Sexta-feira às 09 de Maio de 2025 às 12:56:56
Geral

A história de uma grande indústria

12-03-2010

A Porcelana Schmidt, a maior fabrica de louças e porcelanas da América Latina e uma das maiores do mundo, pode parar.

A história de uma grande indústria

 12-03-2010

 A Porcelana Schmidt, a maior fabrica de louças e porcelanas da América Latina e uma das maiores do mundo, pode parar. A empresa detém 50% do mercado brasileiro de porcelana fina de mesa e exporta para quase todo o mundo, principalmente para Estados Unidos, Argentina, Itália e Inglaterra. Em processo de Recuperação Fiscal, desde outubro de 2008, a Schmidt atravessa momentos de dificuldades para manter seus compromissos.
     Com os salários de fevereiro atrasados, a Schmidt vive uma greve de funcionários na unidade de Campo Largo e está negociando com os funcionários das unidades de São Paulo e Pomerode, Santa Catarina.         Em Campo Largo a situação é particularmente delicada, uma vez que fica na unidade o chamado "coração" da indústria, um forno para queima da porcelana, o maior do mundo, com 134 metros, que não pode ser desligado, sob pena de "implosão". Se o forno "morrer", morrerá também a empresa e ficarão desempregados 1.500 funcionários.
     A empresa - A História da Porcelanas Schmidt tem dois momentos em sua fundação, uma em 1943, em São Paulo, quando um grupo de empresários fundou a Porcelana Real, na cidade de Mauá. Dois anos depois, em 1945, a família Schmidt fundou, em Pomerode, Santa Catarina, a Porcelanas Schmidt. Três anos depois, em 1948, a família Schmidt adquiriu o controle da Porcelana Real, ficando as duas empresas sob a mesma direção.
     Mas foi somente em 1956, que a empresa deu o grande salto que a colocou entre as maiores fabricantes de louça e porcelana do Brasil. Foi nesse ano que as empresas da família Schmidt assumiram o controle da Cerâmica Brasileira, em Campo Largo, a qual passou a denominar-se Porcelana Steatita. À frente estava o patriarca da família, Fritz Herving Schmidt. Em 1972, os controladores das empresas resolveram efetuar a fusão do grupo, que passou a denominar-se Porcelana Schmidt S/A.
     Em 1973, a Diretoria da Schmidt resolveu construir, na unidade de Campo Largo, o maior forno de porcelana do mundo. Medindo 134 metros de comprimento, em túnel contínuo, o gigantesco forno teve sua construção concluída três anos depois, em 1976, quando foi aceso e nunca mais foi desligado. Ele não pode ser apagado, sob pena de se auto-destruir. Sua temperatura, que pode chegar a cerca de 1.800 graus, é mantida em 1.350 graus, em média, e não pode sofrer resfriamento a menos de 1.100 graus.
     Greve - A globalização e a oferta de produtos chineses de qualidade inferior aos produzidos no Brasil, e a preços infinitamente menores, foi um duro golpe para a indústria brasileira de porcelanas. Mas a qualidade ímpar dos nossos produtos, manteve a Schmidt e outras indústrias do ramo, apesar das dificuldades, competindo no mercado. Em 2008 a Schmidt entrou em um processo de recuperação fiscal e vem, desde àquela época, mantendo a produção, as exportações e o abastecimento do mercado interno. Nas suas três unidades, a empresa mantém cerca de 1.500 funcionários. Na unidade de Campo Largo, são cerca de 500 funcionários, que produzem 945 mil peças por mês, com uma Folha de Pagamentos perto de R$ 400.000,00.
     Praticamente toda a produção da unidade de Campo Largo é transportada para a cidade de Mauá, em São Paulo, onde as peças são decoradas e sofrem a última queima. De lá a produção é direcionada ao mercado interno ou exportada. A unidade de Campo Largo também finaliza os produtos e os coloca no mercado interno e exporta diretamente. Um grande pedido está pronto para ser embarcado para o Uruguai, mas a mercadoria está parada no galpão de expedição, porque a grave impediu o embarque.
     Paralisação - A equipe da Folha de Campo Largo entrevistou, na manhã de quarta-feira (10), o diretor técnico da indústria, Martin Schmidt, e os gerentes Roberto Lang, de Produção; Martin Alfredo Schmidt, gerente de Queima e Hanrry Schmidt, gerente de Manutenção. Eles falaram sobre a história da empresa, o momento difícil que ela atravessa e o temor de ter que fechar as portas, nesta sexta-feira.
     O perigo maior, segundo eles, é a "morte" do forno gigante, que eles consideram o "coração" da empresa.        Um acordo dos funcionários, através do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Louças e Porcelana, previa o pagamento dos salários impreterivelmente até o dia cinco do mês subseqüente, sob pena de paralisação. Como o dinheiro não estava depositado nas contas dos funcionários, na última sexta-feira, os funcionários pararam.
     Possível fechamento - Segundo informações da equipe de diretores da Schmidt, em Campo Largo o pagamento dos funcionários estará nas contas, nesta sexta-feira, mas a unidade industrial vai continuar parada, mesmo que os trabalhadores decidam encerrar a greve. Nesse final de semana a Diretoria estará reunida em Mauá, São Paulo, discutindo a viabilidade de manter em funcionamento a unidade industrial de Campo Largo. Pode ser, este, o fim de uma das maiores indústrias cerâmicas de Campo Largo.