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Paraná vê divórcios crescerem 12,2% durante a pandemia

Psicóloga fala sobre a importância de um relacionamento sólido e de uma rede de apoio para ambos em caso de separação

Paraná vê divórcios crescerem 12,2% durante a pandemia

Entre os meses de maio e junho deste ano os paranaenses se divorciaram 12,2% mais em comparação com o ano passado. O levantamento foi feito pelo Colégio Notarial do Brasil - Seção Paraná (CNB/PR) que explicou o crescimento de divórcios consensuais com a autorização nacional para que os atos notariais de escrituras - divórcios, inventários, partilhas, compra e venda, doação - e procurações possam ser feitos de forma remota, por videoconferência por meio da plataforma única e-Notariado, conforme informou a assessoria.

Ainda, conforme nota da assessoria, os atos de divórcios consensuais e que não envolvam menores, passaram a ser resolvidos de forma prática e rápida, sem a necessidade de deslocamentos ou encontros entre as partes, que podem praticar o ato em ambientes separados, ao mesmo tempo ou em momentos distintos, utilizando inclusive o aparelho celular.

Porém, o fato é que nenhum casal se une para passar por um momento tão delicado quanto o divórcio. Por isso, é bastante importante estar preparado para os desafios do casamento e como administrá-los, para evitar que o relacionamento chegue a um ponto final. “Quando alguém opta por viver em grupo, como é o caso dos casais, existem algumas áreas de conflito, como gerenciamento financeiro, relacionamento sexual, estabelecimento de limites, tempo juntos, vivência da afetividade, interferências externas, educação de filhos, infidelidade e vícios.

O primeiro passo para lidar de forma mais funcional com os conflitos é entender que eles são influenciados por essas diferenças, bem como pela forma como isso atinge cada uma das partes”, explica a psicóloga Fátima Raquel Szinwelski de Oliveira (CRP 08/17018), especialista em Psicologia Clínica e mestre em Psicologia.

A psicóloga explica, ainda, que durante um conflito cada uma das partes precisa aprender a controlar a tendência de acusar o outro de ser responsável pelo seu próprio sofrimento e perceber que é parcialmente colaborador do problema. “Isso significa abandonar uma postura defensiva diante de alguma acusação do outro, abrindo-se para uma conexão empática com o parceiro. Por fim, é preciso que o casal se una para resolver o problema, olhando para ele como um espectador e não como participante”, orienta.

Há dificuldade em lidar com os conflitos próprios das relações interpessoais, o convívio mais intenso como durante a pandemia, por exemplo, que mostra ainda mais essa realidade. De acordo com Fátima, um dos problemas mais comuns está na comunicação frágil, sendo raro encontrar uma escuta ativa, preocupada em entender o sofrimento ou incômodo do outro. Geralmente, a posição defensiva e acusatória não abre espaço para a negociação e tudo fica muito difícil de resolver.

Quando colocar um ponto final na relação Superando o divórcio?
Esse é um dos momentos mais desafiadores da relação e, como pondera Fátima, é bastante particular, variando de acordo com o nível de tolerância de cada um. “Em geral, quando uma das partes percebe que está flexibilizando valores fundamentais mais do que gostaria ou do que é saudável para si mesma, ela pode constatar que o fim é uma decisão im­portante. Caso a pessoa se sinta desrespeitada nos seus direitos básicos, humilhada, diminuída, criticada, responsabilizada por to­dos os problemas, controlada em todos os passos e/ou desconec­tada de uma vida social por exigência do outro, a relação pode ser destrutiva e deve ser revista ou finalizada. Relacionamentos não devem ser tão difíceis assim”, pontua.

A profissional explica que, mesmo que esse seja um proces­so acordado entre as partes, ele não transcorrerá sem dor ou sem o sentimento de luto, que deve ser vivido e superado, e que pode se mostrar em momentos e maneiras diferentes para cada um dos parceiros. Já a amizade com o/a ex envolve o perdão e deixar os ressentimentos de lado, além de estabelecimento de uma relação com limites claros. Segundo Fátima, se houver recaídas, sem o li­mite imposto e respeitado, com confusão de emoções e sentimen­tos, o final pode ser ainda mais demorado e doloroso.

Superando o divórcio
Independente se o relacionamento acabou de maneira saudável ou conturbada, é importante que ambas as partes tenham uma rede de apoio, composta de familiares e amigos, válido para homens e mulheres. “Sentir é humano e independe do gênero. A superação geralmente fica menos difícil quando damos espaço para sentir as emoções e os sentimentos que vêm com o término, como a tristeza, raiva, decepção, amargura. Uma rede de apoio ou estratégias de desabafo podem ajudar. Praticar o autocuidado, cuidando da saúde, da aparência e do lado emocional podem promover a melhora da autoestima e o reconhecimento do próprio valor, que muitas vezes fica perdido diante do fim de uma relação”, recomenda.

Casos que envolvem relacionamentos abusivos podem ser mais complicados, pois causaram um prejuízo psicológico à vítima. Assim, conforme diz Fátima, uma rede de apoio e terapia são fundamentais, especialmente para auxiliar na passagem de posição de vítima para sobrevivente, lidar com o abusador após o fim do relacionamento, desenvolver repertório para não se envolver em novas relações do mesmo tipo e promover autoestima.

“Recomendo a leitura do livro ‘Diferenças reconciliáveis: reconstruindo seu relacionamento ao redescobrir o parceiro que você ama, sem se perder’, de Andrew Christensen, Brian Doss e Neil Jacobson, para interessados em dar uma nova chance ao seu relacionamento. Caso o divórcio tenha acontecido e seja necessário um apoio para retomar a vida, pode ser útil a leitura do livro ‘Mais forte do que nunca’, de Brené Brown”, finaliza.