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Opinião

Confiar desconfiando adianta?

Confiar desconfiando adianta?
E o cenário político do Brasil volta a estremecer de forma intensa, após as últimas conversas que foram publicadas pelo site The Intercept Brasil, na qual envolviam nomes como Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As conversas mostravam uma suposta interação entre o juiz e o procurador, algo que é proibido em Lei. Como elas foram conseguidas? Hackeando celulares das autoridades. As conversas foram recebidas de uma fonte que não pode ter seu nome revelado por segurança, mas acabam levantando inúmeras questões, tanto do lado do julgamento e dessa suposta interação entre o magistrado e o Ministério Público, bem como os níveis de Segurança Nacional.
Ao mesmo tempo que o Brasil é um dos países que mais se preocupa com a segurança na internet, também é um dos que mais sofre ataques digitais. Como garantir que 116 milhões de pessoas - estimativa de pessoas que estão conectadas à internet no país, segundo dados do IBGE - possam também se sentir seguras ao acessar seus dispositivos digitais - computadores, smartphones e tablets? É uma questão, que como tantas outras, precisamos amadurecer.
Obviamente, o celular de uma autoridade pode parecer muito mais interessante aos olhos dos hackers, se comparado aos dispositivos de cidadãos ‘comuns’, porém, todos estão suscetíveis da mesma forma. Arquivos comprometedores podem acabar com a reputação de muitas pessoas e, por isso, a segurança é tão importante.
Ficaram expostos nomes de pessoas que eram mantidos em sigilo, por suas funções estarem ligadas a investigações consideradas confidenciais e perigosas, que agora podem estar em poder de quaisquer pessoas. O que se espera é que não tenham informações e arquivos sobre a Segurança Nacional, que possam comprometer o bem-estar do país todo. Somente com a perícia, que está sendo realizada pela Polícia Federal, poderá saber quais arquivos do celular foram copiados pelo invasor.
Outro ponto a ser levantado aqui é o quão longe se pode ir para obter uma informação privilegiada. Quando a conquista dessa informação tange ao direito à privacidade, pode ser considerada um benefício ou um exagero? Tudo depende do ponto de vista de quem analisa. Em 2016, muitas pessoas comemoraram, enquanto outras julgaram a divulgação de conversas particulares entre a então presidente Dilma e o ex-presidente Lula. Está certo que o ‘Tchau, querida’ estava em outro contexto, por outro motivo, mas isso acaba sempre contribuindo para que a imagem de alguém seja prejudicada frente a milhões de pessoas.
Entre essas diversas possíveis análises, não podemos deixar de fora também a confiabilidade que temos no Poder Judiciário. Uma pesquisa, feita no ano passado, mostrou que apenas 29% dos brasileiros confiam na Justiça Brasileira. Quando se tem três poderes envolvidos em escândalos tão intensos quanto os que nós vemos todos os dias, nos resta perguntar: quem afinal poderá nos defender?