03/06/2013
Acredita-se que uma das maiores dificuldades dos profissionais da educação, quando diante de um aluno que apresenta contratempos na escola, caracteriza-se por estabelecer parâmetros para a distinção entre as dificuldades e os transtornos de aprendizagem.
Os mal entendidos são inúmeros, uma vez que pais, professores e especialistas estão envolvidos em situações muito diversificadas. Independente da causa e das teorias formuladas ao redor do aprendiz sobre a o motivo de seu fracasso ou sucesso escolar, o aluno que vai mal na escola costuma creditar o seu insucesso à sua própria incapacidade, mesmo que o problema tenha origens em outras circunstâncias – o que acarreta maior vulnerabilidade no estudante.
Mas a causa real dos obstáculos deve ser analisada sob várias perspectivas tais como suas competências e dificuldades naturais, seu relacionamento com a família, sua vida social na escola, o contexto de sociedade em que está inserido, sua visão do professor, a complexidade do conteúdo a ser aprendido, a metodologia utilizada pela instituição de ensino, a assiduidade do aluno, dentre outros.
A grande complexidade em estabelecer um diagnóstico adequado está em múltiplos fatores que atuam no desempenho escolar, em diferentes concepções teóricas sobre a normalidade e patologia existentes e nas variações desses conceitos. Na verdade, o desenvolvimento harmonioso da aprendizagem consiste em uma utopia e o normal e o patológico não devem ser vistos como estados distintos, separados e distantes. Essa observação vale, inclusive, para os estudantes que possuem um desempenho acima da média de seus colegas. Não se usa mais a classificação "super dotação", mas sim "altas habilidades", porque ninguém tem alto desempenho em todas as atividades nem tão pouco baixo desempenho em sua totalidade. Os seres humanos são dinâmicos, temporais e peculiares.
Consideram-se "dificuldades de aprendizagem" aqueles casos em que o aluno, por diferentes motivos, não acompanha seus colegas no conteúdo que está sendo transmitido no currículo. Geralmente é suficiente um acompanhamento pedagógico para se ter bons resultados.
Quando tratamos de transtornos de aprendizagem tomamos por base, inicialmente, um dos principais manuais internacionais de diagnóstico. O CID - 10, elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), concluído em 1992. Esse documento reconhece a falta de exatidão desse termo "transtorno", justificando seu emprego para evitar termos e expressões inadequadas ligadas a doenças e enfermidades. O manual apresenta basicamente três tipos de transtorno específicos: da leitura, da expressão escrita (ou soletração) e das habilidades matemáticas.
É nesse cenário que verificamos a nobreza do ato de diagnosticar o transtorno de aprendizagem e ou a dificuldade de aprendizagem, já que envolve conhecimento amplo da diversidade de fatores que compõem o ato de aprender.
A avaliação psicopedagógica envolve anamnese (entrevista detalhada sobre a historicidade da criança desde seu nascimento) com os pais ou responsáveis; entrevistas com a criança ou adolescente; análise do material pedagógico utilizado na escola (incluindo cadernos e avaliações do aluno) e contato com professores, pedagogos e profissionais da escola.
É de responsabilidade do PSICOPEDAGOGO o conhecimento e integração das várias áreas que influenciam na aprendizagem, mas, principalmente, o reconhecimento dos limites de sua atuação, fazendo, nesse cenário, encaminhamentos adequados. Além disso, é de responsabilidade da PESSOA que está à frente desse aluno, ser sensível, ética e dedicada para que não haja generalizações quando tratamos de seres humanos.
Referência:
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Organização Mundial de Saúde (Org.). Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
Michelle Klaumann Pedrozo
Pedagoga, Psicopedagoga e Mestre em Educação.
www.psicopedagogiacuritiba.com.br