Segunda-feira às 25 de Novembro de 2024 às 11:51:25
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Especialista explica polêmica sobre a decisão de juiz em permitir terapia para reversão sexual

Psicóloga especialista em Sexualidade Humana explica que a homossexualidade não é uma patologia, mas sim uma condição, logo não há o que ser tratado

Especialista explica polêmica sobre a decisão de juiz em permitir terapia para reversão sexual

Na última semana, a internet demonstrou revolta ao descobrir que a homossexualidade passaria a ser “tratada como uma doença”. Inclusive, vários famosos que defendem a bandeira LGBT saíram em favor dos homossexuais. Acontece que na última sexta-feira (15), o juiz federal Waldemar Cláudio de Carvalho, do Distrito Federal, acatou parte de uma ação popular que liberou psicólogos a realizarem terapias de “reversão sexual”, sem sofrerem censuras por parte do seu conselho.

A homossexualidade deixou de ser considerada uma doença em 1990 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e para a Psicologia ela é considerada uma orientação sexual, conforme explica a psicóloga e especialista em Sexualidade Humana, Carolina Gadens Marchiori. “Homossexualismo era o termo utilizado para associar essa orientação sexual à doença, portanto o termo correto é homossexualidade e é a orientação sexual daquela pessoa. Entendemos por orientação sexual, a atração (sexual e afetiva) que um indivíduo sente pelo outro. A orientação sexual não é uma “escolha”, ela ocorre devido a fatores biopsicossociais (genética, fatores hormonais, experiências individuais, ambiente em que se desenvolveu etc.).”

Carolina explica que a polêmica em torno da decisão do juiz do Distrito Federal coloca a orientação sexual como uma patologia e permite que pessoas procurem ajuda do psicólogo para se reorientar. “Partindo do ponto que homossexualidade não é uma patologia e sim uma condição, esse tipo de terapia pode gerar ainda mais sofrimento para esse público, já que visa a ‘mudança’ da orientação e não a aceitação do ser humano como ele é. Se a orientação não é uma doença, não há o que ser tratado.”

De alguns tempos para cá, o movimento que defende as causas já conquistaram muito espaço na mídia, seja no meio artístico (em novelas, filmes e cenário musical), na política e também na inserção da sociedade. Mas, apesar dessa visibilidade, o preconceito ainda é bastante presente na vida dessas pessoas. “Como vivemos em uma sociedade que ainda tem muitos preconceitos, inclusive com essa população, não existe um caminho ‘fácil’ para se assumir homossexual. Se o (a) homossexual estiver em um ambiente que ao menos tente entendê-lo, acolhê-lo e auxiliá-lo a enfrentar as dificuldades que virão, será a melhor forma de ‘facilitar’ o processo. Um ambiente com preconceito e rejeição pode causar isolamento social, baixa autoestima, ansiedade, depressão e em casos mais graves podem levar até ao suicídio”, diz Carolina.

A fase da adolescência e início da fase adulta, segundo a psicóloga, é o momento chave da descoberta sobre a sexualidade. “Experiências isoladas com pessoas do mesmo sexo não significam que a pessoa é homossexual. Na adolescência é comum, por um período transitório, experiências com pessoas do mesmo sexo. O que vai definir a orientação sexual é a predominância em se relacionar com parceiros do mesmo sexo”, completa.

Papel da família

No momento que o filho assume-se homossexual ou transgênero pode ser um forte impacto para a família, que tenta buscar respostas para aquela decisão. “Não é um processo fácil para os familiares também, visto que quando um filho nasce os pais criam expectativas sobre o futuro deles e quando essas expectativas não são supridas podem gerar frustrações. O mais importante é os pais compreenderem que o (a) filho (a) não é homossexual porque ele deseja ser, ele é porque fatores biopsicossociais interferiram para que ele fosse. É importante que ocorra diálogo e compreensão, de ambas as partes, pois uma família fortalecida consegue superar mais facilmente as dificuldades que poderão vir”, orienta.

Transgênero e transexualismo

Tema abordado na novela “A força do querer”, da Rede Globo, transgênero e transexualismo estão sendo abordados com frequência nos meios de comunicação, mas ainda geram dúvidas na população. A psicóloga explica a classificação antiga trazia que transexualismo é um tipo de Transtorno de Identidade Sexual, um transtorno de identidade afeta a forma como a pessoa se identifica e se reconhece, por exemplo, uma mulher que tem características físicas femininas, mas se identifica como homem, sente que está no corpo “errado”. Agora, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM V), a transexualidade não é mais considerada doença. “Para ser caracterizado como Transexualismo deve haver um desejo irreversível de se sentir e ser aceito como do sexo oposto e deve haver sofrimento significativo e prejuízo em diferentes áreas da vida da pessoa", diz. "Essas pessoas podem passar a ter acompanhamento de uma equipe multiprofissional  e realizar o tratamento hormonal e cirurgia de redesignação sexual”, completa.

Já transgênero é aquela pessoa que tem o Transtorno de Identidade Sexual ou Transtorno de Identidade de Gênero.

Nota do Conselho Federal de Psicologia

"Na tarde do dia 20, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou uma nota manifestando sua opinião sobre a decisão: “A Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia (CFP) lamenta a decisão do juiz federal Waldemar Cláudio de Carvalho, na última sexta-feira (15/9), que interfere na interpretação da Resolução CFP 01/1999 e abre um precedente perigoso para o uso de terapias de reversão da sexualidade. Consideramos um retrocesso imenso a necessidade de reafirmar, em pleno século XXI, que a homossexualidade não é doença, distúrbio nem perversão. Ao mesmo tempo, registramos nossa satisfação com a resposta imediata da sociedade brasileira e internacional, especialmente das psicólogas e psicólogos, que têm demonstrado com firmeza posicionamento contrário a esse retrocesso absurdo”.