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Opinião

O mundo do futebol e a realidade dos trabalhadores

O mundo do futebol e a realidade dos trabalhadores

Não é novidade que o astro português Cris­tiano Ronaldo, o CR7, foi contratado pela Juventus de Turim, da Itália. A transação não chama atenção só pelo valor, que custou aos cofres da ‘Vec­chia Signora’ aproximadamen­te 105 milhões de euros, mostra também que uma das maiores montadoras do mundo trata seus funcionários de forma completa­mente desigual. Entenda...

A Juventus e a FCA Fiat­-Chrysler estão ligadas por um contrato de patrocínio que gira em torno de 26,5 milhões de euros por ano. Esse é o valor para estampar a marca ‘Jeep’ na camisa da ‘Vecchia Signora’. Além disso, as duas empresas têm a mesma acionista majori­tária, a família Agnelli. E como consequência das ‘prioridades’ da ‘famiglia’, os trabalhadores da montadora, que estão dez anos sem receber aumento real, anunciaram possível greve entre os dias 15 e 17 de julho. As infor­mações circularam por diversos veículos de comunicação pelo mundo, inclusive em portais na­cionais como UOL, ESPN, MSN e Globo.

Também a Unione Sindaca­le di Base (USB), entidade que representa os operários da mon­tadora, emitiu um comunicado sobre a questão e sinalizou gre­ve na planta da Fiat na cidade de Pomigliano d'Arco. O motivo: a proprietária e principal patroci­nadora do time de Turim investir milhões de euros na contratação do CR7: “não é aceitável que os trabalhadores continuem a fazer enormes sacrifícios econômicos, enquanto a companhia gasta mi­lhões de euros com um joga­dor. Eles dizem às famílias para apertarem cada vez mais o cin­to e eles decidem investir tanto dinheiro em um jogador. Acham isso justo?”.

Certa vez o técnico vice­-campeão mundial pela seleção italiana, na Copa de 94, Arri­go Sacchi, disse: “il calcio è la cosa più importante delle cose non importante”, ou “futebol é a coisa mais importante dentre as coisas menos importantes”. Em setembro de 2007, o jornal New York Times nomeou Sacchi o melhor treinador italiano de to­dos os tempos e 11º do mundo. Mas, ao se deparar com as cifras que giram em torno do mundo do futebol, além das discussões ge­radas pelo mesmo, será que a leitura do técnico italiano se faz mesmo verdadeira atualmente?

O Neymar, por exemplo, re­cebe em média 12 milhões de reais por mês jogando em Paris. Já o trabalhador brasileiro pre­cisa economizar todo dia para conseguir jogar um futebol se­manal; e olhe lá! Indo além, em Campo Largo, os trabalhadores da planta da Fiat têm perda sa­larial desde 2016 e nesses últi­mos três anos o prejuízo foi de 4,93% (cálculo baseado na cor­reção da inflação). E se você acha que isso é ruim, “nada é tão ruim que não possa piorar”: a participação nos lucros e resul­tados dos empregados da mon­tadora italiana (PLR mais abono salarial) caiu aproximadamen­te 40%, segundo cálculo do Sin­dimovec: foi de 8 mil reis (2013) para R$4.798,20 (2018).

Negociação Coletiva

de 2018

A Fiat, em Campo Largo, nesta negociação coletiva de 2018, criou uma Comissão de Fábrica para tratar dos assuntos dos trabalhadores sem a interme­diação do Sindimovec, entidade que representa os metalúrgicos da cidade. Além dela, o Sindica­to negocia com a Caterpillar e a Metalsa. No comparativo en­tra as empresas, os números da multinacional italiana são piores: Fiat => (Reajuste 1,81% limita­do a R$ 6.431,00; V.A (Vale Ali­mentação): R$ 278,40 e PLR: R$ 4.798,20) / Metalsa => (Reajuste 2,81%; V.A: R$380,00 e PLR: R$ 9.327,00) e Caterpillar => (Re­ajuste 2,31%; V.A: R$ 370,00 e PLR: R$ 8.800,00).

Outra prática comum da Fiat é dificultar a organização sindi­cal. Tanto é que o Sindimovec denunciou a empresa em Au­diência Pública (20 de junho) promovida pelo Ministério Pú­blico do Trabalho, em Curitiba. Na oportunidade, o presiden­te da entidade de classe, Adria­no Carlesso, explicou que os atos antissindicais começaram em 2011, quando a montadora demitiu funcionários em repre­sália a uma campanha de filia­ção: “saímos de 22 filiados para mais de 45% da planta de Cam­po Largo, que tinha 450 trabalha­dores. Como reação, a empresa demitiu um terço da fábrica para acabar com os funcionários sin­dicalizados, e nós voltamos a ter 22 trabalhadores filiados”.

Para o Sindimovec, a ver­dade é que os trabalhadores do Brasil e a da Itália amam futebol, muitas vezes até esquecem de todo o resto, inclusive dos sin­dicatos. Em Campo Largo, por exemplo, é comum o emprega­do, após colocar a entidade para escanteio durante todo o tempo, buscar o Sindicato, normalmente aos 45 minutos do segundo tem­po, em total desespero.

Por fim, a sociedade vê nas grandes empresas os ‘exemplos de gestão’, mas o que se vê na prática é que gigantes como a Fiat querem mesmo é status e futebol, ou pão e circo, como preferir. A certeza é que o CR7 não precisa de sindicato e não vai ser demitido caso reivindique, como se precisasse, seu aumento real. Já você, trabalhador...