28/12/2012
“Seu filho está progredindo nas tentativas de hipóteses de escrita” - diz a professora naquela reunião de pais de fim de semestre do meio do ano. Você ficou feliz, mas, sem entender muito bem o significado, afinal ele apenas registra algumas vogais das palavras.
Ou então: pais observam uma produção de seu filho, segundo a professora, em fase silábico-alfabética de escrita, mais ou menos assim: TSORA (para tesoura) e BADERINA (para bandeirinha). Espantados, questionam: “Estamos nos aproximando do final do ano e meu filho não acertou nenhuma das palavras solicitadas, como isso pode acontecer?”.
Nada há para causar espanto nessas situações, acredite! Nem crianças elaborando palavras com “letras faltando”, muito menos pais incomodados por não visualizarem a consolidação da tão prometida alfabetização no início do ano.
Tranqüilizem-se! O aprofundamento dos estudos acerca dos níveis estruturais da linguagem escrita, uma contribuição da psicolinguista argentina Emilia Ferrero, é tema inerente ao âmbito da educação. Aos pais cabe apenas compreenderem que a aquisição da escrita ocorre de maneira gradual. Seus filhos perpassarão por um processo de elaboração de conceitos e competências anteriores ao processo de escrita alfabética e ortograficamente correta, forma esperada e aceita socialmente.
O processo é, em linhas gerais, assim: as crianças, primeiramente, escreverão a nível pré-silábico (registro de uma única letra ou acumulado de letras para representar palavras ou frases sem estabelecer relação com a fala), após, a nível silábico (representa o que ouve graficamente, estabelecendo relações ora com a quantidade de sílabas, ora com a utilização de letras correspondentes a cada sílaba), em seguida passam pelo momento de transição silábico-alfabético (quantidade de sílabas pode ser representada corretamente, sílaba registrada por inteiro ou letra do fonema contido na sílaba, ou a representação da sílaba com letra que representa o fonema), até chegar, enfim, ao nível alfabético (criança apresenta domínio da escrita, ainda com erros ortográficos comuns ao processo, mas com domínio básico sobre as sílabas complexas).
Para ilustrar cada fase e facilitar a compreensão, segue exemplo da escrita de uma mesma palavra ao longo das hipóteses apresentadas anteriormente.
Palavra CAMISETA.
Pré-silábico: GEBCHAOULIMN.
Silábico: AIEA.
Silábico-alfabético: KMIZTA.
Alfabético: CAMIZETA.
Cada fase, uma hipótese de escrita. Não há erros, há uma lógica. É assim mesmo o processo de aquisição da escrita, a representação de nossa linguagem. Os professores organizam experiências que promovem o encontro entre o sujeito e o objeto do conhecimento, ou seja, entre as crianças e a língua escrita. Utilizam estratégias diversas que, respeitando o tempo de cada aluno, possibilitam causar naturalidade ao percurso de cada aluno na alfabetização. Como salienta a própria Emília Ferrero, “a escrita da criança não resulta de simples cópia de um modelo externo, mas é um processo de construção pessoal”. Portanto, pais, não há motivos para sustos quando você confia na instituição que escolheu.
Lá vão algumas dicas: não permita que sua ansiedade prejudique o processo de seu filho e evite as comparações, porque sim, cada criança alfabetiza-se em seu tempo. Por outro lado, valorize cada momento de escrita de seu filho e vibre com ele diante de cada etapa alcançada, estimule situações de leitura e escrita na rotina familiar e, claro, sempre que necessário esclareça suas dúvidas junto à coordenação escolar.