04/11/2011
Assim como o coração, o fígado é um dos órgãos do corpo humano que mais sofre as consequências da crescente onda de aumento do peso corporal das pessoas. Isso porque, normalmente, o fígado já trabalha na metabolização das gorduras e funciona como órgão de estoque delas, deixando nosso metabolismo equilibrado. É ele que processa as reservas de ferro, vitaminas e sais minerais do corpo; desintoxica as substâncias químicas, drogas e bebidas alcoólicas e converte alimento em energia armazenada.
Como é a maior glândula do organismo, o fígado também atua como filtro, convertendo as substâncias que podem ser aproveitadas ou não pelo corpo. Além disso, produz a bile, líquido importante da função digestiva, que quebra as gorduras absorvidas pelo organismo em pequenos fragmentos para sua melhor absorção. Num corpo com excesso de peso, o acúmulo de gordura no fígado leva a alterações tóxicas no órgão, que estimula um processo inflamatório e de destruição celular, que pode culminar com a falência hepática.
“O sobrepeso, registrado em 60% da população brasileira, é decorrente de maus hábitos alimentares, como o excesso do consumo de gorduras, carboidratos e doces. Esses tipos de alimentos, em grande quantidade, prejudicam diretamente o fígado, que ao acumular gordura, provoca uma falta de oxigenação das suas células, iniciando um processo de morte celular e inflamação”, revela Mário Guimarães Pessôa, hepatologista do Núcleo de Fígado do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia.
Quando a situação persiste por muito tempo, o órgão fica desgastado e daí surge a primeira fase da doença hepática, denominada esteatose, mais conhecida como gordura no fígado. “O tratamento mais eficaz é a mudança dos hábitos, tanto alimentar quanto à atividade física. A ingestão de uma alimentação saudável e em quantidade suficiente para repor o que gastamos diariamente de nutrientes, aliada a prática regular de exercícios são extremamente benéficos no combate a enfermidade”, orienta o especialista.
Mas, como as doenças hepáticas são silenciosas, como é possível identificar que se é portador da doença? “O fígado não tem nervo em seu interior, por isso não dói. Por conta disso, a esteatose somente é identificada por meio de exames laboratoriais específicos, como os check-ups periódicos com medição das enzimas do fígado. Esse exame também é solicitado, por exemplo, para potenciais doadores de sangue. A ultrassonografia do fígado é outro procedimento que pode revelar gordura acumulada no órgão. Então fica o alerta: quando houver aumento acentuado da circunferência abdominal, principalmente em pessoas sedentárias, é recomendável procurar um médico”, aconselha o hepatologista.
As pessoas mais propensas à gordura no fígado são as que sofrem de obesidade central, que é o acúmulo de gordura intra-abdominal, ou seja, aquela estacionada no interior do abdômen. Ainda segundo o Dr. Mario Guimarães Pessoa, o mais grave é que boa parte dos pacientes não segue as recomendações médicas ou abandona o tratamento no meio do caminho. “Se não tratada adequadamente, a doença, ao invés de regredir, pode evoluir para um quadro mais sério, como uma hepatite gordurosa, cirrose ou mesmo a necessidade de um transplante hepático”, alerta.