Um segundo de descuido é o suficiente para que algum acidente doméstico aconteça e tenha que visitar o hospital e que traga consequências irreversíveis
Época de férias das crianças exige que os pais ou responsáveis estejam sempre atentos ao que elas estão fazendo. Um segundo é o suficiente para que algum acidente doméstico aconteça e tenha que visitar o hospital.
Flávio Salles, médico pediatra do Centro Médico Hospitalar, conta que atendimentos de acidentes domésticos envolvendo crianças são muito comuns na rotina hospitalar, mas que é importante que os pais evitem ao máximo que eles aconteçam. “Por menor que seja o acidente, às vezes uma queda que os pais consideram que ‘não foi nada’, é importante trazer a criança ao médico para averiguação. Somente com um exame clínico e, em alguns casos, raio-X ou exames laboratoriais podemos ter certeza que a criança está realmente bem.”
O médico diz ainda que o atendimento é um direito da criança e que o hospital não acionará o Conselho Tutelar, por exemplo, por causa de um acidente. “Os pais não podem ter medo de trazer seus filhos ao médico por causa disso, acidentes acontecem. Só iremos notificar que houve acidente, mas não imputaremos negligência. A menos que sejam casos reincidentes, com muita frequência ou que realmente apontem situações de risco ou maus tratos”, explica.
Acidentes
Ingestão de produtos de limpeza
Coloridos e cheirosos, os produtos de limpeza são muito atraentes para as crianças e presentam um risco muito grande, que podem levar a sequelas permanentes. “O maior perigo está nos produtos cáusticos. Esses produzem uma queimadura muito grave na boca da criança, prejudicando toda a cavidade bucal, esôfago e estômago. Vale ressaltar também que quanto menor a criança, maior o risco e as sequelas”, alerta o médico.
Segundo Dr. Flávio, as queimaduras nesses casos podem dificultar ou impossibilitar a alimentação da criança, com a necessidade de colocar uma sonda alimentar nela. Há casos em que precisa de uma cirurgia, além do internamento. “Em uma grande maioria dos casos os danos provenientes desses acidentes são irreversíveis”, adverte.
Caso esse acidente aconteça em casa, a primeira atitude é lavar a boca da criança com água e procurar o Pronto Socorro, levando consigo a embalagem do produto ingerido. Não provocar vômitos.
Ingestão de brinquedos ou peças pequenas
A criança pequena reconhece o mundo pela boca, por isso a necessidade de colocar tudo o que vê na boca. “A questão nesse caso é ela engolir o objeto. Há três possibilidades nesse caso. A primeira é o objeto fazer o mesmo caminho do alimento, este que será eliminado pelas fezes. Não há riscos de perfuração, por exemplo. Já atendi uma criança que engoliu um prego de 10 centímetros e ficou bem. O problema é se para no esôfago ou acontece a aspiração”, explica.
Caso o objeto pare no esôfago, a criança apresentará sinais de afogamento, como náusea, vômito ou salivação. “Neste momento é imprescindível a tentativa de desafogar a criança. A técnica é segurar a criança inclinada para baixo e fazer pressão nas costas dela, dando empurrões. Após desafogá-la, deve procurar atendimento médico, também trazendo o objeto”, recomenda.
Em contrapartida, se o objeto for aspirado, ele pode ir parar no pulmão. Nesses casos a criança fica sufocada, tosse bastante, pode ficar roxa ou pálida. “Quando isso acontece, deve entrar em contato com o Siate para atendimento imediato, quando será encaminhado para o hospital, fará exames e pode vir a passar por uma cirurgia para a retirada”, explica.
A maneira mais eficaz de prevenir é ficar sempre atento às crianças e disponibilizar a elas somente brinquedos compatíveis com a sua idade.
Quedas
“Por menor que seja a criança, ela está sujeita às quedas. Muitas vezes a mãe deixa o bebê no trocador ou na cama e vai pegar fralda, por exemplo, mas mesmo um bebê novinho faz movimentos que podem fazê-lo cair. Atenção e principalmente evitar situações de risco são primordiais nesses casos”, alerta o médico.
Em caso de queda é preciso avaliar o estado geral da criança, verificando possíveis sangramentos no nariz, boca ou ouvido, possíveis fraturas ou torções, segurando a criança com cuidado. A recomendação do Dr. Flávio é que procure o atendimento de emergência para uma avaliação do médico.
“As principais consequências de uma queda estão relacionadas às fraturas. Aquele velho ditado de não deixar a criança dormir é bastante importante, pois ela pode desmaiar e confundir com o sono, por exemplo. Outros sintomas que merecem muita atenção após uma queda são as náuseas, vômitos, dores de cabeça”, diz.
Cortes
Os cortes podem ser uma consequência da queda, provocados por alguma atividade externa, ou por algum objeto. Em caso de cortes, a orientação passada pelo pediatra é evitar os torniquetes, que podem aumentar a lesão. Nesse caso é importante lavar o local, avaliar a necessidade de ponto e cobrir. “Os pontos servem para estancar o sangramento ou para cortes muito profundos, com muita exposição.”
Queimaduras
No inverno é comum que as famílias busquem maneiras de manter a casa aquecida em dias frios. Com isso, são acesos fogões à lenha, lareiras, aquecedores, o que podem ser um sinal de alerta quando há crianças pequenas no local.
“Como sempre digo, crianças devem ser vigiadas, principalmente se há objetos que podem apresentar perigo para elas. Em uma queimadura entram questões da dor, que pode permanecer por dias, a estética e o tratamento adequado para a pele. Não usem produtos que podem prejudicar ainda mais a pele. Há pessoas que passam produtos inadequados, quando chegam ao hospital com a criança é preciso lavar o ferimento, causando uma dor ainda maior, além dos problemas com a cicatrização do ferimento. Caso a queimadura seja muito grande, forme bolhas ou o vermelhidão não passe, deve procurar o médico”, finaliza.