Aquele que nunca sentiu aquele friozinho na hora de pedir ou contar alguma coisa para o pai, que atire a primeira pedra
Quem lembra daquela sensação de quando o pai chegava do trabalho e você estava aflito no quarto esperando ele saber sobre alguma travessura sua ou para pedir alguma coisa? Saiba que essa sensação é bastante comum e está principalmente ligada à criação que foi dada à criança, desde muito pequena, conforme explica a psicóloga Kareen Bahr.
“Viemos de uma época em que somente o pai trabalhava fora e supria todas as necessidades dos filhos, inclusive da esposa. Sendo assim, historicamente, o pai era visto como uma pessoa maior e a mãe trabalhava em casa, limpava, cozinhava e cuidava da educação dos filhos, além de deixar tudo organizado para que quando o marido
chegasse em casa cansado, ficasse feliz e se sentisse bem. Hoje, isso evoluiu bastante, porém algumas atitudes, em algumas famílias, ainda são repetidas. Em um lar onde somente a esposa que limpa a casa ou troca a fralda dos filhos, por exemplo, os filhos acabam tendo a visão de pai distante, que não deve ser incomodado. A atitude da mãe em relação a isso conta bastante. Ela não deve fazer ameaças à criança nesse sentido, tais como ‘vou contar para o seu pai’ quando ela a desobedece, pois assim a criança percebe que seu pai tem mais autoridade que sua mãe, colocando-a num papel passivo, em que a mãe não está conseguindo resolver a situação sozinha e precisa de ajuda. Dessa forma a criança acaba tendo mais medo do pai, dependendo da situação.”
Assim, a psicóloga ressalta ainda que a família deve ser base para o indivíduo e em casa a criança não deve sentir medo de nenhum familiar, pois pode inclusive comprometer a confiança que ela deveria ter em quem mora com ela. “Quando a criança cresce com esse medo pode desenvolver uma diversidade de estresses, ansiedades, timidez, insegurança ou até mesmo trazer esse exemplo para sua vida futura, onde a figura paterna é negativa e provavelmente acarretará em seus relacionamentos pessoais e até amorosos. Além disso crescerá repetindo as mesmas ações com seus filhos e/ou querendo aprovação de seu parceiro”, diz.
Medo x Respeito
As sensações de medo e de respeito são completamente diferentes. Kareen identifica como figuras o autoritário e a autoridade. Segundo ela, a criança deve saber que seu pai vai educá-la e nisso inclui chamar a atenção e até mesmo ter consequências ruins diante de alguns comportamentos, como os castigos.
“O pai deve mostrar o erro dela e assim a consequência desse erro. A criança vê que seu pai tem razão e dessa forma o respeito vem naturalmente. O medo nesse caso, normalmente está associado a ameaças, agressões verbais como gritos, xingamentos e também físicas, onde a criança não entende, não sabe como e porquê o pai age dessa forma. E é bem provável que quando o mau comportamento for se repetir, ela não fará por medo da dor, de se sentir humilhado e não porque entendeu que é errado”, explica.
A forma mais adequada de agir com os filhos é com base no diálogo, olhos nos olhos e voz firme, diz Kareen. “Mesmo se a criança agir de forma negativa, como quando faz birras, o pai deve se mostrar de maneira solícita, que entende que ele não está gostando, mas que tudo tem consequência sejam boas ou ruins, dessa forma a criança consegue elaborar o seu mau comportamento e futuramente perceber que seu pai tem razão”, aconselha.
Porém, o pai deve abraçar, beijar e fazer elogios ao seu filho, entretanto procurar cuidar com os mimos exagerados, muita proteção, pois com comportamentos excessivos acabam desenvolvendo uma criança egoísta e sem limites.
Agressão não!
Algumas vezes, esse medo da figura paterna pode estar ligado à agressividade. “A agressão traz inúmeros fatores negativos na vida de qualquer pessoa. Além do físico, da dor e possíveis traumas corporais, o psicológico o acompanha trazendo baixa afetividade com os demais, insegurança, traumas, e até mesmo a repetição dessa agressão com seus filhos, tornando um ciclo vicioso. As ameaças se incluem no pacote formando uma criança muito insegura com receio das pessoas”, finaliza.