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Obesidade infantil aponta dados preocupantes e alimentação correta deve começar em casa

“Nutricionista orienta que a educação alimentar pode prevenir obesidade na fase adulta. "Educação nu­tricional vem de casa, ou seja, se a família tem hábitos saudá­veis como realiza

Obesidade infantil aponta dados preocupantes e alimentação correta deve começar em casa

Os números sobre a obesidade infan­til vêm se tornando a cada ano mais preocupante. Se­gundo dados divulgados no ano passado pelo Núcleo de Obesi­dade e Transtornos Alimentares do Hospital Sírio Libanês mos­trou que a obesidade aumentou 60% no país nos últimos 10 anos e em 2030, países como o Brasil, a China e a Índia podem chegar aos números próximos da obe­sidade infantil que acomete os Estados Unidos hoje, quadripli­cando o número que existe hoje no país. A estimativa da Organi­zação Mundial da Saúde (OMS) é que em 2025, pelo menos 11,3 milhões de crianças estarão com excesso de peso.

A Folha de Campo Largo con­versou com a nutricionista, es­pecialista em Nutrição Clínica Funcional, Anelise Ribas, que ex­plicou as diferenças entre a obesi­dade na infância e na fase adulta. “Desde 2009 a Coordenação Ge­ral da Política de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saú­de do Brasil adota as curvas de­senvolvidas pela OMS em 2007, que incluem curvas de IMC des­de o lactente até os 19 anos de idade e consideram os pontos de corte para sobrepeso e obe­sidade os percentis 85 e 97, res­pectivamente. Tais curvas são fundamentais tanto para o diag­nóstico quanto para a avaliação da evolução do paciente durante o tratamento. Quando o excesso de peso se desenvolve na infân­cia tende a persistir na vida adulta expondo precocemente a proble­mas de saúde relacionados ao ex­cesso de peso. Sem contar que nas crianças pode causar tam­bém baixa autoestima, timidez, anemia.”

                       

Não há desculpas para que essa condição atinja os pequenos e os principais culpados ainda são os pais. “Sempre gosto de deixar claro que a maior responsabilida­de é dos pais. Colocar a culpa nos avós, cuidadores ou na escola não resolve o problema. Educação nu­tricional vem de casa, ou seja, se a família tem hábitos saudá­veis como realizar as refeições a mesa, consumir frutas e verduras, ter o hábito de consumir alimen­tos integrais, não oferecer doces, refrigerantes e salgadinhos, com certeza será uma criança mais saudável e com um risco menor de ser obesa e ter outras doenças futuramente”, ressalta.

Segundo Anelise, é possível reeducar paladar das crianças, mas para isso é importante que os pais não sejam radicais. Ela orienta a introduzir os bons hábi­tos aos poucos, como trocando o pão branco por opções integrais e bolos açucarados por opções mais saudáveis, como bolo de ba­nana com aveia, por exemplo.

“Alimentos com muito açúcar, muito processados são aqueles que não trazem nutrientes algum, apenas muitas calorias vazias, que além de fazer as crianças engordarem, podem levar a di­versas patologias, tanto na infân­cia, na adolescência ou na fase adulta, por exemplo a pressão alta, triglicérides e colesterol al­tos, resistência insulínica, glice­mia alta, esses fatores podemos chamar de Síndrome Metabóli­ca que está diretamente relacio­nada à obesidade e problemas cardíacos. Além disso, o consu­mo exagerado desses alimentos pode levar a anemia e alguns es­tudos apontam até mesmo o cân­cer”, alerta.

De acordo com Anelise, a consciência de uma educação ali­mentar saudável para as crian­ças deve estar inserida mesmo nos planos de gravidez do casal. “O casal deve ter consciência que antes de engravidar é importante a mulher ter óvulo saudável assim como o homem espermatozoides saudáveis, para isso é importan­te que os mesmos tenham uma alimentação equilibrada, rica em carboidratos complexos, gorduras boas, proteínas, vitaminas e sais minerais, cheia de antioxidantes e fitoquímicos, além de realizarem atividade física. Mas não basta só isso, estamos expostos a vários agentes externos que podem mo­dificar nossos genes e hormônios, por isso quanto menos alimentos industrializados, açúcar, frituras, menos contato com agrotóxicos e poluição, com certeza haverá uma gravidez saudável. Também é im­portante que a grávida continue se cuidando com a qualidade e quantidade dos alimentos, utiliza­ção de alguns suplementos como ômega 3 e ácido fólico, além de ter uma microbiota intestinal sau­dável”, recomenda.

Exclusividade para
o leite materno

A OMS recomenda que as mães amamentem seus filhos exclusivamente com o leite ma­terno até os seis meses, mas mantenha até os 2 anos, tam­bém como método de prevenir a obesidade infantil. “Essa ama­mentação deve acontecer sem in­trodução de água, chás ou sucos e após seis meses completos o aleitamento materno e alimenta­ção complementar que deve ser acompanhado por nutricionista e pediatra. Cada mês de amamen­tação materna está associado à redução de 4% no risco de desen­volver excesso de peso. Segundo a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, alguns estudos apontam que amamentar o bebê por mais tempo tem efeito protetor contra a obesidade infantil. A amamenta­ção tem a composição nutricional adequada ao bebê, pois, durante a mamada quem controla a quan­tidade é a criança, sendo assim, desenvolve um melhor autocon­trole no consumo de alimentos fu­turamente”, diz.

Entretanto, há mulheres que não conseguem amamentar suas crianças e precisam usar as fór­mulas disponíveis no mercado e também devem estar atentas. “Não deve de forma alguma ofe­recer leite de vaca de caixinha. Existem muitas fórmulas no mer­cado, mas as que diminuem o ris­co de alergias ou intolerância são as hidrolisadas ou parcialmen­te hidrolisadas e enriquecidas com vitaminas e minerais, sen­do que cada fórmula é para cada faixa etária do bebê. As fórmulas infantis se forem utilizadas na for­ma correta com orientação de nu­tricionista e o pediatra não levará o bebê a ficar com sobrepeso”, completa.

A influência da genética

Muitas pessoas acabam colo­cando a culpa somente na “gené­tica” da família para a obesidade. “Estudos apontam que crianças que tenham pais, avós, tios obe­sos, têm grandes chances tam­bém de se tornarem crianças com sobrepeso. Mas claro que só a genética não deve ser leva­da em consideração, até porque se a criança for estimulada a pra­ticar atividade física, consumir ali­mentos saudáveis e ter acesso à educação nutricional seja na es­cola ou com nutricionista, esse fa­tor pode diminuir muito o risco de sobrepeso”, explica.

O peso da criança na infância pode inclusive definir a sua tendên­cia no futuro. “Se a criança é obesa aos 6 anos de idade, ela apresen­ta 50% de chance de se tornar um adulto obeso. Já na adolescência, a chance é de 70 a 80%. Se em toda a infância e adolescência não hou­ve mudança no comportamento ali­mentar com certeza se estenderá a vida adulta. É importante salien­tar que isso está diretamente rela­cionado à vida familiar da criança. Ela só come o que lhe oferecem, se no âmbito familiar é comum uma alimentação rica em gorduras ruins, açúcar, refrigerantes, exces­so de carboidratos refinados, ela acostumará o seu paladar com es­ses alimentos”, finaliza.