, finaliza.
Denuncie
São considerados violência contra a mulher a violência física, na qual acontecem as agressões; psicológica, que envolvem humilhações, xingamentos, perseguições e ameaças; moral, onde espalham-se boatos, mentiras ou fazem exposição; sexual, que vai desde a relação sexual sem consentimento até a proibição do uso de métodos contraceptivos e a patrimonial econômica, que controla o dinheiro da vítima, destrói suas coisas, não deixa trabalhar ou oculta bens e propriedades.
Esses casos podem ser denunciados pelo telefone 180, funciona 24 horas por dia, é gratuito e confidencial. Testemunhas também podem realizar a denúncia, assim como o Ministério Público. Após as mudanças da Lei, mesmo com a retirada da queixa, as investigações permanecem.