A reprovação escolar pode ser um marco na vida do aluno. Pais e escolas exercem papel importante nesse momento
Reprovação escolar não pode ser considerada somente preguiça ou não gostar de estudar. Muitos outros fatores podem contribuir para que isso aconteça e cabe aos alunos, pais e equipe pedagógica investigar o que está acontecendo e impedindo de passar para o ano seguinte.
Para Lorena Maria Laskoski, pedagoga, psicopedagoga, mestre em Psicologia e doutoranda na Área de Saúde da Criança e do Adolescente, o índice de reprovação escolar serve como “termômetro” de como anda a sociedade. “O índice de reprovação é muito grande, principalmente se olharmos todos os números sem a aprovação por Conselho de Classe e os alunos que abandonam as escolas ou são infrequentes (chamados desistentes). Ao olharmos a reprovação, verificamos além da ‘não aprendizagem’, encontramos todos os fatores de risco envolvidos nesse processo e que deixam a nossa sociedade ‘doente’. Pensando nesses fatores de risco, gostaria de levantar algumas questões que interferem na escola: Por que nossos alunos (crianças e adolescentes) não querem estudar? Por que a escola está tão desinteressante? Qual o papel da família no processo de escolarização? Os demais equipamentos da Rede de Proteção (Saúde, Segurança, Assistência Social, etc.) têm trabalhado em conjunto com a educação para atender todos os alunos em situação de vulnerabilidade?.”
A pedagoga explica que a reprovação pode ser resultado de problemas na vida do aluno, que podem envolver questões físicas, psicológicas, até mesmo ambientais. Por isso é importante que a escola e a família do aluno trabalhem juntas para sanar essas dificuldades. “Constantemente peço aos pais que solicitem o atendimento especializado para alguns alunos, quando os professores verificam que a dificuldade está além do normal. Para citar alguns exemplos, este ano atendemos estudantes, que mesmo se dedicando muito (em casa ou na escola), deixavam a desejar nas atividades avaliativas. Após avaliação com fonoaudiólogo, foram diagnosticados com Distúrbio do Processamento Central Auditivo, e após o tratamento, melhoraram 100% na escola. Verificamos também casos de alunos que não conseguiam ler direito, e que após uma avaliação oftalmológica, foram diagnosticados com miopia. Temos também Distúrbios de Aprendizagem que precisam ser avaliados por um profissional da Psicologia”, diz.
A violência física, que envolve a violência sexual, é um fator agravante para a desmotivação do aluno. As crianças que são muito cobradas em casa, para terem um bom desempenho em sala de aula, podem desenvolver transtorno de ansiedade, o que causa interferência na aprendizagem.
Como lidar
com a frustração?
Alunos que passaram pela reprovação podem experimentar um misto de sentimentos e se sentirem desmotivados a repetir o ano. A pedagoga explica que isso não deve ser encarado como um problema, mas sim uma oportunidade de aprender de fato os conteúdos passados naquele ano. Para ela, o grande problema é passar sem ter aprendido o suficiente. “É importante que a família e escola analisem as causas da reprovação, e que as duas instituições busquem ações para melhorar o processo educacional do estudante no próximo anos. A escola sozinha não consegue fazer um trabalho efetivo sem o apoio da família”, diz.
“Quando ocorre a reprovação, em hipótese alguma os pais deverão humilhar o estudante. Já ouvi muitos pais falando que ‘desistem de ajudar o filho, pois são burros e não querem nada da vida’. Nesse momento é importante que a família verifique o que pode ser feito para que os problemas sejam superados no próximo ano. A reprovação de um filho é também sinal que algo em casa pode não estar bem”, completa.
Para que a reprovação não seja algo reincidente, a pedagoga dá dicas para estudantes e familiares: acompanhar diariamente o filho desde o início das aulas; estar em constante comunicação com a escola e buscar atendimento multiprofissional (psicólogo, psicopedagogo, psiquiatra, fonoaudiólogo, oftalmologista, neurologista), para avaliações a partir das avaliações apontadas pela escola.
Escola pública
não reprova?
“Essa conversa é mito”, responde a pedagoga quando questionada. Ela explica que a equipe pedagógica não permite que o aluno siga para a série posterior, se não alcançou os conhecimentos mínimos para avançar. “Obviamente que existem escolas que colocam um número mínimo de alunos que poderão ser reprovados, pois não querem que o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) diminua, mas isso vemos também em escolas particulares, com o agravante que não querem perder seus alunos, visto que muitos pais afirmam que ‘se o aluno reprovar terá como castigo estudar em uma escola pública’. Além disso, acompanhamos muitos casos de professores que trabalham na rede pública e que nos últimos meses do ano letivo dão aulas particulares para alunos da rede privada, que estão com dificuldade escolar”, conta.
Segundo ela, professores e equipe pedagógica seguem alguns critérios ao realizar o Conselho de Classe Final, que acontece quando o aluno não passa por nota. “Seguimos a LDB e orientações da Secretaria Estadual de Educação (SEED). Ressalta-se que nesse processo de análise toda a equipe avaliará o aluno globalmente, verificando os avanços obtidos por ele e suas limitações. Casos de alunos de inclusão, possuem também um olhar especial. O processo de avaliação vai muito além da nota. A própria LDB (lei número 9394/96) em seu art. 24, V, discorre sobre o processo avaliativo, tratando como verificação do rendimento escolar, sendo contínuo e cumulativo, prevalecendo os aspectos qualitativos e quantitativos”, finaliza.
As faltas também reprovam. Caso o aluno possua frequência abaixo de 75% do total dos dias letivos, é reprovado automaticamente. À escola cabe o papel de acompanhar a frequência do aluno e contatar os pais quando verificar excesso de faltas. Em casos de cinco dias seguidos ou sete alternados os pais ou responsáveis são chamados na escola. Se essa irregularidade prosseguir, é necessário levar o caso ao Conselho Tutelar.